terça-feira, 3 de julho de 2012

O "peso da cadeia"...

Praticamente todos os dias, vemos/lemos/ouvimos, os meios de comunicação comentando a respeito das condições dos presídios, etc e todos os etc's possíveis. Mas, as pessoas só se revoltam, quando surge aquela notícia: "Governo gasta cerca 1.800 reais por mês com cada preso". Argumento falacioso dos governos que não sabem administrar suas casas prisionais e descarrega 'os encargos' nas costas do preso, que já cumpre sua pena em péssimas condições e além de ser visto como bandido pela sociedade, sai com fama de 'vagabundo que o povo sustenta e paga colchão'.
Agora, eu e mais centenas de pessoas que visitam presos por todo o Rio Grande do Sul, e carregam as sacolas, queremos saber, para onde (ou, para quem!), vai esse dinheiro. Sim, óbviamente queremos explicações; afinal, como a linguagem dos presos diz, "o peso da cadeia", quem sofre somos nós, os familiares.
Esse tal 'peso', está nas sacolas que levamos para eles e, gastamos nossos dinheiros suados, para oferecer o mínimo de dignidade ao cidadão, que era para estar passando por um processo de ressocialização e, não vivendo em condições subhumanas, como é na realidade.
Hoje, vou listar alguns itens, que podemos levar aos presos, para que assim, as pessoas parem de disseminar a velha mentirinha de que é o governo quem paga 'a estadia deles na cadeia'.

-Lista entregue ao familiar responsável pela sacola, no dia em que confecciona a carteirinha de acesso ao Presídio.

ATENÇÃO: Na sacola, deverão conter apenas 10 itens e todos, deverão vir acondicionados em embalagens transparentes.

Gêneros alimentícios: 1 óleo de soja, 1kg de tomate, 3 unid. de pimentão e 3 unid. de alho,  500gr de chuchu, 1kg de batata, 1kg de cebola, 1kg de arroz, 2kgs de açúcar cristal, 500gr de café em pó ou até 50gr. de Nescafé, 1 pote tamanho médio com comida pronta (sem maionese, sem molho, sem caldo, sem recheio), 1 sachê de maionese de 250gr., 500gr de lentilha,pão ou bolo (sem recheio ou cobertura), 500gr de bolacha (sem recheio), 500gr. de massa (exceto a massa canudo), 1 pote de 250gr. de margarina, 500gr de pastelina, 120gr. de suco em pó, até 2kgs de carne - salsicha, lingüiça, gado ou frango (não é permitida a entrada de carnes congeladas, com osso, porco e miúdos).
Obs.: Nos finais de semana, pode-se levar um tipo de doce, em um pote pequeno e transparente. (Barra de chocolate preto, sem castanhas ou flocos, até 250gr./ pudim sem calda/ pêssego sem calda/ salada de fruta, sem frutas cítricas e sem calda/ arroz de leite/ torta de bolacha de recheio simples/ flans ou mousses)

Itens diversos: 10 carteiras de cigarro e um isqueiro transparente, 1 prato + 1 colher + 1 copo - todos de material plástico, 10 fotografias de tamanho 15x10cm., 1 garrafa térmica de um litro sem pressão e desmontável, caderno sem aspiral e caneta transparente, 1 bomba de chimarrão chata e sem enfeites, 1 cortador de unhas pequeno e sem lixa, até 3 livros e/ou revistas com capa flexível ou jornal do dia sem as páginas dos classificados, 1 jogo de baralho, 1 caixa de coador de café ou 1 coador de café de tecido, 1 'rabo-quente', 1 espelho médio com armação de plástico, 5 peças de roupas, 1 toalha de rosto, 1 toalha de banho, 1 lençol sem elástico e 1 fronha, 1 par de tênis de solado baixo/flexível  sem cadarços, 1 chinelo de solado baixo e flexível, 1 cobertor simples sem costuras laterais.

