Noite do dia 24, e aqueles fogos que eu adoro (só que não), não deixavam o Arrozinho nanar. Ele e nosso cachorro, ficaram ensandecidos com o barulho, enquanto eu preparava a comida e as coisas para o dia de Natal. Filhote e eu, iríamos passar o dia com o papai!
Acordei às cinco da manhã, peguei a comida na geladeira, arrumei as mamadeiras do gordinho, fiz o básico que todas as esposas fazem antes de irem para o presídio, arrumar sacola, revisar itens, etc; fomos pra rua. Pegamos o ônibus aqui em Gravataí, quase seis da manhã, chegamos em Porto Alegre por volta das sete horas.
Acontece que era Natal, dia 25 de Dezembro. A Capital estava vazia, ou dormia apenas. Pêssoas bêbadas, banda de pagode ao lado do Mercado Público, trabalhadores; enfim, caminhei um pouco com o Arrozinho dormindo e resolvi subir a Rua Marechal Floriano Peixoto, esta tinha alguns transeuntes e, iria pegar o ônibus Alameda, na Av. Sen, Salgado Filho, que para em frente ao PCPA.
Quando estava passando a entrada da Loja Marisa, que tem na Marechal, um rapaz me aborda e anuncia o assalto, empunhando uma faca em direção ao gordinho. Comecei bem de Natal, né não?! Nessas horas, se pensa no que mesmo?... Em nada. Mentira! Pensei em tudo o que se possa imaginar. Nas outras vezes em que fui assaltada (sim, houveram outras vezes), reagi, corri, gritei, assumi os riscos. A última vez, estava grávida do Arrozinho e, deixaram na portaria do prédio onde morava, minha bolsa, com maquiagens, documentos e a carteirinha de acesso ao Presídio Central; levaram apenas dinheiro e celular, não pouparam nem as moedinhas de cents de dólar, que eram lembranças de minha mãe.
Dessa vez, não poderia nem gemer, porque estava com meu filho. Descobri naquele instante, que ser mãe é pensar mais no pequeno ser, do que em nossos caprichos. Pude provar que reagi como uma mãe mesmo. Mas, confesso que pensei que meu coração iria parar. Não estava preocupada com o dinheiro, com o celular, nem nada do tipo. Pensava assim: Se ele leva minha bolsa e o gordinho sente fome? Sei lá, passou tanta coisa em minha mente. Só lembrei de balbuciar que estava levando o bebê para ver o pai no Presídio.
Em cheio! Ele só levou minha niqueleira, onde guardo meus "milhões", pois não carrego mais carteira e aquele bando de documentos. Tá certo que, para os dias de hoje e a minha atual situação, a quantia que ele levou era razoável. Mas, fazer o quê?!
Parei um pouco, no meio da rua mesmo. Não chorei e, ainda não o fiz; está entalado o choro, assim como o grito que quis dar. Mas, Deus não me deixou na mão... teve passe-livre em Porto Alegre! Logo que cheguei em frente ao Presídio e comentei com a moça da mercearia onde deixo minha bolsa, ela me emprestou o dinheiro para voltar pra casa, (pra POA não precisava, mas pra Gravataí sim!), e para comprar algumas coisas que faltavam. Também, pudera... Há dois anos que deixo meus pertences sob a guarda dela!
Chegando na Galeria E1, amorzão percebeu que eu estava estranha. Contar pra que? Pra ele ficar nervoso, pra ele se culpar, pra ele saber tudo o que acontece? Não preciso de choradeira, nem de nervosismo, muito menos de babá. Deixei o dia limpo, claro e feliz, como tinha que ser. Arrozinho dormiu grudadinho no papai, quase a manhã toda. Almoçamos juntos, em família. Fomos presenteados!
A amiga Ariane Costa Leite, estudante de Direito da UniRitter, estagiária no Conselho Penitenciário, teve a iniciativa de arrecadar doações de brinquedos, livros, etc., para que fossem entregues aos filhos dos apenados da Galeria E1. Através da Carmela Grüne, idealizadora do Projeto Direito no Cárcere, desenvolvido na E1, as doações foram entregues e, os reeducandos puderam presentear seus filhos com brinquedos, bolas, enfim, alegraram e alegraram-se. Era lindo de ver. Segue foto de um dos presentes que o Arrozinho ganhou do papai. Tem uma bola também, mas anda pela casa. Consegui "salvar" o aviãozinho!
