quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Então é Natal...

Noite do dia 24, e aqueles fogos que eu adoro (só que não), não deixavam o Arrozinho nanar. Ele e nosso cachorro, ficaram ensandecidos com o barulho, enquanto eu preparava a comida e as coisas para o dia de Natal. Filhote e eu, iríamos passar o dia com o papai!
Acordei às cinco da manhã, peguei a comida na geladeira, arrumei as mamadeiras do gordinho, fiz o básico que todas as esposas fazem antes de irem para o presídio, arrumar sacola, revisar itens, etc; fomos pra rua. Pegamos o ônibus aqui em Gravataí, quase seis da manhã, chegamos em Porto Alegre por volta das sete horas.
Acontece que era Natal, dia 25 de Dezembro. A Capital estava vazia, ou dormia apenas. Pêssoas bêbadas, banda de pagode ao lado do Mercado Público, trabalhadores; enfim, caminhei um pouco com o Arrozinho dormindo e resolvi subir a Rua Marechal Floriano Peixoto, esta tinha alguns transeuntes e, iria pegar o ônibus Alameda, na Av. Sen, Salgado Filho, que para em frente ao PCPA.
Quando estava passando a entrada da Loja Marisa, que tem na Marechal, um rapaz me aborda e anuncia o assalto, empunhando uma faca em direção ao gordinho. Comecei bem de Natal, né não?! Nessas horas, se pensa no que mesmo?... Em nada. Mentira! Pensei em tudo o que se possa imaginar. Nas outras vezes em que fui assaltada (sim, houveram outras vezes), reagi, corri, gritei, assumi os riscos. A última vez, estava grávida do Arrozinho e, deixaram na portaria do prédio onde morava, minha bolsa, com maquiagens, documentos e a carteirinha de acesso ao Presídio Central; levaram apenas dinheiro e celular, não pouparam nem as moedinhas de cents de dólar, que eram lembranças de minha mãe.
Dessa vez, não poderia nem gemer, porque estava com meu filho. Descobri naquele instante, que ser mãe é pensar mais no pequeno ser, do que em nossos caprichos. Pude provar que reagi como uma mãe mesmo. Mas, confesso que pensei que meu coração iria parar. Não estava preocupada com o dinheiro, com o celular, nem nada do tipo. Pensava assim: Se ele leva minha bolsa e o gordinho sente fome? Sei lá, passou tanta coisa em minha mente. Só lembrei de balbuciar que estava levando o bebê para ver o pai no Presídio.
Em cheio! Ele só levou minha niqueleira, onde guardo meus "milhões", pois não carrego mais carteira e aquele bando de documentos. Tá certo que, para os dias de hoje e a minha atual situação, a quantia que ele levou era razoável. Mas, fazer o quê?!
Parei um pouco, no meio da rua mesmo. Não chorei e, ainda não o fiz; está entalado o choro, assim como o grito que quis dar. Mas, Deus não me deixou na mão... teve passe-livre em Porto Alegre! Logo que cheguei em frente ao Presídio e comentei com a moça da mercearia onde deixo minha bolsa, ela me emprestou o dinheiro para voltar pra casa, (pra POA não precisava, mas pra Gravataí sim!), e para comprar algumas coisas que faltavam. Também, pudera... Há dois anos que deixo meus pertences sob a guarda dela!
Chegando na Galeria E1, amorzão percebeu que eu estava estranha. Contar pra que? Pra ele ficar nervoso, pra ele se culpar, pra ele saber tudo o que acontece? Não preciso de choradeira, nem de nervosismo, muito menos de babá. Deixei o dia limpo, claro e feliz, como tinha que ser. Arrozinho dormiu grudadinho no papai, quase a manhã toda. Almoçamos juntos, em família. Fomos presenteados!
A amiga Ariane Costa Leite, estudante de Direito da UniRitter, estagiária no Conselho Penitenciário, teve a iniciativa de arrecadar doações de brinquedos, livros, etc., para que fossem entregues aos filhos dos apenados da Galeria E1. Através da Carmela Grüne, idealizadora do Projeto Direito no Cárcere, desenvolvido na E1, as doações foram entregues e, os reeducandos puderam presentear seus filhos com brinquedos, bolas, enfim, alegraram e alegraram-se. Era lindo de ver. Segue foto de um dos presentes que o Arrozinho ganhou do papai. Tem uma bola também, mas anda pela casa. Consegui "salvar" o aviãozinho!


Nenhum assunto foi sobre demora do judiciário, recesso, estresse, coisas ruins. Conversamos apenas, sobre a importância que terá nossa união, para o nosso filhote; planos para futuros empreendimentos, alguma coisa que possa ajudar outros egressos e, até mesmo suas famílias, uma cooperativa, talvez?!; alguns pingos nos i's e, felicidade. Não saí de lá com peso nas costas, nem tristeza no olhar. Ele sabe que está acabando o período difícil e uma era de alegrias e liberdade está cada vez mais próxima; sabe também, que faço tudo o que está ao meu alcance e, se não alcanço, dou um pulinho e pronto!, tudo resolvido.
Depois de passar nos computadores e dar saída no sistema da SUSEPE, outro presente! Como havia comentado outrora aqui no Blog, no post Amenizando o Sofrimento (http://www.amornocarcere.blogspot.com.br/2012/10/amenizando-o-sofrimento.html), a Brigada Militar, através de seu efetivo no PCPA, distribui mimos para os filhos dos presos. Pensei em não pegar nada para o Arrozinho, visto que ele já havia recebido presentes "do papai". Larguei minha ficha de saída no balcão e, ao virar de costas, uma Soldada da BM gritou: "Moça!, tem um presentinho pro bebê!" - era um ouriço laranja, de borracha, daqueles que têm apito e é bem gostoso de morder...






Óbvio que papai perdeu o prestígio! - risos. Este, é colorido, macio, e faz barulho!! (Papai nunca poderá ler este trecho do Blog...) Além dos brinquedinhos, as crianças recebiam iogurte e um baita sorriso, daquelas que poderiam não ter noção, do tamanho do bem que estavam fazendo.
Confesso aos amigos que, não presenteei o Arrozinho. Comprei apenas uma roupinha, para que ele possa passar o Ano Novo, bem bonito ao lado do papai e, quem me pergunta o que dar à ele, a resposta está na ponta da língua: Fraldas! - risos. Mas, ele ter sido presenteado lá, não tem preço.
No mais, adoráveis pessoas que lêem o Blog, estamos vivos e resistimos a mais um "episódio da vida real". Só tenho a agradecer, e parece que estou sendo chata, sei que estou, por ficar agradecendo... Mas, é assim! Obrigada à Carmela, à Ariane, aos demais que fizeram suas doações e eu não sei quem são. Obrigada a BM, em especial, Adriane, Sandra, Ivanilde, Guerra, Neves, Franciele, e tantas outras super queridas, que não lembro o nome. "Obrigadão" ao pessoal do Face, que me aguentam dia e noite, vibram, choram e riem comigo; aos Juízes Mauro Caum e Sidinei Brzuska, aos tantos advogados e professores que me guiam, aconselham e aturam!
O Natal já passou, mas, desejo a todos vocês, um próspero Ano Novo, repleto de alegrias, conquistas, lutas, realizações. Não esqueçam de fazerem  muito amor, porque move o relógio do mundo e, de darem muitos beijos e abraços em quem se ama!





A propósito, está na cabeça do meliante, a bola que papai deu a ele. Murcha, mas tá valendo a foto! ;)


domingo, 16 de dezembro de 2012

E hoje, descobri que sou...

Sou a 1ª mulher a pisar na lua - dos meus sonhos

Sou a única Juíza existente - na minha Comarca

Sou a primeira e única cria - da minha espécie

Sou a Presidenta - do País das Maravilhas
 
 Sou o Habeas Corpus - da tua esperança
 
Sou uma Maria - dentre tantas

Sou o direito - de um humano

Sou a advogada - do meu réu

Sou o réu - no teu processo

Sou o amor - da vida 'dele'
 
Sou a mãe - do Arrozinho


Sou a liberdade - do nosso amor
 
Tantas e tantas coisas passamos dentro do Presídio Central. Discutimos, choramos, abraçamos, amamos, concebemos, sorrimos, cantamos, dormimos, gritamos, e não esqueço de um segundo, de um mínimo detalhe. Creio que jamais esquecerás também; sei que foi muito mais intenso amor, sei que a tua estadia foi mais dura. Porque, aos olhos dos comentadores da vida alheia, ficar aí é moleza, "só esperando pela íntima". Mas, sabemos que não é assim. A ansiedade toma conta, eu sei; porque eu, do lado de fora, quase perdia o coração. Imagino tu.
Por falar em imaginar... Já imaginastes como estão as coisas aqui fora?  Nossa... muita coisa mudou. Ruas trocaram sentidos, erguem prédios 'estilo pombal' a cada novo dia, reciclar está na moda, mas me parece que as ruas andam mais poluídas que nunca. Não, não... pode ser só impressão minha. Confundo poluição com mentes poluídas, preconceituosas. 
E, é disso que tenho medo. Dessa tua liberdade que está chegando e, das coisas que vêm acompanhando ela. O preconceito, os olhares desaprovadores, os famosos tapinhas nas costas e os falsos sorrisos. Sei que não dá bola pra isso, mas magoa, machuca e derruba. 
Vou fazer o máximo esforço possível para que não penses em drogas, nem em drogas de pessoas. Porquê, para nos erguer, são poucos. Para detonar , são muitos. Um exército, uma sociedade inteira. 
Quero continuar sendo teu ponto de apoio, por todos os anos que nos restarem. Sem esquecer de sermos felizes com nosso filhote; aliás, ele já nos trouxe tanta alegria em tão pouco, que não seria justo não vivermos felizes ao lado dele.
Tenho medo do que está por vir, de não conseguir. Mas, já tive medo antes e, olha aí, né?! Tudo se encaminhando... Vamos para qual destino? Norte, Sul, Leste, Oeste? Pensando bem, pouco interessa, porque eu só sei que "por onde for, quero ser seu par"! 

