terça-feira, 28 de agosto de 2012

Celas e Canil

Quando ingressei na Faculdade de Direito me deparei com um pensamento predominante dos alunos no início da graduação sobre o sistema prisional. Como sendo um reduto onde apenas existia Bandido, cujo os quais não deviam mais estar no convívio da sociedade, desta maneira observei que havia árduos defensores das penas máximas, dos castigos severos, da segregação do convívio social e criticavam os Direitos Humanos, afinal Direitos Humanos deviam ser apenas para Humanos Direitos.
Minha primeira experiência em um presídio foi em um sábado de manhã, quando eu era estudante do segundo ano do Ensino Médio, fui convidado por meu professor de Educação Física, a participar do campeonato de futebol que seria promovido, em forma de uma de integração com os detentos e o pessoal de fora da penitenciária de Frederico Westephalen, uma cidade que fica quase na divisa do Estado do Rio Grande do Sul com Santa Catarina.
Minha maior preocupação na época, era saber se o time titular do presídio era bom de bola, afinal eu era o goleiro do time visitante. Lembro que na entrada senti um pouco de medo, talvez pudesse acontecer uma rebelião, como aquelas que eram transmitidas pelas emissoras de televisão. Mas, logo o Diretor nos recepcionou e falou que não precisavam ter medo, pois já havia tido uma conversa com seus “meninos” e tudo iria ocorrer bem; fomos passando por um portão grande na entrada e outro logo em seguida, seguíamos por um corredor que levavam direto para quadra de esporte, com um projeto de duas goleiras remendadas e um piso que se caísse no chão tomava uma ralada que perdia uma boa parte do corpo.
A impressão que fui tendo, ao ver alguns em um canto costurando bolas, outros conversando, uns lavando os banheiros e o jogo ocorrendo, partidas após partidas, era que o tempo lá dentro é diferente. Fomos vencendo e avançando no campeonato, a cada jogo mais detentos se aglomeravam para assistir as partidas de futebol, era um time dos sem camisa e todos com a nossa exceção de pés descalços. Chegamos à final e vencemos o time da casa por três gols a um, sofri um de pênalti e o presídio quase veio abaixo.
Quando fomos embora muitos dos presos que ali estavam, nos cumprimentaram e se despediram apertando nossas mãos, independentes do crime que haviam praticados todos pareciam iguais, alguns ainda pediram desculpa por uma que outra falta mais enérgica feita no jogo, o diretor fez a ressalva que os mais perigosos estavam em outra ala. Alguns dos presidiários ainda puxaram assunto e conversavam sobre qualquer coisa, pude perceber que a realidade, naquele curto espaço de tempo que estive em presídio, é totalmente diferente da nossa realidade.
Porém, hoje sendo graduando da Faculdade de Direito, percebo que o nosso sistema prisional está quase que totalmente perdido, aquela partida de futebol que aconteceu há quase dez anos atrás, talvez hoje não pudesse ser realizada, fomos bem recebidos, lembro do cheiro marcante que tem um presídio, talvez nunca mais esqueça, mas com a atual política e a prática de apenas prender os sujeitos, há tempos mostra que não resolve o problema do crime na sociedade.
Assim como alguns de meus colegas no início da faculdade, que achavam que bastava apenas prender, trancar, enclausurar um criminoso que o problema estava resolvido. Doce engano, pois saibam que se os mesmos não tiverem por parte do Estado acompanhamento psicológico, assistência, formação tanto educacional como profissional, quando os mesmos ganharem a liberdade, não serão devolvidos a sociedade melhor do que estavam e sim piores.
Vários programas que tenho conhecimentos trazem bons resultados na recuperação e reintegração desse apenado à sociedade, é necessário quebrar o estigma que condenado tem que ter uma pena perpétua, pois o mesmo ao cumprir sua pena legal, continuará a cumprir uma pena moral e ser acusado pelo resto de sua vida do crime que cometeu, pela maioria da sociedade.
Celas e canil, é o inicio desse texto, percebo que entre um Cachorro e o Ser Humano, o primeiro tem a compaixão, já o segundo, apenas o ódio. Se está preso é marginal, gente de bem não vai preso. Pois saibam que existem vários casos de presos - e já se provou -, de estarem injustamente recolhidos a uma prisão, pois não cometeram crime algum, sofreram pelo erro de outros, receberam a ira vingativa da sociedade. Não sou contra animais, desde que os mesmos estejam soltos conforme sua natureza ou bem cuidados. Mas não podemos inverter valores.

Texto produzido pelo amigo Paulo R. M. Gutecoski

Nota: Paulo, agradeço a contribuição. Lindo texto, não há muito o que dizer, afinal,  é a NOSSA idéia, NOSSO Blog! Tomei a liberdade de destacar alguns pontos que acho muito importantes, tocantes... Parabéns, abraços e mais uma vez, Obrigada!



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