Nenhum assunto foi sobre demora do judiciário, recesso, estresse, coisas ruins. Conversamos apenas, sobre a importância que terá nossa união, para o nosso filhote; planos para futuros empreendimentos, alguma coisa que possa ajudar outros egressos e, até mesmo suas famílias, uma cooperativa, talvez?!; alguns pingos nos i's e, felicidade. Não saí de lá com peso nas costas, nem tristeza no olhar. Ele sabe que está acabando o período difícil e uma era de alegrias e liberdade está cada vez mais próxima; sabe também, que faço tudo o que está ao meu alcance e, se não alcanço, dou um pulinho e pronto!, tudo resolvido.
Depois de passar nos computadores e dar saída no sistema da SUSEPE, outro presente! Como havia comentado outrora aqui no Blog, no post Amenizando o Sofrimento (http://www.amornocarcere.blogspot.com.br/2012/10/amenizando-o-sofrimento.html), a Brigada Militar, através de seu efetivo no PCPA, distribui mimos para os filhos dos presos. Pensei em não pegar nada para o Arrozinho, visto que ele já havia recebido presentes "do papai". Larguei minha ficha de saída no balcão e, ao virar de costas, uma Soldada da BM gritou: "Moça!, tem um presentinho pro bebê!" - era um ouriço laranja, de borracha, daqueles que têm apito e é bem gostoso de morder...
Óbvio que papai perdeu o prestígio! - risos. Este, é colorido, macio, e faz barulho!! (Papai nunca poderá ler este trecho do Blog...) Além dos brinquedinhos, as crianças recebiam iogurte e um baita sorriso, daquelas que poderiam não ter noção, do tamanho do bem que estavam fazendo.
Confesso aos amigos que, não presenteei o Arrozinho. Comprei apenas uma roupinha, para que ele possa passar o Ano Novo, bem bonito ao lado do papai e, quem me pergunta o que dar à ele, a resposta está na ponta da língua: Fraldas! - risos. Mas, ele ter sido presenteado lá, não tem preço.
No mais, adoráveis pessoas que lêem o Blog, estamos vivos e resistimos a mais um "episódio da vida real". Só tenho a agradecer, e parece que estou sendo chata, sei que estou, por ficar agradecendo... Mas, é assim! Obrigada à Carmela, à Ariane, aos demais que fizeram suas doações e eu não sei quem são. Obrigada a BM, em especial, Adriane, Sandra, Ivanilde, Guerra, Neves, Franciele, e tantas outras super queridas, que não lembro o nome. "Obrigadão" ao pessoal do Face, que me aguentam dia e noite, vibram, choram e riem comigo; aos Juízes Mauro Caum e Sidinei Brzuska, aos tantos advogados e professores que me guiam, aconselham e aturam!
O Natal já passou, mas, desejo a todos vocês, um próspero Ano Novo, repleto de alegrias, conquistas, lutas, realizações. Não esqueçam de fazerem muito amor, porque move o relógio do mundo e, de darem muitos beijos e abraços em quem se ama!
A propósito, está na cabeça do meliante, a bola que papai deu a ele. Murcha, mas tá valendo a foto! ;)
Um espaço destinado aos familiares de "presos", pessoas que acreditam na ressocialização dos indivíduos que encontram-se reclusos, estudantes de Direito, ativistas dos Direitos Humanos e sociedade em geral, que queira saber um pouco mais do "outro lado do cárcere".
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
domingo, 16 de dezembro de 2012
E hoje, descobri que sou...
Sou a 1ª mulher a pisar na lua - dos meus sonhos
Sou a única Juíza existente - na minha Comarca
Sou a primeira e única cria - da minha espécie
Sou a Presidenta - do País das Maravilhas
Sou o Habeas Corpus - da tua esperança
Sou uma Maria - dentre tantas
Sou o direito - de um humano
Sou a advogada - do meu réu
Sou o réu - no teu processo
Sou o amor - da vida 'dele'
Sou a mãe - do Arrozinho
Sou a liberdade - do nosso amor
Tantas e tantas coisas passamos dentro do Presídio Central. Discutimos, choramos, abraçamos, amamos, concebemos, sorrimos, cantamos, dormimos, gritamos, e não esqueço de um segundo, de um mínimo detalhe. Creio que jamais esquecerás também; sei que foi muito mais intenso amor, sei que a tua estadia foi mais dura. Porque, aos olhos dos comentadores da vida alheia, ficar aí é moleza, "só esperando pela íntima". Mas, sabemos que não é assim. A ansiedade toma conta, eu sei; porque eu, do lado de fora, quase perdia o coração. Imagino tu.