 
Obrigada pelo dia de hoje. Fostes para o Arrozinho, o pai que, com certeza, Deus quer que tu seja sempre; me fizestes feliz como nunca. Nos espere para o Natal, amor. Esperamos que seja a última visita ao PCPA.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Time after Time

Vi no perfil do Facebook de um advogado, uma imagem do humorista (?!) Danilo Gentili, com a seguinte citação do mesmo: "Se o Lula tiver envolvido no mensalão e for preso, não dou dois meses para surgir o Sindicato dos Presidiários do ABC, e de lá, surgir o novo Presidente." Noutro dia, li a seguinte frase: "Empresa de Segurança, contrata ex-presidiário para cargo de vigia noturno em condomínio de luxo, pode isso Arnaldo?!", seguida de diversos comentários debochados. Agora me respondam:
Qual é o problema de um ex-presidiário ser presidente, ser vigia, ser cidadão?
Em tempos virtuais, até entendo (mas, não compreendo!), que advogados e demais profissionais na área jurídica, compartilhem imagens e postagens que contenham algum tipo de preconceito, mas não acho aceitável. Hipocrisia. Defender e receber os honorários é bom, mas, ressocializar, estender a mão, não serve? Parte-se do princípio que, os apenados devem sair melhores, de dentro das casas prisionais. Sabemos que não é bem assim que funciona. Mas, o mínimo a se fazer é dar uma nova chance, acreditar.
Garanto que, se as famílias dos apenados fossem mais unidas, obviamente já teríamos associações, sindicatos, etc., e não somente as ONG's; porém, as pessoas, geralmente, querem colocar uma pedra em cima das lembranças que os remetem  a presídios e afins.
Mas, não se enganem comigo. Não irei abandonar a causa, ainda que as pessoas achem que nós devemos esquecer esse período de nossas vidas; Discordamos completamente, meu amor e eu. Tudo isso, faz parte de uma história, nossa história e a de vocês também, que lêem o Blog e me auxiliam tanto, mesmo que seja com palavras de incentivo.
Desse triste episódio, extraímos coisas boas, amigos! Tivemos um filho! O que pode ser maior que isso? Se souberem de algo que seja mais importante, nos avisem. Porque, com certeza, o Arrozinho saberá de suas origens, onde foi concebido e tudo o que lhe interessar. Não é vergonha pra ninguém ser fruto de um amor, onde quer que tenha sido desfrutado. Acho que esses dois anos de experiências e dessabores, podem ajudar muitas outras Marias a terem mais Esperanças e lutarem por uma sociedade mais justa e igualitária, seja para seus pais, filhos, esposos ou irmãos.
Nessa caminhada, ajudei muito, da maneira que podia e, fui muito ajudada. Tive vergonha e orgulho, tive tristezas, muitas. Mas, não é por isso que esse passado/presente, vai ficar guardado apenas em nossas lembranças. Como boa gaúcha e peleadora que sou, digo: Mas, beeeeem capaz!
Todos que precisarem do meu auxilio, terão em mim, a Maria Esperança de sempre. Incansavelmente batalhadora, amiga, instrutora, ouvinte. Amante do Direito. E a Caroline também estará por aqui... Mas, ela vai tratar de cuidar dos seus e zelar por sua família, para que não aconteça nada parecido novamente.

Repito: Podem contar comigo, Time after Time!!!


"If you're lost you can look
And you will find me, time after time
If you fall I will catch you
I'll be waiting, time after time"


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

"...Nada prende mais que um carinho..."

Quantas e quantas vezes, não quis pisar meus pés no Presídio Central. Batia a porta de casa as seis da manhã e me deslocava para lá, sempre pensando "porquê Deus deixa essas coisas acontecerem comigo?!", dentre tantos outros pensamentos, até mesmo suicídas, homicídas e tudo o mais que se possa imaginar.
Nos momentos de lucidez espiritual, pois sou adepta à doutrina espírita, entendia que tinha que passar por isso; mais uma aprovação, mais um desafio, uma G2 quem sabe?! Sim, porque, no mesmo ano, enterrar um filho, três meses depois o sogro e, o esposo ir preso, só se eu tivesse ficado em recuperação, em todas as matérias da vida.
Quantas e quantas vezes, eu pensei em desistir dele, mas nunca lá dentro. Porque desde que ele foi preso, senti pela primeira vez, que ele realmente precisava de mim, como amiga, como mãe, como mulher, como irmã. Porque, sou tudo isso pra ele. Repreendo quando necessário, aconselho, dou risada e amo. Amo muito. Amo tanto que ele chega a duvidar.
- Vem cá, hein?! - pergunto à ele, - Tu consegue ficar sem pensar em mim?
- Não, né... tu me incomoda até nos pensamentos. - responde ele sorrindo, com a boca e com aquelas enormes bolitas azuis, que ele insiste em chamar de olhos.
Me responde agora, como não amar esse ser, apaixonante, inteligente, carinhoso? Há quem diga, que ele é burro, por ter se envolvido com drogas. Discordo. Ele foi fraco, não burro. E no lugar onde se encontrava essa fraqueza, preenchi com amor. Por mim, pelo nosso Arrozinho. Hoje, o que era fraco, agora é forte, porque só o amor sustenta a alma. E uma alma sem amor, jamais conseguiria sobreviver - lucidamente -, no Presídio Central.
Quantas e quantas vezes, eu cansei. De chorar, de correr, de comer, de acordar, de viver. Suicídio não seria prova de amor, porque ele precisa de mim, se é amor, não há abandono. E jamais eu o abandonaria, onde quer que ele estivesse, no calabouço, na masmorra, no inferno ou no Central (que não difere muito dos anteriores). Cansei de muita coisa, mas nunca cansei de amá-lo.
Quantas e quantas vezes, brincamos. Porque não nos importa o lugar, o amor sempre foi mais forte. Sorrimos juntos, aproveitamos a "nossa" gestação do Arrozinho em cada visita que eu ia, ele mexia em minha barriga como se soubesse que conversava com o papai. E, quando nasceu, aos quatro dias foi visitá-lo, não chorou, olhou atentamente para ele e aproveitou o colinho dele por 30 minutos. Inesquecíveis.
Quantas e quantas vezes, quis que existisse uma Lei, que nos deixasse passar uma noite juntos, mesmo lá dentro, em qualquer lugar. Mesmo que ele não goste de cobertas e eu durma de edredom; mesmo que ele queira as janelas abertas e eu insista no ventilador; mesmo que ele me acorde à noite para amar - ok!, concordo que nesse momento, não há objeção alguma, de minha parte...
Quantas e quantas vezes, dei as costas para os portões da galeria E1, pensando que amanhã  ou depois, seria o "grande dia".E, de fato, esse dia, está chegando. Por mérito meu, mérito dele, dos amigos reais e virtuais que nos estendem a mão e, mérito maior do Arrozinho, que fez o papai enxergar motivos para viver novamente.
Quantas e quantas vezes, questionaram meu amor. Nossas famílias, nossos conhecidos, ele mesmo. Os vinte e sete anos de diferença de idade, nada influenciam para mim, amor é amor, não importa a idade; creio que, mesmo no 'auge' dos meus vinte e dois anos, aprendi a amá-lo muito antes dele me amar. Pesaram as idades, o conflito de gerações e a incompatibilidade de gênios. Ele, adora dançar música lenta, já a louca aqui, adora um samba; ele, fica me provocando, enquanto eu caio nas provocações; ele, adora surpreender com presentes em datas inusitadas - praticamente todos os dias, enquanto eu, toda calculista, presenteio com aquilo que acho mais útil.
Quantas e quantas vezes, pensei que não éramos feitos um para o outro. Eis que a vida me pregou uma peça. O amor instalou-se em mim, e qualquer diferença que pudesse "fazer a diferença", dissipou-se no infinito do universo. Estou hoje aqui, declarando-me. E, se algum dia, meus amigos, ele duvidar do meu amor, poderão responder por mim que, em nenhum momento desses - quase - dois anos, deixei de pensar nele, nem um segundo sequer.

Ele pode ter a plena certeza que, mesmo que demore mais um ou dois meses, ou seja lá quanto tempo o judiciário demorar, eu estarei Right Here Waiting...
"Wherever you go, Wherever you do,
I will be right here waiting for you;
Whatever you takes, Or how my heart breaks,
I will be right here waiting for you."


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Indulto Natalino

Chega essa época do ano e só se falam nas festividades natalinas e no reveillon. Presentes, viagens, visitas, comilanças, o que será feito nesse fim de ano?! Estes são os assuntos da maioria das famílias brasileiras. Mas, há também, uma parcela da população, revoltada; que se preocupa mais com a vida alheia do que com a própria. Sim,  revoltadas porque ficam compartilhando imagens no Facebook, pedindo à Presidência da República, o fim do Indulto Natalino, ao invés de compartilharem a campanha natalina "Papai Noel dos Correios", que ajuda crianças a realizarem seus sonhos de Natal.
Muitas dessas pessoas que ficam passando adiante esse tipo de informação, não sabem NADA a respeito deste benefício, concedido apenas para alguns presos. Como disse no post sobre o tão famigerado Auxílio Reclusão (http://www.amornocarcere.blogspot.com.br/2012/08/o-famoso.html) : " Pesquisem antes de acreditar em tudo que se lê/vê por aí, ok?! Informação é de graça, você está na internet, pesquise!". Fiz uma pesquisa rápida e surgiram milhares de resultados muito esclarecedores à respeito do indulto. Seguem informações bastante úteis para quem quer ficar por dentro.

O indulto é um ato de clemência do Poder Público - é forma de extinção da punibilidade. É uma forma de extinguir o cumprimento de uma condenação imposta ao sentenciado desde que se enquadre nos requisitos pré-estabelecidos no decreto de indulto, conforme o Art. 107, II, CP. Só pode ser concedido pelo Presidente da República, mas ele pode delegar a atribuição a Ministro de Estado, ao Procurador-Geral da República e ao Advogado-Geral da União, não sendo necessário pedido dos interessados, nos termos do Art. 84, inciso XII, parágrafo único, da CF. O indulto "apenas extingue a punibilidade, persistindo os efeitos do crime, de modo que o condenado que o recebe não retorna à condição de primário".
O indulto coletivo abrange sempre um grupo de sentenciados e normalmente inclui os beneficiários tendo em vista a duração das penas que lhe foram aplicadas, embora se exijam certos requisitos subjetivos (primariedade, etc.) e objetivos (cumprimento de parte da pena, exclusão dos autores da prática de algumas espécies de crimes, etc.)".
Até meados de Agosto deste ano, Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) do Ministério da Justiça recebeu sugestões para elaborar as regras do indulto natalino de 2012; os critérios para definir o perfil dos presos a serem beneficiados começam a ser elaborados a partir dessas sugestões. Qualquer pessoa ou instituição poderia enviar propostas. Após o recebimento das sugestões, o Conselho realizou uma Audiência Pública no dia 14 de Agosto, para avaliar as sugestões enviadas. A proposta para o indulto é avaliada pelo Ministro da Justiça antes de ser encaminhada à Presidência da República.