Material de higiene e limpeza: 1 shampoo de até 350ml e 1 pente plástico, 2 sabonetes e 2 rolos de papel higiênico, 1 aparelho de barbear descartável e 1 desodorante em creme, 1 gel dental - não pode ser branco nem vermelho- e uma escova dental simples, 1 litro de desinfetante, 500gr de sabão em pó, 500gr de sabão em barra - cortado ao meio e não pode ser de glicerina.

Outros materias como: ventilador, televisão, refrigerador e rádio, devem ser solicitados pelo apenado e, quando a solicitação estiver pronta e encaminhada ao setor de revista, o familiar deverá levá-los com a devida Nota Fiscal em nome do preso ou, munido de um Termo de Doação registrado em cartório.

Veja bem, como escolher apenas dez itens para levar, se todos eles são necessários?! Como posso levar apenas 1kg de arroz se ele vai dividir com quantas bocas estiverem com fome?! Como levar apenas dois rolos de papel higiênico, se eu visitá-lo somente uma vez por mês?! Não culpamos a BM, sabemos que as sacolas com 10 itens já são difíceis de revistar porque sempre falta efetivo e espaço físico e boa vontade dos governantes e todos os 'etecéteras' possíveis...
 Foto: Sidinei Brzuska - revista das sacolas no Presídio Central de Porto Alegre.

Só quem já passou pela 'fila da sacola', sabe o peso que tem. Sabe o custo, sabe o suor e o sufoco que passamos para podermos comprar desde o material mais simples, até os alimentos, afinal, isso é sustentar 'duas casas'. Tudo que se leva para lá é especial, é diferente, chegam a indicar marcas de produtos que certamente não serão barrados na revista, por estarem dentro "das normas" estabelecidas. Esses dias, chegaram a estipular medidas para o pote que levamos alimentação.
Não sei se as pessoas conhecem a comida oferecida pelo governo maravilhoso, que gasta quase dois mil reais por mês com cada preso; mas, posso afirmar que ninguém teria coragem de comer se não estivesse com muita fome. Já provei. Não por estar necessitada e passando fome, Deus que me livre. Experimentei, para que meu companheiro não pensasse que tinha nojo daquele local, que eu era melhor que ele. Sempre fui muito companheira, no sentido literal e religioso da palavra - "... na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza...". Enfim, experimentei e, daquele dia em diante, dos dez itens que eu posso levar, sempre prezo a alimentação.
 Foto: Sidinei Brzuska - comida destinada aos presos. Os presos que não têm visitas, recebem o alimento em sacos plásticos e comem com as mãos, já que o governo todo maravilhoso e intocável, não fornece recipientes e/ou utensílios.

Canso de ouvir as pessoas dizerem que os presos comem e bebem de graça. Isso mesmo, canso. Cansei. Será que alguém poderia falar-lhes que isto é uma grande falácia? Será que alguém poderia falar-lhes que nem a água está em condições de ser consumida?
Quisera eu, poder entrar na cabeça de cada homem que sorri, ao ver um semelhante, passando por uma situação dessas. Nem os animais tratamos com indiferença e, nem deveríamos mesmo. São vidas. Todos. Homens, animais, plantas. Se temos tanta compaixão com outras raças, porque não, com a nossa?!

Além do preço alto de viver com o PRECONCEITO de ter um familiar preso, ainda temos que arcar com os custos que muitos têm a capacidade de dizer que O GOVERNO DÁ. Sabe o que o governo dá? Um tapa na cara da gente, que acredita na ressocialização, na superação e na capacidade de dar a volta por cima.

2 comentários:

Hélio disse...

A sociedade refratária acha que
está cumprindo um papel importante
em excluir os direitos à cultura e informação dessas pessoas a exemplo
nesse coletivo carcerário.
Você tem que continuar a escrever esse o ponto de vista de todos os apenados.

Gabi disse...

E la em charqueadas que são 5 itens apenas :/