Por falar em imaginar... Já imaginastes como estão as coisas aqui fora? Nossa... muita coisa mudou. Ruas trocaram sentidos, erguem prédios 'estilo pombal' a cada novo dia, reciclar está na moda, mas me parece que as ruas andam mais poluídas que nunca. Não, não... pode ser só impressão minha. Confundo poluição com mentes poluídas, preconceituosas.
E, é disso que tenho medo. Dessa tua liberdade que está chegando e, das coisas que vêm acompanhando ela. O preconceito, os olhares desaprovadores, os famosos tapinhas nas costas e os falsos sorrisos. Sei que não dá bola pra isso, mas magoa, machuca e derruba.
Vou fazer o máximo esforço possível para que não penses em drogas, nem em drogas de pessoas. Porquê, para nos erguer, são poucos. Para detonar , são muitos. Um exército, uma sociedade inteira.
Quero continuar sendo teu ponto de apoio, por todos os anos que nos restarem. Sem esquecer de sermos felizes com nosso filhote; aliás, ele já nos trouxe tanta alegria em tão pouco, que não seria justo não vivermos felizes ao lado dele.
Tenho medo do que está por vir, de não conseguir. Mas, já tive medo antes e, olha aí, né?! Tudo se encaminhando... Vamos para qual destino? Norte, Sul, Leste, Oeste? Pensando bem, pouco interessa, porque eu só sei que "por onde for, quero ser seu par"!
Obrigada pelo dia de hoje. Fostes para o Arrozinho, o pai que, com certeza, Deus quer que tu seja sempre; me fizestes feliz como nunca. Nos espere para o Natal, amor. Esperamos que seja a última visita ao PCPA.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Time after Time
Vi no perfil do Facebook de um advogado, uma imagem do humorista (?!) Danilo Gentili, com a seguinte citação do mesmo: "Se o Lula tiver envolvido no mensalão e for preso, não dou dois meses para surgir o Sindicato dos Presidiários do ABC, e de lá, surgir o novo Presidente." Noutro dia, li a seguinte frase: "Empresa de Segurança, contrata ex-presidiário para cargo de vigia noturno em condomínio de luxo, pode isso Arnaldo?!", seguida de diversos comentários debochados. Agora me respondam:
Qual é o problema de um ex-presidiário ser presidente, ser vigia, ser cidadão?
Em tempos virtuais, até entendo (mas, não compreendo!), que advogados e demais profissionais na área jurídica, compartilhem imagens e postagens que contenham algum tipo de preconceito, mas não acho aceitável. Hipocrisia. Defender e receber os honorários é bom, mas, ressocializar, estender a mão, não serve? Parte-se do princípio que, os apenados devem sair melhores, de dentro das casas prisionais. Sabemos que não é bem assim que funciona. Mas, o mínimo a se fazer é dar uma nova chance, acreditar.
Garanto que, se as famílias dos apenados fossem mais unidas, obviamente já teríamos associações, sindicatos, etc., e não somente as ONG's; porém, as pessoas, geralmente, querem colocar uma pedra em cima das lembranças que os remetem a presídios e afins.
Mas, não se enganem comigo. Não irei abandonar a causa, ainda que as pessoas achem que nós devemos esquecer esse período de nossas vidas; Discordamos completamente, meu amor e eu. Tudo isso, faz parte de uma história, nossa história e a de vocês também, que lêem o Blog e me auxiliam tanto, mesmo que seja com palavras de incentivo.
Desse triste episódio, extraímos coisas boas, amigos! Tivemos um filho! O que pode ser maior que isso? Se souberem de algo que seja mais importante, nos avisem. Porque, com certeza, o Arrozinho saberá de suas origens, onde foi concebido e tudo o que lhe interessar. Não é vergonha pra ninguém ser fruto de um amor, onde quer que tenha sido desfrutado. Acho que esses dois anos de experiências e dessabores, podem ajudar muitas outras Marias a terem mais Esperanças e lutarem por uma sociedade mais justa e igualitária, seja para seus pais, filhos, esposos ou irmãos.