Portanto, galera, antes de comentarem/compartilharem  informações, procurem saber um pouco mais sobre o assunto em questão. Afinal, podem ver o "lado negro da força", aquelas frases de sensacionalistas como: "Milhares de bandidos são soltos pelo Governo, absurdo!"; enfim, enquanto a preocupação de alguns está nas manchetes, muitos outros, trabalham para que essas pessoas que estão retornando a sociedade, consigam passar por todo o processo de inclusão, que não será nada fácil. Porque ir embora do presídio é uma coisa, mas o 'título honoris causa' permanecerá, perante os olhares críticos dos cidadãos - que se dizem - de bem.
Hoje, deposito minhas esperanças no Decreto de Indulto do ano de 2012. União da família, alegria, erguer a cabeça, batalhar pra recuperar o que ficou pra trás, o tempo perdido, aproveitar o esposo e o filho unidos. Existem muitas outras Marias que desejam o mesmo, um abraço, sem o rangido estridente das grades ao fundo e sem uma "alma armada e apontada pra cara do sossego".


Um pouco de amor, pra encerrar o post de hoje. Fagner e seu Amor Escondido, diz muitas vezes, o que minhas lágrimas querem dizer a todo instante.


"Quando se tem o amor escondido, querendo aflorar
É se guardar um rio perdido, que não encontra o mar
Mas brilha tanto cada sorriso, e brilha mais que o olhar
Quando o desejo é claro e preciso, quem pode ocultar
Tento esquecer te digo baixinho, não sei se vou voltar
Mas nada prende mais que um carinho, já vou te procurar
Vai pensamento voa no vento, vai bem depressa corre pra lá
Conta pra ela meu sofrimento, diga pra me esperar
Se passo o dia sem seu carinho, me sinto sufocar
Pássaro mudo longe do ninho, sem força pra voar"
Quando se tem o amor escondido
Querendo aflorar

É se guardar um rio perdido
Que não encontra o mar
Mas brilha tanto cada sorriso
E brilha mais que o olhar

Quando o desejo é claro e preciso
Quem pode ocultar

Tento esquecer te digo baixinho
Não sei se vou voltar

Mas nada prende mais que um carinho
Já vou te procurar


Vai pensamento voa no vento
Vai bem depressa corre pra lá


Conta pra ela meu sofrimento
Diga pra me esperar
Se passo o dia sem seu carinho
Me sinto sufocar

Pássaro mudo longe do ninho
Sem força pra voar

Link: http://www.vagalume.com.br/fagner/amor-escondido.html#ixzz2DTmAWgyN
Quando se tem o amor escondido
Querendo aflorar

É se guardar um rio perdido
Que não encontra o mar
Mas brilha tanto cada sorriso
E brilha mais que o olhar

Quando o desejo é claro e preciso
Quem pode ocultar

Tento esquecer te digo baixinho
Não sei se vou voltar

Mas nada prende mais que um carinho
Já vou te procurar


Vai pensamento voa no vento
Vai bem depressa corre pra lá


Conta pra ela meu sofrimento
Diga pra me esperar
Se passo o dia sem seu carinho
Me sinto sufocar

Pássaro mudo longe do ninho
Sem força pra voar

Link: http://www.vagalume.com.br/fagner/amor-escondido.html#ixzz2DTmAWgyN


Informações: Google, Wikipédia, Youtube.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Emoção

Hoje, mais do que nunca, escrevo emocionada. Como muitos já sabem, meu esposo encontra-se recluso e  cumpre sua pena no Presídio Central de Porto Alegre; como ele mesmo diz, "mora" na Galeria E1, onde se desenvolve o projeto Direito no Cárcere.
Sexta feira, dia 09/11, iniciou-se o I Ciclo de Estudos Direito no Cárcere, no auditório do PCPA; foi também, a primeira apresentação pública dos detentos. E, só para constar, na quinta feira, completamos 4 anos de casados, fiquei duplamente feliz, pois, pude dar um beijo e um abraço nele - com apenas um dia de atraso! - e, ele pôde afofar o nosso filhote, mesmo que por alguns minutos, sei o quanto esses momentos são importantes e valem a pena para eles.
Foi tudo muito lindo e emocionante. Estavam presentes familiares, estudantes, BM's, ativistas dos DH's, membros de ONG's, etc. Todas as presenças super importantes, todas as pessoas, livres de preconceitos ou, ao menos, estavam se dando a chance de livrarem-se deles.
Percebia os olhares atentos às falas dos presos que estavam se apresentando, eram olhares curiosos, emocionados, piedosos, humanos. Olhares que me faziam crer ainda mais no ser humano, humano de verdade, que ouve antes de julgar.
Foi lindo ver os depoimentos, ainda que eu seja suspeita pra falar, né... as palavras estavam carregadas de sentimentos, em nenhuma fala, mencionaram ódio, vingança, nem nada do gênero. Estavam felizes com nossa presença, pessoas que se importaram com a situação, que levaram doações, mesmo sem saber o que poderia ter pela frente.
Teria tantos nomes para citar, agradecer, mencionar; tantas pessoas preocupadas com a minha situação, com o meu filho, com o meu esposo. Tantas pessoas que dedicaram uns minutos das suas vidas, e se dedicaram a ouvir sobre a minha. Me senti confortada.
Ah!, se as pessoas soubessem como foi bom. Pude beijar meu esposo mais uma vez, pude tocá-lo, vê-lo brincar com nosso filhote. A amiga Neiva Canalli, registrou o momento. E, que momento! Primeira foto da família reunida. Pode paracer bobagem, mas, tem grande significado. É uma lembrança, recordações de bons momentos, mesmo em meio a uma péssima situação.
Essa fase vai passar, mas as lembranças ficarão, junto com os amigos. O Beto, a Mara e a Neiva da SUSEPE, o Rodrigo Puggina e a Ariane Costa Leite, do Conselho Penitenciário, Ju, Olga, Diovana, Kate, Gisele, Vani, Gabriela, Charles, Priscila, Dona Carmen, todos ficaram guardadinhos no lado esquerdo do peito. Não posso deixar de comentar o abraço da Renatinha, que não titubeou, viu em meus olhos que eu precisava daquela mãozinha fofa naquele instante.
Obrigada Mário Luiz Pelz, Cynthia Jappur, Ten. Coronel Santiago, obrigada Carmela Grüne pela iniciativa e pela coragem - sabes do que falo. Continua teu trabalho com essa garra de mulher e esse sorriso de menina, todos acreditam e apoiam teu trabalho, cada dia mais forte, ganhando mais espaço, mais voz!
Obrigada Deus, por colocares essas pessoas em nossas vidas, por emprestar ao mundo, alguns dos teus anjos. E, agradeço também, por me mostrar o outro lado do cárcere - humano, caridoso, preocupado e sem preconceitos.
Li inúmeros relatos, das pessoas que participaram do evento e, em todos eles, pude sentir o carinho com que escreveram as palavras. Como elas têm poder, não é mesmo?! Porque essas palavras, me deram mais forças pra lutar. Essa última semana, foi super produtiva, proveitosa. Corri mais atrás, nessa reta final, as pessoas que conheci me deram um gás a mais pra aguentar as coisas do dia a dia, os trâmites jurídicos e os "coisa-ruim" que sempre aparecem. (Risos!)
Espero que essas pessoas t-o-d-a-s, que vivem comigo esse momento, presentes ou virtualmente, não sumam da minha vida. Quero que estejam ao meu lado pra sorrir também, porque a vitória está próxima.




Agora, depois de ver essa foto, mais mil e uma coisas surgiram em minha mente. As mãos, ágeis, já queriam teclar sem parar. Mas, não há o que falar. Simplesmente é demais. É a representação do mais puro amor. Meu esposo e meu filho, os homens da minha vida. Brincando, sem perceber que o tempo passava, que alguém os fotografava, sem nem mesmo lembrar, que logo mais atrás, eu estava observando. Esqueceram onde estavam, faziam barulhos e ruídos engraçados. Era o momento deles, só deles; mas, decidiram dividir com o mundo. Me orgulho de fazer parte da história deste homem que me deu esse presente maravilhoso. Nosso "Era uma vez", está chegando próximo do "...felizes para sempre".

- Fotógrafo Jai T Junior - www.flickr.com/luchalibreclub (João Antônio Teixeira Junior) - fez lindos registros.






segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Hoje eu queria muito...

Muito! Muito! Queria muito mesmo. Muito mais do que a vida tem reservado pra mim; porque até agora, foi muito trabalho, muitas perdas, muitas tristezas.
"Tu é guerreira!" - dizem as pessoas, (adoráveis pessoas que Deus coloca em meu caminho); Mas, e o dia em que eu não quiser lutar? E se eu perder uma batalha?! Poucos sabem, mas já perdi tantas, apenas não me rendi frente as adversidades.
Hoje é o aniversário do meu esposo. Está chovendo agora. Penso que são as lágrimas dos nossos anjos protetores. Eles lutaram muito pra que ficássemos juntos, tenho certeza. Choram, porque sabem que estamos chorando. E, eu sei que ele está chorando lá na cela 3, da Galeria E1 do Presídio Central.
Porque estou chorando? Estou me sentindo só, queria apenas um abraço dele, sendo que o abraço de hoje, tem que ser pra ele. Muito merecido, por sinal. Mais de um ano sem drogas e, muita força de vontade; Porque ficar sem drogas numa Clínica 'bacana' é fácil, mas, ficar sem drogas dentro do PCPA (onde tem mais oferta do que na rua, diga-se de passagem), isso sim é mérito!
É o segundo aniversário que ele passa no Presídio e essa angústia toma conta de mim. Só por hoje, queria provar da droga mais poderosa do mundo, que me fizesse parar de pensar na realidade e me levasse pra uma outra vibe, onde eu deletasse os problemas, a canseira, o estresse.
Estou com a voz embargada (será que um Desembargador ajuda a desembargá-la?), com o rosto inchado, com os olhos marejados. Coração apertado, vontade imensa de gritar: EU TE AMO!, em plena free-way, como sempre fiz em nossas viagens. São 27 anos de diferença que em nada nos diferem.
Somos dois adultos quando temos que resolver os problemas e, duas crianças, quando o assunto é nosso sentimento. É sem explicação, a conexão, a química e a física. Coisa que nenhuma grade, nenhuma cela, nenhuma sentença poderá tirar da gente, nossa paixão. Faltam alguns dias pro nosso aniversário de casamento. Quatro anos juntos. E nada se apagou.
Não sei se escrevo para ti, amor, ou para nossos leitores. Estou tão acostumada com essa situação de "nos sentirmos", mesmo de longe que, parece que estou na tua frente, proferindo palavras de amor. Amor, amor... Lembra das nossas noites?! Em breve teremos outras, maravilhosas. Não tão brevemente. Ainda temos o semi-aberto pela frente.
Escutei músicas que remetem nossos momentos, abri albúns, lacrimejei sobre fotos, brinquei com nosso filho. Essa foi a parte mais difícil. Brincar com ele, sem ver teu sorriso bobo, estampado nesse rosto lindo, brilhando através desses olhos azuis, que ele tem iguais - graças a Deus! -, herdou de ti.
Difícil é educá-lo longe de ti, mesmo que eu tenha a absoluta certeza, de que irás me atrapalhar na hora de repreender. Difícil amá-lo longe de ti, pois, nos completamos, os três! Difícil viver sem que estejas por perto, "...só tua presença, vai nos deixar felizes, só hoje...".

