sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Na reta final...

As coisas param
O tempo não passa
O relógio pifa
E a loucura se "espraia"

O céu escurece
Temporais surgem
O frio se renova
E o desespero se instala

Quando cheguei este Sábado 22/09, ao PCPA, para visitar meu esposo, podia enxergar de longe a tristeza,  a angústia e o sofrimento nos olhos dele. Bem agora, não podemos "esmorecer", temos que erguer a cabeça, vestir a armadura e nos prepararmos para enfrentar a rua, a liberdade. Sim. Ele terá que aprender a conviver com a liberdade novamente. Como uma onça caçadora, que vivera em cativeiro e será devolvida ao seu habitat natural.

E eu, apenas observarei. Mas, sempre que necessário, tratarei das feridas, calarei os injustos. Injustiça será dizer que ele é bandido. Não é. Se foi, não é mais. Não pagou sua pena? Não almejamos o perdão de ninguém, não ferimos ninguém, a não ser nós mesmos com as tristezas e mazelas do cárcere.
Estamos na reta final, não iremos apagar as linhas deste capítulo de nossas vidas; até porque, geramos um fruto. Fomos até, bem criticados, por termos tido um filho "em meio ao caos". Mas, sinceramente, este é o único motivo pelo qual, decidimos seguir em frente e, continuarmos lutando por um amanhã melhor.

Agora, mostrarei mais a minha indignação, agora, lutarei mais e apoiarei com mais afinco a causa, erguerei minha voz e utilizarei o teclado, para meus protestos pacíficos. Quero deixar um legado, de melhorias e decência, para as visitas e os apenados. Só para lembrar as pessoas, que todos somos seres humanos, a Constituição que te assegura os direitos mais básicos, como a dignidade por exemplo, é a mesma para todos nós.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Deixe que digam, que pensem, que falem!

Um ano e nove meses. Tudo isso, todo esse tempo meu esposo está preso. E, por quase todo esse tempo, consegui esconder das pessoas o fato. Eis que, uma ex-namorada dele, descobriu e, "sem querer", saiu contando para os vizinhos.
Restando apenas alguns meses para o fim do nosso sofrimento, e vem aquela enxurrada de e-mails, mensagens no celular e Facebook. Pessoas "tristes" porque eu não contei, e todos aqueles comentários de força. Mas, os dias passam e começamos a ouvir outras coisas, do tipo: Eu já sabia, Eu já desconfiava, etc.
Sabem qual foi a minha atitude? Deixei passar. Estou cansada de pessoas dando pitacos em minha vida. Ninguém me deu um tostão para pagarmos o advogado,  ninguém me dá um kg. de café para eu levar pra ele, ninguém paga as minhas passagens para visitá-lo.
Sei de muitas outras esposas de presos, que da mesma forma que eu, conseguiram esconder o fato por meses, anos! E, tem umas, que nem dizem que são casadas, para não perguntarem à elas, onde está o marido.
Alguém carrega nossa sacola pesada, alguém enfrenta ônibus lotado, fila e horas em pé no PCPA, desaforo de funcionários e, olhares preconceituosos? Não. Quem passa por tudo isso, somos nós. Esposas que não abandonam. Somos nós que lidamos com a língua alheia, sempre afiada. Somos nós que amamos incondicionalmente, porque em muitos casos, nem as mães vão visitá-los.
Nos preocupamos com o horário e os dias de visita. Nos preocupamos com o que levaremos para a alimentação deles e, não com o que o fulano ou o beltrano vão dizer.
Como seria bom, se as pessoas cuidassem mais da vida delas e esquecessem que nós existimos.



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Coisas assim...


Ocorreu um episódio, pouco tempo atrás, em que uma pessoa, criticou-me por usar um pseudônimo; até mesmo, fiz um post pra tratar do assunto, explicar, enfim... Eis que, dentre os comentários, surge este aqui (que abaixo transcrevo), do amigo Adv. Criminalista "de mão cheia", Carlos Arquimedes. Poderia eu, querer mais?! Agradeço pelas lindas palavras. Ótima contribuição!

No contexto social, esposas e companheiras de apenados, foram e continuam sendo discriminadas, há de se considerar que a prisão, por si só, é um ambiente que favorece a violação de direitos. “O cárcere é uma instituição totalizante e despersonalizadora” (ESPINOZA, 2004, p. 78) e o indivíduo que nele se encontra apresenta ruptura, em diversos níveis, dos vínculos sociais. Não se trata apenas da perda da liberdade, mas da privação por completo da capacidade de autodeterminação.
O cárcere produz em seus internos e a seus familiares efeitos e sentimentos análogos. As mulheres ao visitarem os apenados no sistema penitenciário apresentam um dilema, pois à esta sempre coube cuidar da família, dos afazeres domésticos, dos filhos, e essa é a imagem associada no imaginário social, como alguém frágil e dócil.
Partindo desta premissa, qual o problema em adotar este ou aquele pseudônimo. Eu mesmo, escolhendo atuar no direito criminal, muitas vezes ouço, que “defendo vagabundos”, que este ou aquele deveriam permanecer preso, ou em trabalho forçado, que cada apenado custa “X” reais para o governo que se encontra falido, entre outras opiniões; porém, o advogado criminal deverá sempre ter em mente que estará defendendo a pessoa e seus direitos e não o crime do qual o cliente é acusado. O Advogado Criminalista é a voz, cabeça e mãos dos direitos que cabem a qualquer pessoa.
O processo criminal sempre trará em seu seio histórias trágicas, da vítima e do acusado, pois que não é menos trágico o cometimento de um crime, apesar de parecer, num primeiro plano, que a vítima é a que mais “perde”.
Da mesma forma que nós operadores do direito sofremos repressões por atuar no crime, acho mais que justo e perfeito, você “Maria Esperança”, escolher o pseudônimo que bem entender.
Maria Esperança, sempre haverá situações semelhantes a esta, nunca desista de teus objetivos, como diz Manoel Pedro Pimentel, cabe ao Advogado Criminalista, agora estendido a você: “coragem de leão e brandura do cordeiro; altivez de um príncipe e humildade de um escravo; fugacidade do relâmpago e persistência do pingo d’água; rigidez do carvalho e a flexibilidade do bambu”.



Pessoal, quando me faltam forças, me falta coragem, me falta sei lá o quê mais, leio e releio os comentários, as críticas e as sugestões. Querem saber?! É daí, de coisas assim, que tiro minhas forças. São depoimentos verdadeiros - reais! -, como este, que me fazem lutar e, pensar que essa luta não é só minha, é de toda uma sociedade.