Nessa caminhada, ajudei muito, da maneira que podia e, fui muito ajudada. Tive vergonha e orgulho, tive tristezas, muitas. Mas, não é por isso que esse passado/presente, vai ficar guardado apenas em nossas lembranças. Como boa gaúcha e peleadora que sou, digo: Mas, beeeeem capaz!
Todos que precisarem do meu auxilio, terão em mim, a Maria Esperança de sempre. Incansavelmente batalhadora, amiga, instrutora, ouvinte. Amante do Direito. E a Caroline também estará por aqui... Mas, ela vai tratar de cuidar dos seus e zelar por sua família, para que não aconteça nada parecido novamente.
Repito: Podem contar comigo, Time after Time!!!
Qual é o problema de um ex-presidiário ser presidente, ser vigia, ser cidadão?
Em tempos virtuais, até entendo (mas, não compreendo!), que advogados e demais profissionais na área jurídica, compartilhem imagens e postagens que contenham algum tipo de preconceito, mas não acho aceitável. Hipocrisia. Defender e receber os honorários é bom, mas, ressocializar, estender a mão, não serve? Parte-se do princípio que, os apenados devem sair melhores, de dentro das casas prisionais. Sabemos que não é bem assim que funciona. Mas, o mínimo a se fazer é dar uma nova chance, acreditar.
Garanto que, se as famílias dos apenados fossem mais unidas, obviamente já teríamos associações, sindicatos, etc., e não somente as ONG's; porém, as pessoas, geralmente, querem colocar uma pedra em cima das lembranças que os remetem a presídios e afins.
Mas, não se enganem comigo. Não irei abandonar a causa, ainda que as pessoas achem que nós devemos esquecer esse período de nossas vidas; Discordamos completamente, meu amor e eu. Tudo isso, faz parte de uma história, nossa história e a de vocês também, que lêem o Blog e me auxiliam tanto, mesmo que seja com palavras de incentivo.
Desse triste episódio, extraímos coisas boas, amigos! Tivemos um filho! O que pode ser maior que isso? Se souberem de algo que seja mais importante, nos avisem. Porque, com certeza, o Arrozinho saberá de suas origens, onde foi concebido e tudo o que lhe interessar. Não é vergonha pra ninguém ser fruto de um amor, onde quer que tenha sido desfrutado. Acho que esses dois anos de experiências e dessabores, podem ajudar muitas outras Marias a terem mais Esperanças e lutarem por uma sociedade mais justa e igualitária, seja para seus pais, filhos, esposos ou irmãos.
Nessa caminhada, ajudei muito, da maneira que podia e, fui muito ajudada. Tive vergonha e orgulho, tive tristezas, muitas. Mas, não é por isso que esse passado/presente, vai ficar guardado apenas em nossas lembranças. Como boa gaúcha e peleadora que sou, digo: Mas, beeeeem capaz!
Todos que precisarem do meu auxilio, terão em mim, a Maria Esperança de sempre. Incansavelmente batalhadora, amiga, instrutora, ouvinte. Amante do Direito. E a Caroline também estará por aqui... Mas, ela vai tratar de cuidar dos seus e zelar por sua família, para que não aconteça nada parecido novamente.
Repito: Podem contar comigo, Time after Time!!!
"If you're lost you can look
And you will find me, time after time
If you fall I will catch you
I'll be waiting, time after time"quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
"...Nada prende mais que um carinho..."
Quantas e quantas vezes, não quis pisar meus pés no Presídio Central. Batia a porta de casa as seis da manhã e me deslocava para lá, sempre pensando "porquê Deus deixa essas coisas acontecerem comigo?!", dentre tantos outros pensamentos, até mesmo suicídas, homicídas e tudo o mais que se possa imaginar.
Nos momentos de lucidez espiritual, pois sou adepta à doutrina espírita, entendia que tinha que passar por isso; mais uma aprovação, mais um desafio, uma G2 quem sabe?! Sim, porque, no mesmo ano, enterrar um filho, três meses depois o sogro e, o esposo ir preso, só se eu tivesse ficado em recuperação, em todas as matérias da vida.