Posto para os leitores do Blog, as amáveis pessoas que nos acompanham nesta caminhada - mesmo que virtualmente -, um pouco do nosso amor, da nossa música, dos nossos segredos.

Gipsy Kings: Sin Ella - http://www.youtube.com/watch?v=C7NuD6vm2Mw

Ah... só para constar e, não parecer que o início do texto são apenas palavras ao vento:

HOJE EU QUERIA MUITO, MUITO MESMO!, QUE O TEU GRITO DE LIBERDADE FOSSE PROFERIDO.



domingo, 21 de outubro de 2012

Coisas boas!

Ontem, 20/10/2012, fui no PCPA visitar meu esposo, levei o Arrozinho também. Não há nada de diferente... Ops!, tem uma coisa de muito bom sim! Fizeram mais uma sala de revista corporal feminina. Uhuu! ótima idéia, iniciativa, investimento. Agora, temos duas salas de revista corporal feminina e uma masculina, o que significa, rapidez na entrada.
Ontem, foi um dia muito especial. Logo que cheguei as dependências do PCPA, avistei a BM Ivanilde e levei o Arrozinho pra ela "dar um xêro"; começa aí a parte boa. Ela me disse que imprimiu o texto "Amenizando o sofrimento..." - http://www.amornocarcere.blogspot.com.br/2012/10/amenizando-o-sofrimento.html - e levou para as colegas da Sala de Revista, lerem. E, TODAS leram.
Vocês tinham que ter presenciado as diversas formas de agradecimento que recebi. Muito gratificante. Sei que o pessoal da Brigada Militar é muito criticado, são hostilizados e vistos como monstros pelo familiares; mas, sempre tentei ter uma outra visão. Em todo lugar, há maçãs boas e as bichadas. 
Também não escrevi para "aparecer", jamais pensara que elas iriam ler, que chegaria até as mãos delas. Fiquei muito feliz e, reafirmo: se tiver que criticar, seja visita ou BM, criticarei. Espero que não se ofendam, até porque, fazemos todos, parte do sistema.

domingo, 14 de outubro de 2012

Amenizando o sofrimento...

Engana-se quem pensa que o Presídio Central de Porto Alegre é o pior lugar do mundo. Ledo engano. Eu mesma, grande criticadora do sistema, da situação, etc., percebi hoje em uma breve reflexão, que as coisas não são bem assim.
Não sei se já expliquei, mas, as crianças têm um sábado por mês para fazer uma visita ao seu pai. E, os meses que apresentam datas comemorativas - Páscoa, Dia dos Pais, etc. -, a direção do PCPA libera uma visita extra dos pequenos. Louvável atitude, diga-se de passagem; afinal, só o sorriso do meu filho quando vê o papai, poderia expressar o poder que essa pequena atitude traz consigo.
Além da visita extra, o pessoal da administração, decora a entrada das visitas. No Natal, haviam guirlandas, pinhas, bolas de natal, enfeites; no Dia dos Pais, cartazes e gravatinhas feitas em papel colorido; no Dia das Crianças, cartazes mostrando os Direitos Básicos das Crianças e, figuras relativas à infância, por todos os lugares - Patati & Patatá, Ben 10, etc.; tudo muito lindo sempre, muito caprichado e, parece ser feito com amor.
Dia 13/10/2012, levei nosso pequeno, para a visita "extra"; pois, no dia anterior era comemorado o Dia das Crianças. Passamos um dia maravilhoso. Nosso filhotinho, com sete mesinhos, está aprendendo a mandar beijinhos e, a primeira coisa que fez ao chegar na Galeria E1, olhou para o papai e atirou-lhe uma beijoca estralada. Chegamos a chorar de felicidade.
Ficamos aquelas horinhas, aproveitando para falarmos à respeito dos planos para quando soltarem o grito de liberdade, chamando pelo nome dele; aproveitamos para nos abraçarmos e brincarmos com nosso filhotinho. Aproveitamos, esse é o termo, mais certo impossível!
Já na saída, quando o coração aperta, nos beijamos, agradecemos à Deus, pelo dia maravilhoso e, já combinamos a visita no próximo sábado. Balbuciei um tchau e segui pelo corredor. Nunca olho para trás, pois, parece-me que os passos ficam mais lentos e pesados quando enxergo os olhos marejados dele, despedindo-se.
Cheguei nos computadores, onde registram nossa entrada e saída, entreguei minha carteirinha e do filhote; quando estávamos na porta, indo embora, uma Sgt. da BM, estava em pé, atrás de uma mesinha decorada e com 3 caixas em cima. Uma com balas, a outra com pirulitos e uma terceira com pipoquinhas doce, se não me engano.
Nosso Arrozinho (apelido do nosso filho), está com sete meses, como disse anteriormente. Ainda não come esse tipo de doces, mas, ela fez questão de presenteá-lo. Foi de coração. E não é que o guri saiu "mordendo" o papelzinho do pirulito?!
Quando estava indo embora, já dentro do ônibus, o gordinho nanando com os pirulitinhos na mão, fiquei refletindo. Olhando pra ele, pra alegria que ele ficou com aquele pequeno gesto, pra tudo o que vivemos lá dentro.

Foto dos pirulitos que ganhamos *-*

Sempre saio com bons sentimentos, de renovação, de felicidade, de bondade, de esperança.

Seja lá quem quer que tenha tido essa idéia de, tentar amenizar nosso sofrimento, eu agradeço. Afinal, essa atitude, vale mais do que mil sentenças. Obrigada às soldadas e sargentas da BM que sempre tratam nosso filho com muito carinho. Desde o 4º dia de vida dele, quando foi conhecer o 'focinho' do papai.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Onde está Ele?

Todos sabem, que faço uso do perfil do Facebook - http://www.facebook.com/maria.esperanca.167 -, um canal de comunicação com familiares de apenados, juízes, advogados e demais profissionais e curiosos da área. Sou muito questionada quanto a minha condição de esposa de preso, sobre o funcionamento do PCPA, sobre o processo, etc. Tem uma pergunta que sempre me fazem, que sempre respondo, de maneiras diferentes; num dia tranquilamente, noutro, indignadamente. Eis a questão: ONDE ESTÁ DEUS?!

Deus, Jeová, Oxalá, Alah, saber onde está eu não sei. Sei que ele vive dentro de nós.

Nem sempre ele vive dentro de alguém, mas na enfermidade, na necessidade, ele surge. É uma força interna, de cada um. É mais do que a fé. Porque, crer que Ele existe, é o que nos traz a fé e, nos move. Passos mais largos, precisos, passos mais retos, caminhos mais longos, porém, gratificantes.

Deus está em nós, quando temos saúde para visitar nosso ente querido - esposo, pai, filho -, que encontra-se encarcerado. Ele está em nós, quando preparamos uma comidinha com todo nosso carinho, mesmo que o sal que a tempere, seja das lágrimas derramadas.

Deus está em nós, quando sorrimos e trazemos boas notícias de fora, como nos tempos da ditadura, que em meio ao desespero, transforma-se em festa. Ele está em nós, quando não abandonamos nos momentos de "tristeza, pobreza, doença"; até porquê, cuidar é um ato de amor e, o que é o amor, senão, a forma mais linda de expressar que temos Deus dentro da gente?!

Cada um traz consigo, um pouco de Deus. Seja na mão amiga, que ampara, no sorriso que acalma, no abraço que acolhe, na palavra que ergue. Deus, se já não foi descoberto, irá se mostrar; mais cedo ou mais tarde. Pode não precisar d'Ele agora, mas, agradeça o que Ele já fez.

Todos temos momentos de revolta, todos já perdemos algo/alguém precioso. Deus, com certeza esteve presente, pela mão ou acalanto de alguém. Falo com propriedade amigos, pode parecer pretencioso mas, já senti Deus dentro de mim, lá, naquele inferno.

Foto: Sidinei Brzuska

# Não frequento nenhum tipo de culto, missão, sessão. Se quer possuo religião. Tenho fé em mim e no Deus que me habita.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

- Escureceu...

- Estamos aqui.
- Pois é...
- Faremos o quê?
- Sobe aí na minha jega.
- Ih... não tô entendendo...
- Pára de bobagem e sobe aí, sem treta.
-  Nossa, que vista linda.
- Pois é, nem quando estava em casa eu via a rua assim.
- Talvez seja isso.
- Isso o quê?
- Lá fora, hoje é mais bonito.
- É. Já pensei nisso.
- Tu viu alí?
- O que?
- A sinaleira.
- Ah, vi sim. Sempre vejo, conto os segundos que ela fica verde, vermelha...
- Tô louco pra dirigir.
- Ué, mas tu não roubava carro? Dirigia todo dia, pagava de bacana... hehehe
- Roubava né, mas era 'trabalho', nunca andei tranquilo, no meu carro.
- O que tu sentia quando entrava nos carros?
- Nada. Só sabia que estava antecipando a minha morte.
- Cara, tu tá prometido lá fora?
- Não.
- Então meu, tu vai voltar pra rua, pra família.
- Não sei meu... Morri aqui. Minha cara, nem vejo num pedaço de espelho. Meu cabelo sem corte algum, o pouco de dignidade que me restou, tiraram de mim, quando minha mãe de 67 anos passou pela íntima.
- É foda cara, mas não te entrega.
- Hoje, morro por dentro, por não ter pensado antes.
- Meu, se te consola, ninguém aqui pensou na consequência do bagulho.
- É, mas o que tem aqui dentro, e bate, é o que bombeia o sangue nas minhas veias e faz latejar minha cabeça, cheia de pensamento. Inconsequente, bandido, ladrãozinho, caso perdido. Pra sempre deliquente.



segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Pena Dividida


Quase morto de saudades,
Vegetando atrás das grades,
Me vem o arrependimento;
Dos erros que pratiquei,
Jamais na vida eu sonhei,
Com tão grande sofrimento...
Fui preso pra ser julgado,
Perante um corpo de jurados,
Recebi à condenação,
Quase cai sentado,
Quando ouvi o resultado;
Trinta anos de prisão...
Esta pena é uma trilha,
Onde sofre mãe, filha,
E a esposa tão cansada,
Que nos dias de visita,
Quando o despertador grita,
Levanta de madrugada;
Toma banho, vai para a cozinha,
Arrumar a sacolinha,
E sai na escuridão,
E muitas vezes chovendo,
Fica em um ponto sofrendo,
A espera da condução...
Chega aqui na portaria,
No amanhecer do dia,
Pega senha no portão,
Segue a fila passo a  passo,
Sentindo grande cansaço,
Entrando nesta prisão...
É grande a humilhação sua,
Tira a roupa e fica nua e,
No chão tem que baixar...
Com o coração despedaçado,
Sofre mais do que eu condenado,
Vindo aqui me visitar...
Com seu sorriso de santa,
Com as lágrimas na garganta,
Fingindo não padecer;
Mas, por dentro ela chora,
Enquanto sorri por fora,
Para não me ver sofrer...
Pois é esse o momento,
Do meu agradecimento,
Do fundo do meu coração,
Peço á DEUS lá nas alturas,
Olhai por esta criatura,
Que me acompanha na prisão.

