Pessoal, sempre pensei que nunca aconteceria comigo; quando era criança, pensava que as epidemias jamais assolariam minha família, jamais eu faltaria a escola por causa de uma bactéria, um vírus ou uma abdução. Pois é, e não é que nunca tive nada, mesmo?! Nem unha encravada (naquela época, porque hoje em dia, o salto não perdoa as unhas dos meus dedões!!). Enfim, essa semana, fui surpreendida com a notícia de que, euzinha!, estou com GRIPE A (gripe suína, H1N1, como vocês preferirem).
Os sintomas são horríveis mesmo: dor muscular, dor e enrijecimento das juntas, dor e ardência nos olhos, febre com início súbito entre 39 e 40 graus, ânsia de vômito, etc. Esses que listei, foram apenas alguns, dos sintomas que me pegaram de jeito.
Daí, fico me perguntando: Imagine um dos presos do Central, com Gripe A. Imaginou?! É impossível. Não pelas condições do local, muito menos pelo trânsito de pessoas por lá, que é enorme. Mas, já pararam para pensar na epidemia, nas mortes? Sim. Muitos morreriam, afinal, cadê o tratamento médico? Se não tem nem para nós, que estamos 'livres', imagine para eles!
Por isso, sociedade caridosa, que empresta dinheiro para o estrangeiro e fecha os olhos frente as adversidades dos seus, OS PRESOS DEVEM SIM, RECEBER A VACINA CONTRA A H1N1!
"Mas, são bandidos!" - sempre vai ter um idiota pra dizer. São bandidos, mas têm família. Eles têm esposa, filhos, alguém vai chorar por eles também.
A vacina, deveria ser para todos, concordo. Mas, não é por isso, que não deveria ser para eles!
"Falamos no vírus da tuberculose quando lembramos da cadeia; Falamos no vírus do HIV quando lembramos das meretrizes; Falamos no vírus da gripe quando lembramos de idosos; Mas, o vírus, que com toda a certeza, mais assola a população mundial, é o da ignorância, da falta de informação e o do egoísmo. Cuidado! Eles estão à solta e, qualquer pessoa pode adquirí-los."
Um espaço destinado aos familiares de "presos", pessoas que acreditam na ressocialização dos indivíduos que encontram-se reclusos, estudantes de Direito, ativistas dos Direitos Humanos e sociedade em geral, que queira saber um pouco mais do "outro lado do cárcere".
segunda-feira, 30 de julho de 2012
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Uma carta de agradecimento...
Primeiramente, essa carta foi escrita por meu esposo e me foi entregue dia 21/07/2012 - sábado, na visita que eu fiz a ele no PCPA.
PCPA, 13 de Julho de 2012.
AGRADECIMENTO
Quero agradecer a todos os colaboradores do Projeto Direito no Cárcere (http://www.facebook.com/DireitonoCarcere), que nos ajuda a filtrar a poluição do passado e, oxigenar o futuro para uma nova vida sem drogas.
Agradeço, principalmente, Carmela Grüne, que é a nossa madrinha; com sua presença semanal, incentivando nosso crescimento e a oportunidade de expressão através da música e da leitura, fortalecendo a auto-estima. Sempre lembrando que, todos temos a oportunidade de participar deste tratamento de saúde física e mental.
Espero que as autoridades competentes, nos ajudem a ganhar mais espaço, para que tantos outros possam se livrar desta doença, que tornou-se agravante na superlotação carcerária e, não deixando o 'sistema' cumprir com seu dever de ressocializar os apenados, ficando os mesmos, armazenados em depósitos humanos. Aguardando o direito de sua liberdade, sem oferta e oportunidade de mudança.
Estou há um ano no Projeto e sinto-me curado do vício. Exames toxicológicos, feitos periódicamente, não apontam mais a droga em meu organismo. Nada consta. Estou feliz e apto a retornar a sociedade, cumprir com meus deveres, sociais e familiares.
Graças a este tão importante Projeto, nossas atitudes provam que podemos mudar. NÃO DEIXEM DE APOSTAR! Sou grato por tudo e todos.
N.R.J.
terça-feira, 24 de julho de 2012
Saudades...
Hoje estou sendo julgada, pelo tribunal da saudade.