Quantas e quantas vezes, eu pensei em desistir dele, mas nunca lá dentro. Porque desde que ele foi preso, senti pela primeira vez, que ele realmente precisava de mim, como amiga, como mãe, como mulher, como irmã. Porque, sou tudo isso pra ele. Repreendo quando necessário, aconselho, dou risada e amo. Amo muito. Amo tanto que ele chega a duvidar.
- Vem cá, hein?! - pergunto à ele, - Tu consegue ficar sem pensar em mim?
- Não, né... tu me incomoda até nos pensamentos. - responde ele sorrindo, com a boca e com aquelas enormes bolitas azuis, que ele insiste em chamar de olhos.
Me responde agora, como não amar esse ser, apaixonante, inteligente, carinhoso? Há quem diga, que ele é burro, por ter se envolvido com drogas. Discordo. Ele foi fraco, não burro. E no lugar onde se encontrava essa fraqueza, preenchi com amor. Por mim, pelo nosso Arrozinho. Hoje, o que era fraco, agora é forte, porque só o amor sustenta a alma. E uma alma sem amor, jamais conseguiria sobreviver - lucidamente -, no Presídio Central.
Quantas e quantas vezes, eu cansei. De chorar, de correr, de comer, de acordar, de viver. Suicídio não seria prova de amor, porque ele precisa de mim, se é amor, não há abandono. E jamais eu o abandonaria, onde quer que ele estivesse, no calabouço, na masmorra, no inferno ou no Central (que não difere muito dos anteriores). Cansei de muita coisa, mas nunca cansei de amá-lo.
Quantas e quantas vezes, brincamos. Porque não nos importa o lugar, o amor sempre foi mais forte. Sorrimos juntos, aproveitamos a "nossa" gestação do Arrozinho em cada visita que eu ia, ele mexia em minha barriga como se soubesse que conversava com o papai. E, quando nasceu, aos quatro dias foi visitá-lo, não chorou, olhou atentamente para ele e aproveitou o colinho dele por 30 minutos. Inesquecíveis.
Quantas e quantas vezes, quis que existisse uma Lei, que nos deixasse passar uma noite juntos, mesmo lá dentro, em qualquer lugar. Mesmo que ele não goste de cobertas e eu durma de edredom; mesmo que ele queira as janelas abertas e eu insista no ventilador; mesmo que ele me acorde à noite para amar - ok!, concordo que nesse momento, não há objeção alguma, de minha parte...
Quantas e quantas vezes, dei as costas para os portões da galeria E1, pensando que amanhã ou depois, seria o "grande dia".E, de fato, esse dia, está chegando. Por mérito meu, mérito dele, dos amigos reais e virtuais que nos estendem a mão e, mérito maior do Arrozinho, que fez o papai enxergar motivos para viver novamente.
Quantas e quantas vezes, questionaram meu amor. Nossas famílias, nossos conhecidos, ele mesmo. Os vinte e sete anos de diferença de idade, nada influenciam para mim, amor é amor, não importa a idade; creio que, mesmo no 'auge' dos meus vinte e dois anos, aprendi a amá-lo muito antes dele me amar. Pesaram as idades, o conflito de gerações e a incompatibilidade de gênios. Ele, adora dançar música lenta, já a louca aqui, adora um samba; ele, fica me provocando, enquanto eu caio nas provocações; ele, adora surpreender com presentes em datas inusitadas - praticamente todos os dias, enquanto eu, toda calculista, presenteio com aquilo que acho mais útil.
Quantas e quantas vezes, pensei que não éramos feitos um para o outro. Eis que a vida me pregou uma peça. O amor instalou-se em mim, e qualquer diferença que pudesse "fazer a diferença", dissipou-se no infinito do universo. Estou hoje aqui, declarando-me. E, se algum dia, meus amigos, ele duvidar do meu amor, poderão responder por mim que, em nenhum momento desses - quase - dois anos, deixei de pensar nele, nem um segundo sequer.
Ele pode ter a plena certeza que, mesmo que demore mais um ou dois meses, ou seja lá quanto tempo o judiciário demorar, eu estarei Right Here Waiting...
Nos momentos de lucidez espiritual, pois sou adepta à doutrina espírita, entendia que tinha que passar por isso; mais uma aprovação, mais um desafio, uma G2 quem sabe?! Sim, porque, no mesmo ano, enterrar um filho, três meses depois o sogro e, o esposo ir preso, só se eu tivesse ficado em recuperação, em todas as matérias da vida.