Foto: Sidinei Brzuska - "Se Deus não ouvir o apelo acima, ela cobrirá todas as 'Marias', com seu manto. Tenho certeza, tenho fé."

Poema recebido pelo Facebook; contribuição da amiga Luciene Neves, via ONG Liberdade Para Todos os Presidiários.

 - Não posso deixar de dizer que é EXATAMENTE assim, é isso e mais um pouco, faço minhas, as palavras do autor. Gostaria de poder parabenizá-lo pessoalmente. Muito obrigada! São poucas as vezes, que conseguem falar por mim.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Na reta final...

As coisas param
O tempo não passa
O relógio pifa
E a loucura se "espraia"

O céu escurece
Temporais surgem
O frio se renova
E o desespero se instala

Quando cheguei este Sábado 22/09, ao PCPA, para visitar meu esposo, podia enxergar de longe a tristeza,  a angústia e o sofrimento nos olhos dele. Bem agora, não podemos "esmorecer", temos que erguer a cabeça, vestir a armadura e nos prepararmos para enfrentar a rua, a liberdade. Sim. Ele terá que aprender a conviver com a liberdade novamente. Como uma onça caçadora, que vivera em cativeiro e será devolvida ao seu habitat natural.

E eu, apenas observarei. Mas, sempre que necessário, tratarei das feridas, calarei os injustos. Injustiça será dizer que ele é bandido. Não é. Se foi, não é mais. Não pagou sua pena? Não almejamos o perdão de ninguém, não ferimos ninguém, a não ser nós mesmos com as tristezas e mazelas do cárcere.
Estamos na reta final, não iremos apagar as linhas deste capítulo de nossas vidas; até porque, geramos um fruto. Fomos até, bem criticados, por termos tido um filho "em meio ao caos". Mas, sinceramente, este é o único motivo pelo qual, decidimos seguir em frente e, continuarmos lutando por um amanhã melhor.

Agora, mostrarei mais a minha indignação, agora, lutarei mais e apoiarei com mais afinco a causa, erguerei minha voz e utilizarei o teclado, para meus protestos pacíficos. Quero deixar um legado, de melhorias e decência, para as visitas e os apenados. Só para lembrar as pessoas, que todos somos seres humanos, a Constituição que te assegura os direitos mais básicos, como a dignidade por exemplo, é a mesma para todos nós.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Deixe que digam, que pensem, que falem!

Um ano e nove meses. Tudo isso, todo esse tempo meu esposo está preso. E, por quase todo esse tempo, consegui esconder das pessoas o fato. Eis que, uma ex-namorada dele, descobriu e, "sem querer", saiu contando para os vizinhos.
Restando apenas alguns meses para o fim do nosso sofrimento, e vem aquela enxurrada de e-mails, mensagens no celular e Facebook. Pessoas "tristes" porque eu não contei, e todos aqueles comentários de força. Mas, os dias passam e começamos a ouvir outras coisas, do tipo: Eu já sabia, Eu já desconfiava, etc.
Sabem qual foi a minha atitude? Deixei passar. Estou cansada de pessoas dando pitacos em minha vida. Ninguém me deu um tostão para pagarmos o advogado,  ninguém me dá um kg. de café para eu levar pra ele, ninguém paga as minhas passagens para visitá-lo.
Sei de muitas outras esposas de presos, que da mesma forma que eu, conseguiram esconder o fato por meses, anos! E, tem umas, que nem dizem que são casadas, para não perguntarem à elas, onde está o marido.
Alguém carrega nossa sacola pesada, alguém enfrenta ônibus lotado, fila e horas em pé no PCPA, desaforo de funcionários e, olhares preconceituosos? Não. Quem passa por tudo isso, somos nós. Esposas que não abandonam. Somos nós que lidamos com a língua alheia, sempre afiada. Somos nós que amamos incondicionalmente, porque em muitos casos, nem as mães vão visitá-los.
Nos preocupamos com o horário e os dias de visita. Nos preocupamos com o que levaremos para a alimentação deles e, não com o que o fulano ou o beltrano vão dizer.
Como seria bom, se as pessoas cuidassem mais da vida delas e esquecessem que nós existimos.



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Coisas assim...


Ocorreu um episódio, pouco tempo atrás, em que uma pessoa, criticou-me por usar um pseudônimo; até mesmo, fiz um post pra tratar do assunto, explicar, enfim... Eis que, dentre os comentários, surge este aqui (que abaixo transcrevo), do amigo Adv. Criminalista "de mão cheia", Carlos Arquimedes. Poderia eu, querer mais?! Agradeço pelas lindas palavras. Ótima contribuição!

No contexto social, esposas e companheiras de apenados, foram e continuam sendo discriminadas, há de se considerar que a prisão, por si só, é um ambiente que favorece a violação de direitos. “O cárcere é uma instituição totalizante e despersonalizadora” (ESPINOZA, 2004, p. 78) e o indivíduo que nele se encontra apresenta ruptura, em diversos níveis, dos vínculos sociais. Não se trata apenas da perda da liberdade, mas da privação por completo da capacidade de autodeterminação.
O cárcere produz em seus internos e a seus familiares efeitos e sentimentos análogos. As mulheres ao visitarem os apenados no sistema penitenciário apresentam um dilema, pois à esta sempre coube cuidar da família, dos afazeres domésticos, dos filhos, e essa é a imagem associada no imaginário social, como alguém frágil e dócil.
Partindo desta premissa, qual o problema em adotar este ou aquele pseudônimo. Eu mesmo, escolhendo atuar no direito criminal, muitas vezes ouço, que “defendo vagabundos”, que este ou aquele deveriam permanecer preso, ou em trabalho forçado, que cada apenado custa “X” reais para o governo que se encontra falido, entre outras opiniões; porém, o advogado criminal deverá sempre ter em mente que estará defendendo a pessoa e seus direitos e não o crime do qual o cliente é acusado. O Advogado Criminalista é a voz, cabeça e mãos dos direitos que cabem a qualquer pessoa.
O processo criminal sempre trará em seu seio histórias trágicas, da vítima e do acusado, pois que não é menos trágico o cometimento de um crime, apesar de parecer, num primeiro plano, que a vítima é a que mais “perde”.
Da mesma forma que nós operadores do direito sofremos repressões por atuar no crime, acho mais que justo e perfeito, você “Maria Esperança”, escolher o pseudônimo que bem entender.
Maria Esperança, sempre haverá situações semelhantes a esta, nunca desista de teus objetivos, como diz Manoel Pedro Pimentel, cabe ao Advogado Criminalista, agora estendido a você: “coragem de leão e brandura do cordeiro; altivez de um príncipe e humildade de um escravo; fugacidade do relâmpago e persistência do pingo d’água; rigidez do carvalho e a flexibilidade do bambu”.



Pessoal, quando me faltam forças, me falta coragem, me falta sei lá o quê mais, leio e releio os comentários, as críticas e as sugestões. Querem saber?! É daí, de coisas assim, que tiro minhas forças. São depoimentos verdadeiros - reais! -, como este, que me fazem lutar e, pensar que essa luta não é só minha, é de toda uma sociedade.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Crime ou não?!

Hoje, estava olhando os episódios passados de HOUSE, minha paixão há tempos! (O House e a série)
Ele estava sendo julgado, por um "erro médico" que levou o paciente a óbito. Lembrei da minha mãe, já falecida - esse ano farão dez anos de seu falecimento. Ela tinha 32 anos e, teve câncer, nas trompas - esse tipo de câncer, não acusa no exame do pré-câncer de cólo do útero -, tinha 3 filhos e uma sobrinha que ela criava. Todos menores de idade. Ela era nova, super alto astral e, nem com a notícia da doença, se deixou abater.
Em meus doze aninhos, na época, não entendia muito do que estava se passando, só sabia que câncer matava e que ela iria morrer. Triste? Nem tanto. O mais triste de tudo, era vê-la PENANDO durante 8 - longos! - meses, em uma cama de Hospital, onde houveram momentos em que ela nem nos conhecia, por conta dos sedativos que davam á ela, por causa das fortes dores. O que fizeram com ela? Não sei. Apenas sei que quando ela faleceu, estava no Bloco Cirúrgico do Hospital Santa Rita (Complexo Hospitalar da Santa Casa), indo para a sua sétima cirurgia. Isso mesmo, sétima cirurgia em oito meses de internação. Detalhe, precisou desta sétima, porque na sexta cirurgia, fizeram um corte "mínimo" em seu intestino e, por conta deste corte, as fezes começaram a sair para fora do intestino, causando uma infecção e a não cicatrização da cirurgia anterior.
O que não sai da minha cabeça e, lembro que minha mãe havia solicitado na época, é: PORQUE NÃO TIRARAM AS TROMPAS, O ÚTERO E O DIABO À QUATRO?!
Afinal, ela já tinha 3 filhos biológicos, uma adotiva e, não se importava de ter que "entrar na menopausa com 32 anos", porque o que ela queria, era viver! Os médicos, que sempre sabem "do melhor pra nós", não quiseram. Simples assim. E foi "simples assim", que criou-se uma metástase (quando o câncer "se espalha" pelo organismo).
E agora, de quem é a culpa? Não posso culpar ninguém?! Isso não é crime, gente?! Alô! Alguém me responde se erro médico ou "achismo", não são tão "crimes" quanto os outros... Não quero a prisão de ninguém, nem queria a cassação de um CRM, somente uma advertência. Poderia ser só isso. Ninguém trará ela de volta, ninguém matará minha saudade.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

"Vai Passar..."