Se acaso for condenada a passar longos anos em uma prisão,
Rezo para que ela seja seus braços.
- Dia chuvoso, propício para instalar-se o caos nos corações apaixonados, separados por grades. Dia de visita, mas, não posso ir. Compromissos fora, casa, filho, trabalho... Uma loucura, uma grade, uma tortura.
Lembro que num dia assim, em Abril de 2010, chuva cainda, céu plúmbeo... estávamos enterrando um filho e, em Dezembro do mesmo ano, pensei que estaríamos enterrando todos os nossos sonhos, num grande cemitério de almas, chamado Presídio Central.
Agora, um ano e sete meses depois, faltando apenas 5 - longos! - meses para tua saída pro regime semi-aberto, sinto que os sonhos são como flores. Uma sementinha, cresce e floresce. Se tu não arrancar pela raíz, ela nascerá novamente. Somos assim. Grandes arbustos, grandes flores, boas sementes.
Te amo, cada dia mais te amo. Sei que estarás logo, logo, aqui; me esquentando neste inverninho.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Porquê?
Parece título de texto infantil, infelizmente não é. Mas, todas as vezes que visito meu esposo no Central, ouço milhares de perguntas, milhares de "Porquê's?".
Por que devemos passar por toda aquela humilhação; Por que tanta demora na fila; Por que tanta demora na revista das sacolas; Por que não deixam entrar uma mulher de brincos, mas deixam entrar um prestobarba? (ele pode matar, sabiam?!); Por que não podemos levar frutas cítricas; Por que pode levar arroz de leite, mas não pode levar pêssego em calda, com a calda, se ela é transparente; Por que isso, por que aquilo, "porquês" de todos os tipos, com acento, sem acento, junto, separado; enfim, uma série infinda de questões sem respostas. Ao menos, sem uma resposta decente.
Se todos que julgassem, soubessem tudo o que se passa. Se todos soubessem dos sofrimentos, das tristezas, das lágrimas e até mesmo dos amores que alí surgem, talvez entendessem. Pois é, a questão é essa; As pessoas sabem, mas não entendem. (Não entendem, e se nunca tiverem um ente querido preso, jamais saberão o significado da saudade, o terrível sentimento de impotência, nem a extensão do amor!)
Esses dias, uma pessoa me disse: "- Tu escolheu assim, passar por tudo isso; poderia nunca ter ido visitá-lo."
Agora, se alguém puder me responder - porquê eu realmente não compreendi, como uma pessoa pode ser tão cruel. Ela ama? Não... só pode ser um eremita, enclausurado em seu mundo de solidão e pó na estante dos livros de romance. Como poderia eu, deixar de amar, porque ele cometeu um erro? Quem sou eu para não perdoar? Afinal, qualquer pessoa que erra, vai parar na porta de uma Igreja Evangélia e eles perdoam e ainda te transformam em pastor!
Não consigo conceber a idéia de que uma pessoa abandona a outra; existia, de fato, amor? Ou era apenas um descarrego de desejo carnal? Fico me indagando, se o criminoso não está no lugar errado. Abandono também é crime e, abandonar um coração, deveria receber a mais severa das punições do universo; ainda mais, num local daqueles, sujo, vazio. Sujo de pensamentos, porque quando se está recluso, o mundo passa na tua cabeça e, nada do que é bom fica nítido, só em sonhos. Vazio de coisas boas, a tristeza, danada, sempre teima em aparecer, acompanhada do sofrimento, da solidão.
Se um dia eu o abandonar, seja lá qual for o motivo, podem me prender. Não no Pelletier, seria fácil demais; Prendam-me em uma solitária, em meio a montanhas rochosas, que nem cantem os passarinhos.
#Posso desabafar e trocar o foco do 'porque', mas, as perguntas continuam aí. Alguém sabe responder?!
- Sobre a demora na fila... no último domingo, deve ter acontecido alguma coisa de muito grave na sala de revistas; mulheres que chegaram na fila as 9 horas da manhã, conseguiram passar pela revista somente as 14hrs. Um absurdo, uma vergonha. Frio, fome, sede. E, quem estava 'encarangando' de frio? As visitas que não podem entrar com mais de três peças de roupas (uma blusa, um moletom/blusão e um casaco - sem forro!), ou os PM's que ficam quentinhos, com seu chimarrão e suas camadas de roupas debaixo do grosso uniforme?! Podemos passar um pouquinho de trabalho, 'a gente não se mixa', mas não precisam abusar, né?!
