Um ano e nove meses. Tudo isso, todo esse tempo meu esposo está preso. E, por quase todo esse tempo, consegui esconder das pessoas o fato. Eis que, uma ex-namorada dele, descobriu e, "sem querer", saiu contando para os vizinhos.
Restando apenas alguns meses para o fim do nosso sofrimento, e vem aquela enxurrada de e-mails, mensagens no celular e Facebook. Pessoas "tristes" porque eu não contei, e todos aqueles comentários de força. Mas, os dias passam e começamos a ouvir outras coisas, do tipo: Eu já sabia, Eu já desconfiava, etc.
Sabem qual foi a minha atitude? Deixei passar. Estou cansada de pessoas dando pitacos em minha vida. Ninguém me deu um tostão para pagarmos o advogado, ninguém me dá um kg. de café para eu levar pra ele, ninguém paga as minhas passagens para visitá-lo.
Sei de muitas outras esposas de presos, que da mesma forma que eu, conseguiram esconder o fato por meses, anos! E, tem umas, que nem dizem que são casadas, para não perguntarem à elas, onde está o marido.
Alguém carrega nossa sacola pesada, alguém enfrenta ônibus lotado, fila e horas em pé no PCPA, desaforo de funcionários e, olhares preconceituosos? Não. Quem passa por tudo isso, somos nós. Esposas que não abandonam. Somos nós que lidamos com a língua alheia, sempre afiada. Somos nós que amamos incondicionalmente, porque em muitos casos, nem as mães vão visitá-los.
Nos preocupamos com o horário e os dias de visita. Nos preocupamos com o que levaremos para a alimentação deles e, não com o que o fulano ou o beltrano vão dizer.
Como seria bom, se as pessoas cuidassem mais da vida delas e esquecessem que nós existimos.
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