Linda música, linda voz, lindo compositor. Letra e melodia me inspiram a continuar, afinal, Chico afirma que "Vai Passar"..

"...Num tempo, página infeliz da nossa história 
Passagem desbotada na memória 
Das nossas novas gerações..."
Foto extraída do Facebook do Juiz Gaúcho Sidinei Brzuska - "O Secretário Eichenberg confere as péssimas condições do Central" - Jornal Zero Hora 27/07/1995

"...Dormia, a nossa pátria mãe tão distraída 
Sem perceber que era subtraída 
Em tenebrosas transações..."
Foto: Sidinei Brzuska

"...Seus filhos , erravam cegos pelo continente 
Levavam pedras feito penitentes
 Erguendo estranhas catedrais..."
Foto: Sidinei Brzuska

"...E um dia, afinal 
Tinham direito a uma alegria fugaz 
Uma ofegante epidemia 
Que se chamava carnaval 
O carnaval, o carnaval..."
Foto: Projeto Direito no Cárcere - Carmela Grüne

Tudo isso vai passar... a tristeza, a solidão, o frio, o calor, o pedaço de colchão, o "panelão", o barulho da grade... até ecoar no portão, um grito de liberdade!

Porém, sabemos que, infelizmente as marcas no psíquico, jamais apagarão e, o preconceito/rótulo "ex-presidiário", é pra vida toda; enquanto "ex-político" é ovacionado, mesmo - na maioria dos casos -, sendo "ex-ladrão"!










terça-feira, 28 de agosto de 2012

Celas e Canil

Quando ingressei na Faculdade de Direito me deparei com um pensamento predominante dos alunos no início da graduação sobre o sistema prisional. Como sendo um reduto onde apenas existia Bandido, cujo os quais não deviam mais estar no convívio da sociedade, desta maneira observei que havia árduos defensores das penas máximas, dos castigos severos, da segregação do convívio social e criticavam os Direitos Humanos, afinal Direitos Humanos deviam ser apenas para Humanos Direitos.
Minha primeira experiência em um presídio foi em um sábado de manhã, quando eu era estudante do segundo ano do Ensino Médio, fui convidado por meu professor de Educação Física, a participar do campeonato de futebol que seria promovido, em forma de uma de integração com os detentos e o pessoal de fora da penitenciária de Frederico Westephalen, uma cidade que fica quase na divisa do Estado do Rio Grande do Sul com Santa Catarina.
Minha maior preocupação na época, era saber se o time titular do presídio era bom de bola, afinal eu era o goleiro do time visitante. Lembro que na entrada senti um pouco de medo, talvez pudesse acontecer uma rebelião, como aquelas que eram transmitidas pelas emissoras de televisão. Mas, logo o Diretor nos recepcionou e falou que não precisavam ter medo, pois já havia tido uma conversa com seus “meninos” e tudo iria ocorrer bem; fomos passando por um portão grande na entrada e outro logo em seguida, seguíamos por um corredor que levavam direto para quadra de esporte, com um projeto de duas goleiras remendadas e um piso que se caísse no chão tomava uma ralada que perdia uma boa parte do corpo.
A impressão que fui tendo, ao ver alguns em um canto costurando bolas, outros conversando, uns lavando os banheiros e o jogo ocorrendo, partidas após partidas, era que o tempo lá dentro é diferente. Fomos vencendo e avançando no campeonato, a cada jogo mais detentos se aglomeravam para assistir as partidas de futebol, era um time dos sem camisa e todos com a nossa exceção de pés descalços. Chegamos à final e vencemos o time da casa por três gols a um, sofri um de pênalti e o presídio quase veio abaixo.
Quando fomos embora muitos dos presos que ali estavam, nos cumprimentaram e se despediram apertando nossas mãos, independentes do crime que haviam praticados todos pareciam iguais, alguns ainda pediram desculpa por uma que outra falta mais enérgica feita no jogo, o diretor fez a ressalva que os mais perigosos estavam em outra ala. Alguns dos presidiários ainda puxaram assunto e conversavam sobre qualquer coisa, pude perceber que a realidade, naquele curto espaço de tempo que estive em presídio, é totalmente diferente da nossa realidade.
Porém, hoje sendo graduando da Faculdade de Direito, percebo que o nosso sistema prisional está quase que totalmente perdido, aquela partida de futebol que aconteceu há quase dez anos atrás, talvez hoje não pudesse ser realizada, fomos bem recebidos, lembro do cheiro marcante que tem um presídio, talvez nunca mais esqueça, mas com a atual política e a prática de apenas prender os sujeitos, há tempos mostra que não resolve o problema do crime na sociedade.
Assim como alguns de meus colegas no início da faculdade, que achavam que bastava apenas prender, trancar, enclausurar um criminoso que o problema estava resolvido. Doce engano, pois saibam que se os mesmos não tiverem por parte do Estado acompanhamento psicológico, assistência, formação tanto educacional como profissional, quando os mesmos ganharem a liberdade, não serão devolvidos a sociedade melhor do que estavam e sim piores.
Vários programas que tenho conhecimentos trazem bons resultados na recuperação e reintegração desse apenado à sociedade, é necessário quebrar o estigma que condenado tem que ter uma pena perpétua, pois o mesmo ao cumprir sua pena legal, continuará a cumprir uma pena moral e ser acusado pelo resto de sua vida do crime que cometeu, pela maioria da sociedade.
Celas e canil, é o inicio desse texto, percebo que entre um Cachorro e o Ser Humano, o primeiro tem a compaixão, já o segundo, apenas o ódio. Se está preso é marginal, gente de bem não vai preso. Pois saibam que existem vários casos de presos - e já se provou -, de estarem injustamente recolhidos a uma prisão, pois não cometeram crime algum, sofreram pelo erro de outros, receberam a ira vingativa da sociedade. Não sou contra animais, desde que os mesmos estejam soltos conforme sua natureza ou bem cuidados. Mas não podemos inverter valores.

Texto produzido pelo amigo Paulo R. M. Gutecoski

Nota: Paulo, agradeço a contribuição. Lindo texto, não há muito o que dizer, afinal,  é a NOSSA idéia, NOSSO Blog! Tomei a liberdade de destacar alguns pontos que acho muito importantes, tocantes... Parabéns, abraços e mais uma vez, Obrigada!



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Eles nos ofendem!


Nos ofendem quando nos tratam como se o delito fosse nosso.
Nos ofendem quando figem não ver os resultados dos exames toxicológicos.
Nos ofendem quando negam pedidos de perícia de voz, em escutas telefônicas.
Nos ofendem quando fingem que não ouvem, o que está gritando nos noticíarios.
Nos ofendem quando ficam um ano com um processo, "apenas" para dizer não e, tirar nossas esperanças.
Nos ofendem quando alimentam as traças com pedacinhos de papéis, que tratam dos rumos de nossas vidas.
Nos ofendem quando pensam que são deuses superiores, que podem traçar nossos destinos, com uma assinatura.
Nos ofendem quando nos fazem passar pela tristeza de ver nossos entes - queridos, sim! -, enjaulados, como bestas selvagens.
Nos ofendem quando pedem isenção de um simples pedágio, enquanto o pobre de fato, deve pagar para andar numa via, que deveria ser pública.
Nos ofendem quando sentenciam um "suposto" traficante, que tinha em casa 17gr. de crack, igualando-o com um que "passeava" em seu New Civic, com 7 kgs de cocaína.

Nos ofendem muito, como se fosse crime hediondo, amar demais!



terça-feira, 21 de agosto de 2012

O "famoso"...

Hoje, quero prestar alguns esclarecimentos a respeito do tão falado, criticado, comentado Auxílio Reclusão.
Alguns sabem, outros não, mas: "O auxílio-reclusão é um benefício devido aos dependentes do segurado recolhido à prisão, durante o período em que estiver preso sob regime fechado ou semi-aberto. Não cabe concessão de auxílio-reclusão aos dependentes do segurado que estiver em livramento condicional ou cumprindo pena em regime aberto." (Fonte: www.previdencia.gov.br) Porém, ficam dúvidas no ar, quando lemos este trecho, pouco esclarecedor.
Está  percorrendo pelas redes sociais um texto, insinuando que, se estudarmos e seguirmos nossas vidas "corretamente" - aliás, o que é correto, mesmo?! -,estaríamos perdendo nosso tempo e, seria melhor irmos presos, para desfrutar do auxílio reclusão. Segundo esse mesmo texto, o benefício seria pago, por filho do apenado/a e, um valor de mil e poucos reais. Esses comentários infelizes, tomaram enormes proporções e, cada vez mais críticas, cada vez mais "Brasil, um país de todos - vagabundos!", e coisinhas afins.
Portanto, decidi postar uns esclarecimentos a respeito do auxílio reclusão, aí vai:

1. O benefício de reclusão não é pago por dependente, é um único valor para toda a família - se o apenado tiver mais de um filho e com diferentes mulheres, o benefício dele é divido pelo número de filhos;

2. Não são todos os que recebem, só os presos que pagam INSS, ou seja, aqueles que tinham carteira assinada ou pagavam como autônomos - eles eram contribuintes, eram cidadãos comuns, trabalhadores perante a Previdência Social;

3. O valor não é igual para todos, depende do salário de contribuição. Esse é o teto. Quem recebe salário mínimo tem o benefício de salário mínimo, etc. Se o último salário da pessoa reclusa, for maior que $915,05, não haverá concessão do benefício;

4. O dinheiro é pago à família, não ao indivíduo recluso. Os filhos não tem culpa dos erros dos pais e precisam comer durante a prisão do pai ou da mãe;

5. Se o cara assalariado espanca a mulher, com o auxílio reclusão ela não precisa ter medo de ficar sem sustento por denunciá-lo. O cara vai preso e ela recebe o auxílio para os filhos, tomando fôlego para começar uma vida nova;

6. Pobre sempre vai pra cadeia, antes mesmo do primeiro julgamento... dificilmente recorre em liberdade ou pode pagar fiança. Vai que o cara é inocente, no fim das contas?!



7. Após a concessão do benefício, os dependentes devem apresentar à Previdência Social, de três em três meses, atestado de que o trabalhador continua preso, emitido por autoridade competente, sob pena de suspensão do benefício.