Quantas e quantas vezes, eu pensei em desistir dele, mas nunca lá dentro. Porque desde que ele foi preso, senti pela primeira vez, que ele realmente precisava de mim, como amiga, como mãe, como mulher, como irmã. Porque, sou tudo isso pra ele. Repreendo quando necessário, aconselho, dou risada e amo. Amo muito. Amo tanto que ele chega a duvidar.
- Vem cá, hein?! - pergunto à ele, - Tu consegue ficar sem pensar em mim?
- Não, né... tu me incomoda até nos pensamentos. - responde ele sorrindo, com a boca e com aquelas enormes bolitas azuis, que ele insiste em chamar de olhos.
Me responde agora, como não amar esse ser, apaixonante, inteligente, carinhoso? Há quem diga, que ele é burro, por ter se envolvido com drogas. Discordo. Ele foi fraco, não burro. E no lugar onde se encontrava essa fraqueza, preenchi com amor. Por mim, pelo nosso Arrozinho. Hoje, o que era fraco, agora é forte, porque só o amor sustenta a alma. E uma alma sem amor, jamais conseguiria sobreviver - lucidamente -, no Presídio Central.
Quantas e quantas vezes, eu cansei. De chorar, de correr, de comer, de acordar, de viver. Suicídio não seria prova de amor, porque ele precisa de mim, se é amor, não há abandono. E jamais eu o abandonaria, onde quer que ele estivesse, no calabouço, na masmorra, no inferno ou no Central (que não difere muito dos anteriores). Cansei de muita coisa, mas nunca cansei de amá-lo.
Quantas e quantas vezes, brincamos. Porque não nos importa o lugar, o amor sempre foi mais forte. Sorrimos juntos, aproveitamos a "nossa" gestação do Arrozinho em cada visita que eu ia, ele mexia em minha barriga como se soubesse que conversava com o papai. E, quando nasceu, aos quatro dias foi visitá-lo, não chorou, olhou atentamente para ele e aproveitou o colinho dele por 30 minutos. Inesquecíveis.
Quantas e quantas vezes, quis que existisse uma Lei, que nos deixasse passar uma noite juntos, mesmo lá dentro, em qualquer lugar. Mesmo que ele não goste de cobertas e eu durma de edredom; mesmo que ele queira as janelas abertas e eu insista no ventilador; mesmo que ele me acorde à noite para amar - ok!, concordo que nesse momento, não há objeção alguma, de minha parte...
Quantas e quantas vezes, dei as costas para os portões da galeria E1, pensando que amanhã ou depois, seria o "grande dia".E, de fato, esse dia, está chegando. Por mérito meu, mérito dele, dos amigos reais e virtuais que nos estendem a mão e, mérito maior do Arrozinho, que fez o papai enxergar motivos para viver novamente.
Quantas e quantas vezes, questionaram meu amor. Nossas famílias, nossos conhecidos, ele mesmo. Os vinte e sete anos de diferença de idade, nada influenciam para mim, amor é amor, não importa a idade; creio que, mesmo no 'auge' dos meus vinte e dois anos, aprendi a amá-lo muito antes dele me amar. Pesaram as idades, o conflito de gerações e a incompatibilidade de gênios. Ele, adora dançar música lenta, já a louca aqui, adora um samba; ele, fica me provocando, enquanto eu caio nas provocações; ele, adora surpreender com presentes em datas inusitadas - praticamente todos os dias, enquanto eu, toda calculista, presenteio com aquilo que acho mais útil.
Quantas e quantas vezes, pensei que não éramos feitos um para o outro. Eis que a vida me pregou uma peça. O amor instalou-se em mim, e qualquer diferença que pudesse "fazer a diferença", dissipou-se no infinito do universo. Estou hoje aqui, declarando-me. E, se algum dia, meus amigos, ele duvidar do meu amor, poderão responder por mim que, em nenhum momento desses - quase - dois anos, deixei de pensar nele, nem um segundo sequer.
Ele pode ter a plena certeza que, mesmo que demore mais um ou dois meses, ou seja lá quanto tempo o judiciário demorar, eu estarei Right Here Waiting...
"Wherever you go, Wherever you do,
I will be right here waiting for you;
Whatever you takes, Or how my heart breaks,
I will be right here waiting for you."
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