8. Pesquisem antes de acreditar em tudo que se lê/vê por aí, ok?! Informação é de graça, você está na internet, pesquise!

Só para esclarecer, eu não recebo auxílio reclusão, até pouco tempo nem necessitava; mas, devido a problemas trabalhistas, solicitei junto ao INSS e, o benefício me foi negado, pelo fato de que, meu esposo recebi um salário muito superior ao teto do benefício que é de $915,05.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Esclarecimentos...

Pessoal, desde que fiz o Blog e o perfil no Facebook, pessoas de todos os tipos, cores, gêneros, credos, enfim... me adicionaram e, eu os adicionei. Eis que, aparece uma moça que, primeiramente, pensava - e acho que ainda pensa! -, que eu era uma rapaz (amor perdido da vida dela...). Até aí, tudo bem, me expliquei, mandei o vídeo em que eu apareço dando um depoimento e, sinto que ainda assim não convenci... Ao longo da "amizade", íamos discordando alí, concordando aqui; até que num belo dia, questionei tanta implicância com a MINHA opinião e, ela me excluiu... Até porque, quando escrevo, são as minhas opiniões - na maioria da vezes, consigo atingir o pensamento daqueles que lutam pela mesma causa e, se não consigo, paciência.
Hoje, dando uma passeada pelo meu Blog, utilizando os comentários dos leitores como inspiração e força, li um comentário desta mesma moça. Compartilho com vocês:


Agora, vou esclarecer melhor as coisas, pra própria Alessandra Moreira e, para quem desejar saber.

Eu era estudante de Serviço Social e tranquei, por conta da minha gestação. Hoje, meu bebê tem quase seis meses. Mas, não desejo retornar. Prefiro o Direito ou a área da comunicação; acho que são profissões mais "autônomas" do que o Serv. Social e, reforço: é a MINHA opinião. Se queres saber, sim!, já li o Código de Ética da TUA profissão. Não sou formada ainda, não decidi se essa será a minha profissão e, é meu direito questionar os trabalhos desenvolvidos, as áreas e formas de atuação dos profissionais, etc.
Penso que não sou distante da causa que tu diz ser nossa, as melhorias no sistema prisional. Alguém tem alguma dúvida a respeito da minha forma de protestar? Meu protesto é branco, é limpo, é escrito, é tocante, é minha forma de EXPRESSAR. Cada um tem a sua maneira de externar as emoções e as indignações, não compreendo tamanha desconfiança.
E, por último e MAIS IMPORTANTE: Não me escondo através da Maria Esperança, se tiveres um tempinho, dê uma lida  no primeiro post do Blog. Eu explico o porquê do pseudônimo e, acho muito lindo ter um pseudônimo; uma forma de homenagear alguém, até eu mesma, meu eu-lírico fala por aqui. Se eu estivesse me "escondendo", como te referes a mim no teu comentário, jamais saberia que sou a Caroline Duarte, não é mesmo?! A Maria Esperança, é tudo o que vive dentro de mim, em relação ao cárcere e assuntos referentes a ele. A Maria Esperança, éo esconderijo dos meus pensamentos, não de meu rosto; pois, inúmeras vezes, compartilhei com os contatos/amigos, meu perfil pessoal, fotos da minha família, e o vídeo em que apareço dando um depoimento à Carmela Grüne. Por falar nisso, MUITAS pessoas que encontram-se em meu Facebook Maria Esperança, me conhecem pessoalmente.
Sou e sempre serei a Caroline Duarte, mas tenho o DIREITO de ser quem eu quiser, quando trata-se da minha arte de escrever. Aceito todas as críticas e opiniões; mas, como viestes a público, escrever o que já me havia escrito semanas atrás, decidi esclarecer publicamente também. Caso alguém tenha as mesmas dúvidas que tu, estão aqui, escancaradas as respostas.

Independente de qualquer coisa, fico grata pelas contribuições do amigos, pelo pessoal que acompanha o Blog e, pelas críticas, na maioria das vezes, construtivas.

Paz - Luta - Abraços!

Obs.: Quanto a falarem de mim, ou não, pela condição de esposa de uma apenado, serei bem franca: FALAM SEMPRE! E, não é por isso que "me escondo". É por respeito a meus familiares, a meus amigos, a meu filho. Porque já sofri muito preconceito em relação a isso , sempre que me coloco como defensora de direitos humanos, de direitos dos presos... Cada uma faz da sua vida, o que bem entender. A minha, está cheia de "Marias" pra ajudar e, cheia, muito cheia, de ESPERANÇAS!


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Um pouco do que se passa... parte 2

Continuação do post de ontem, em que relato partes da minha vida. Uma outra visão, até que ponto chega o desespero - do usuário de drogas e de seus familiares.
...

E, abandonei. Cheguei em casa, depois de um dia exaustivo - eu era gerente de uma loja -, e, liguei para meu irmão mais velho. Arrumei minhas coisas e fui embora. Fui embora chorando e explicando pra ele, que aquele era mais um dia que eu passava angustiada, sem saber se ele estava bem, se eu chegaria em casa e o encontraria, se ele não estaria com outras companhias, se ele não estaria dormindo dentro do nosso carro, jogado em qualquer rua, se ele não teria morrido de overdose. Chorei e ele chorava também, dizia que eu o estava abandonando; Jogou baixo, jogou sujo, relembrou a morte do nosso filho, e disse que queria ter um bebê comigo, o tão sonhado. Desta vez, queria uma menina e, que o nome dela seria o nome da minha mãe - já falecida, em homenagem à ela.

Eu nem se quer olhei para trás. Eu o amava tanto, que não conseguia mais suportar aquela situação. Ele estava morrendo aos poucos, em alguns meses, havia emagrecido cerca de 15kgs. Perdeu o viço, perdeu a alegria, a vontade de viver. Quando olhava para ele, me sentia num filme de 'apocalipse zumbi'; vivendo ao lado de um ser, que não comia, não bebia, não dormia. Vida vazia, viver por viver, porque se está vivo. Parecia que a vontade dele era "ser jogado numa vala" qualquer e, ser esquecido, ou ser alvejado de tiros. Aquele homem, quarentão, de olhos azuis, charmoso e galanteador que eu conhecera, não existia mais. Era apenas lembrança.

E, tentei mesmo, com todas as forças, livrar-me da lembrança dele. Alguém aqui já amou? Alguém aqui sabe o que é amor, no mais puro sentido da palavra? Ao contrário do que muitos pensam, não procurava nele um pai; até porque, não fazemos sexo com nosso pai, não é mesmo?! Longe dele, queria saber o que se passava e, mesmo com todas as mágoas, não esqueci uma data sequer. Dia dos namorados, aniversário, nada ficou para trás, sempre enviei uma lembrança, uma mensagem, um beijo. Todas as semanas levava flores no túmulo do nosso filhinho, que havíamos perdido em abril do mesmo ano, e pedia que ele ajudasse a recuperar o pai. Acho que pedi coisa demais pra uma criança, né?!

Nada adiantou, nem Jesus, nem Oxalá, nem Krishna, nem Jeová, atenderam minhas preces, meus pedidos. Dia 23/12/2010, estava trabalhando na loja, correria normal de final de ano, muito trabalho. Meu celular tocou e, quando vi o número, tive um mau pressentimento. Era o filho mais velho dele, ligando pra dizer que "o pai caiu e, parece que não tem jeito". Naquele momento, lembrei do que eu tinha dito para o meu esposo quando começamos a namorar: "Não importa o que aconteça, serei tua amiga acima de tudo.", e, prontamente pedi permissão para sair do trabalho.

Peguei um ônibus e fui para Gravataí, onde ele foi preso, 1ª DP - Bairro Parque dos Anjos. No caminho, liguei para uma advogada conhecida, ao menos para ela me dar um norte, assinar o flagrante e coisas do gênero. Ela é conhecida por ser "advogada de porta de cadeia", se é que me entendem. Pau pra toda obra, a qualquer hora, mora perto da DP. Chegando lá, descobri que ele estava preso desde as 13hrs e ninguém tinha ido lá, nem chamaram um advogado, nem nada. A advogada, conseguiu que eu falasse com ele, pra resolver as coisas, saber o que aconteceu, etc.

Quando eu vi o estado e o local em que ele estava, quase desmaiei. Ele estava sujo, suado, sem cadarço nos tênis e com as calças caindo (tirar o cinto e os cadarços, são procedimentos padrões), estava com fome e sede; ele "se bateu" dentro da viatura e estava com cortes na boca e na sobrancelha (reclamei para uma pessoa da DP, dos machucados dele e, a resposta que obtive foi "que se a senhora reclamar, piora pra ele no camburão da Susepe". A-b-s-u-r-d-o!). O local é imundo, tem uns pedaços de jornal e papelão, vários homens dividindo aquele micro-espaço e, num cantinho, avistei um buraco no chão, creio que seja a privada. Olhei nos olhos dele e perguntei porque ele não tinha me ligado e, ele respondeu cabisbaixo: " Porque era pra mim te cuidar e não o inverso. Fico com vergonha de ti.".  Segurei as lágrimas (se alguém percebeu, não gosto de chorar na frente dele) e, dei um beijo nele. Prometi que iria tirá-lo de lá. E, antes de ir embora, ouvi um lindo:  "Eu tinha certeza que tu vinha".

 Saí de lá, com a certeza de que tinha que ajudá-lo. Prestei a primeira assistência quando ele chegou no Central, e em três ou quatro dias, já tinha confeccionado a carteirinha de acesso às galerias. Nunca faltei uma visita, sempre fui todas as terças-feiras e todos os sábados. Nunca deixei de levar a sacola com os itens básicos, nunca o abandonei. Engravidei em junho de 2011 e hoje, tenho um bebê lindo e abençoado, diga-se de passagem, que é fruto do Central; hoje, meu esposo é integrante do Projeto Direito no Cárcere, está limpo das drogas há um ano e dois meses. Querem saber o que eu penso sobre isso, o que eu acho de tudo isso? Vai passar, é uma fase, é mais uma evolução na minha vida. Como diria Marisa Monte, "Bem que se quis, depois de tudo ainda ser feliz"...

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Um pouco do que se passa...

...Com os familiares de usuários de drogas. - Primeira parte

Não sei onde vou parar com esse texto, mas, sei bem - muito bem! -, onde quero chegar.

Primeiramente, não quero que me engulam, não quero que me aceitem, muito menos que concordem. Quero apenas voz, para expor o outro lado da história. O outro lado da bomba, que cada vez mais, parece que vai explodir a qualquer instante.

Sou estudante de Serviço Social (no momento, tranquei o curso, porque sou mamãe!), e esposa de um apenado, que cumpre pena por tráfico de drogas no PCPA - Presídio Central de Porto Alegre, desde Dezembro de 2010. "Tráfico de drogas", que horror, crime hediondo, corrompe a sociedade. Pois é, triste realidade de muitas famílias. Mais triste ainda, ver meu esposo sendo preso, sem ter ganho um centavo sequer, deste crime que ele supostamente estava comentendo contra a sociedade, e não estou reclamando, pois nem almejo esse tipo de renda. O tal crime que ele cometera, na verdade, foi contra ele mesmo. Sim. Era contra ele o pior crime. Gerente de uma grande empresa, conhecido por todos na cidade onde morávamos, patrimônio razoável (casa na praia, casa na cidade, dois carros, moto, lancha e um dinheirinho no banco), residência fixa, família de boa índole, todos trabalhadores, inclusive nós dois.

Perdi um filho há dois anos atrás e, fui informada que ele sofrerá uma má formação genética em decorrência do uso abusivo de drogas, de minha parte ou do pai. Não me restara dúvidas. Eu, nunca sequer, fumei cigarro. Nem cerveja encosto na boca. Resposta simples, o pai. Então, em meio a todo o sofrimento de ter que enterrar um filho, descobri que meu esposo era usuário de drogas. Até então, cocaína; Segundo ele, há muitos anos. E logo após o turbilhão de notícias ruins (falecimento de nosso filho e, dois meses depois, falecimento de meu sogro), ele se atirou nas drogas, literalmente. Porém, passou a fazer uso do crack e com isso, fui vendo a minha família, ou o que eu pensava que seria uma família, se destruir aos poucos.



No início, uns jovens ofereciam as drogas no meu portão, comecei a me irritar, ficava braba, batia boca e fui cansando. Logo mais, já tinha alguns "amigos" que iam fumar com ele na garagem da minha residência. É horrível, sinceramente, alguém tinha que filmar aquelas cenas. Chegavam a passar a noite toda fumando aquela coisa nojenta que quando queimada, fedia a cola e cigarro e, tudo  que há de ruim. A fumaça, densa, fazia com que eu não conseguisse mais definir quem era quem, pelas frestas da janela. Nunca me meti na história, nunca cheguei perto daquelas drogas, nunca entreguei dinheiro e peguei uma "peteca" e, nos momentos de lucidez dele, sempre me alertou, pedindo que eu não entrasse na mesma barca furada que ele.

Depois de um tempo, a gente aceita. Na verdade, não é que aceita, a gente se conforma. Tenta internar e, certos momentos ele quer, em dois segundos, sai sem rumo e volta dois dias depois, sem remorso, sem banho, sem escovar os dentes, pentear os cabelos; Enfim, chega em casa procurando uma cama, um prato de comida, qualquer coisa serve. Várias vezes, não sei de onde tirei forças mas, aos prantos, tirei as roupas dele, coloquei no chuveiro ou, simplesmente, tranquei a porta do quarto com ele dentro e fui trabalhar. Já cheguei a deixá-lo dormindo uma semana trancado em casa. Cada vez que acordava e pedia água, prontamente, a esposa solícita levava um suquinho com calmantes dentro. Me sentia num filme, numa novela, só que o roteirista, estava sendo cruel comigo.

No meio disso, tive aqueles ataques de fúria, ir pra casa dos familiares, quebrar objetos, vidros de carros, faltar ao trabalho para buscá-lo na boca de fumo. Uma noite, comprei uma arma. Não me pergunte como, mas eu comprei. Trabalhava num shopping e saí do trabalho as 22hrs, antes de pegar o ônibus que fazia a 'viagem pro inferno', corri até uma vila próxima (em Porto Alegre mesmo) e, perguntei pro primeiro menino que eu vi, se alguém tinha "um cano" pra me vender.

Fiquei orgulhosa de mim mesma. Idiotamente orgulhosa, porque sempre achei aquilo um horror, nunca compactuei com o crime. Mas, naquele momento específico eu me senti grande. Não tive medo de colocar o revólver na bolsa, não tive medo de ver se estava carregado, não tive medo de chegar em casa e atirar se alguém se atravessasse em meu caminho. Estava focada a dar um basta naquela situação. "Chega de gente no meu portão, chega de dinheiro no lixo, chega de humilhação. Já que eu não tenho coragem de pedir ajuda para alguém, minha família ou sei lá pra quem, vou resolver sozinha." - pensava eu, o caminho todo, dentro do ônibus.

Logo que cheguei, já pude estrear o meu brinquedo. Minha casa estava tomada de usuários, com seus cachimbos, suas latas, seus isqueiros e todos os apetrechos que usam pra queimar as pedras preciosas. Não tinha um copo limpo para que eu pudesse tomar uma água com açúcar e me acalmar. Como na linguagem dos presos, "cheguei as ganha" e botei todos pra correr. Naquele dia, eu vi que a situação fugiu de controle, se é que algum dia eu tive controle de alguma coisa. Meu esposo nem se mexeu, foi indiferente, parecia estar num coma consciente/inconsciente, não sei bem explicar.

Muito triste isso, fui pro chuveiro e deixei todas aquelas "lágrimas" de água escorrerem em mim, lavando minha alma e pedindo forças sei lá de onde. Não tinha nojo de mim, pois nem relações sexuais mantínhamos e, quando ele estava sóbrio (raros momentos), a única vontade que eu tinha era de abraçar ele e lembrar como era bom ter meu esposo, amigo, companheiro de volta.

Na manhã seguinte, levantei para trabalhar e, cadê meu "brinquedinho"? Pensei que ele havia escondido, mas não; ele havia "fumado", cheirado, trocado por pedrinhas. Me indignei, queria de volta. Minha vontade, era de matar qualquer pessoa que estivesse envolvida nesse comércio porco, desde o garoto que faz o "corre", até o figurão que recebe propina, advinda do comércio e produção de drogas. Foi naquele dia, dentro do ônibus, indo para o trabalho, que pensei em abandoná-lo pela primeira vez.

Continua...

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Minha indignação...

Compartilho hoje, com vocês, minha indignação perante dois fatos ocorridos esta semana; um eu presenciei, outro, ocorreu comigo.

1º Fato - INDIGNANTE!

Sábado passado, fui visitar meu esposo no Presídio. Cheguei lá, quase 15hrs, quando já não dá mais para entrar. Mas, moro longe e tem que ter alguém para ficar com meu bebê, já que a visita de criança é somente uma vez por mês e, não era neste sábado. Esse horário, tem poucas pessoas para entrar, então, a fila é mínima; porém, podemos ficar apenas uma hora e meia com nosso familiar/esposo/filho, já que o horário de visitas encerra-se as 16hrs. Mas, hoje não escrevo para reclamar de demora, nem nada do gênero. Foi uma cena que eu vi, no saguão, antes de entrar para a sala de revista corporal.
Havia um preso, limpando os banheiros e arredores. Não. Também não é por este motivo que escrevo com indignação, até porque, sou a favor de trabalho para os apenados, além da remissão da pena, o trabalho dignifica o ser. Fiquei chocada com o modo como ele estava trabalhando, sem luvas, metendo as mãos num pano sujo, pode-se adjetivar o pano de: imundo; como preferirem.
 - "Coitado!" - exclamou uma senhora, comentando sobre a insalubridade do local e que o rapaz estava sem luvas.  A soldado da Brigada Militar que vigiava o rapaz, empunhando seu PR (popularmente conhecido por, cacetete), disse: - "São as visitas que sujam as coisas; chegam a passar a mão com fezes, nas paredes dos banheiros, porque pensam que somos nós (as brigadianas), que limpamos. Mas, quem 'paga o pato', são os presos."
Pra mim chega. O rapaz sem luvas, a podridão dos banheiros que, em dia de visita, não abrem a porta, tal é o mau odor que lá se encontra. Nem gambá aguenta. Mais ainda, saber que as próprias visitas deixam o local de uso comum, DELAS MESMAS, daquele jeito. Falo como se não conhecesse o local, porque raramente, utilizo banheiro em locais públicos; mas, realmente: coitados dos apenados que fazem a limpeza, muito me entristece saber, que seus próprios familiares, deixam daquele estado deplorável. Por falar em 'Estado', bem que poderiam fornecer papel higiênico, né não?! Talvez assim, as "queridas" não passassem as mãos nas paredes.

Obs.: Doa a quem doer; não estou aqui somente para "defender" os familiares. Críticas também serão vistas, se assim for necessário.

2º fato - INSIGNIFICANTE!

Todos sabem que utilizo do Facebook Maria Esperança e, deste Blog, para compreender mais a respeito do Direito e seus vocábulos, seus macetes; enfim, busco informações e contatos que possam me auxiliar nesta batalha, que é tirar meu esposo do Presídio Central. Dia desses, adicionei um rapaz que, em seu perfil, constava a informação de que ele trabalha no TJRS e teríamos cerca de, vinte contatos em comum.. Fiquei interessada, visto que, o processo de meu esposo, encontra-se no TJ, com o Desembargador Marco Aurélio de Oliveira Canosa e, o mesmo, está há mais de um mês com o processo parado, só para redigir o acórdão, (fico me perguntando, o que há de tão complicado em redigir um acórdão...).
Cá com meus botões, pensei que este rapaz, cuja as iniciais de seu nome são F.V.H., poderia auxiliar-me com algumas questões que tenho; para que eu não precisasse incomodar tanto o Juiz Sidinei Brzuska, que incansavelmente, sempre retorna minhas solicitações. Em minha cabeça, uma pessoa que trabalha no poder judiciário, deveria promover o direito, ser solícito ao atender as pessoas; mesmo que ele não o fizesse fora do horário de trabalho, que fosse educado o bastante para dizer-me que, não dá "assessoria" nem dentro, nem fora do TJ, muito menos em redes sociais. Seria melhor a verdade, nua e crua, do que ele ter me excluído sem nem falar nada. O que fazer em uma rede social, se não, ser sociável?!
Fui educada, perguntei se poderíamos falar uns instantes e - juro!, fui breve. Será que ele sentiu vergonha por não saber responder as minhas questões? Jamais saberei, afinal, desse tipo de gentinha, quero distância. Prefiro educação, cordialidade.

Aproveito o momento, para deixar registrado o meu agradecimento, aos estimados: Sidinei Brzuska, Cynthia Jappur, Carmela Grüne, Rodrigo Puggina, dentre outros - não menos importantes; o respeito e a atenção com que me tratam, é imensurável.