Obs.: Meus dias de visita são as terças e sábados. Recebi uma mensagem no Facebook, avisando da situação do domingo passado no Central. Triste, mas já passei por isso também. Fica registrada nossa indignação aqui.
Foto: Sidinei Brzuska - Será que ele pode nos ajudar, melhor... será que consegue?! Não, não o brigadiano; esse daí, coitado, não tem nem como se ajudar... Tô falando do 'santo guerreiro'...
Por que devemos passar por toda aquela humilhação; Por que tanta demora na fila; Por que tanta demora na revista das sacolas; Por que não deixam entrar uma mulher de brincos, mas deixam entrar um prestobarba? (ele pode matar, sabiam?!); Por que não podemos levar frutas cítricas; Por que pode levar arroz de leite, mas não pode levar pêssego em calda, com a calda, se ela é transparente; Por que isso, por que aquilo, "porquês" de todos os tipos, com acento, sem acento, junto, separado; enfim, uma série infinda de questões sem respostas. Ao menos, sem uma resposta decente.
Se todos que julgassem, soubessem tudo o que se passa. Se todos soubessem dos sofrimentos, das tristezas, das lágrimas e até mesmo dos amores que alí surgem, talvez entendessem. Pois é, a questão é essa; As pessoas sabem, mas não entendem. (Não entendem, e se nunca tiverem um ente querido preso, jamais saberão o significado da saudade, o terrível sentimento de impotência, nem a extensão do amor!)
Esses dias, uma pessoa me disse: "- Tu escolheu assim, passar por tudo isso; poderia nunca ter ido visitá-lo."
Agora, se alguém puder me responder - porquê eu realmente não compreendi, como uma pessoa pode ser tão cruel. Ela ama? Não... só pode ser um eremita, enclausurado em seu mundo de solidão e pó na estante dos livros de romance. Como poderia eu, deixar de amar, porque ele cometeu um erro? Quem sou eu para não perdoar? Afinal, qualquer pessoa que erra, vai parar na porta de uma Igreja Evangélia e eles perdoam e ainda te transformam em pastor!
Não consigo conceber a idéia de que uma pessoa abandona a outra; existia, de fato, amor? Ou era apenas um descarrego de desejo carnal? Fico me indagando, se o criminoso não está no lugar errado. Abandono também é crime e, abandonar um coração, deveria receber a mais severa das punições do universo; ainda mais, num local daqueles, sujo, vazio. Sujo de pensamentos, porque quando se está recluso, o mundo passa na tua cabeça e, nada do que é bom fica nítido, só em sonhos. Vazio de coisas boas, a tristeza, danada, sempre teima em aparecer, acompanhada do sofrimento, da solidão.
Se um dia eu o abandonar, seja lá qual for o motivo, podem me prender. Não no Pelletier, seria fácil demais; Prendam-me em uma solitária, em meio a montanhas rochosas, que nem cantem os passarinhos.
#Posso desabafar e trocar o foco do 'porque', mas, as perguntas continuam aí. Alguém sabe responder?!
- Sobre a demora na fila... no último domingo, deve ter acontecido alguma coisa de muito grave na sala de revistas; mulheres que chegaram na fila as 9 horas da manhã, conseguiram passar pela revista somente as 14hrs. Um absurdo, uma vergonha. Frio, fome, sede. E, quem estava 'encarangando' de frio? As visitas que não podem entrar com mais de três peças de roupas (uma blusa, um moletom/blusão e um casaco - sem forro!), ou os PM's que ficam quentinhos, com seu chimarrão e suas camadas de roupas debaixo do grosso uniforme?! Podemos passar um pouquinho de trabalho, 'a gente não se mixa', mas não precisam abusar, né?!
Obs.: Meus dias de visita são as terças e sábados. Recebi uma mensagem no Facebook, avisando da situação do domingo passado no Central. Triste, mas já passei por isso também. Fica registrada nossa indignação aqui.
Foto: Sidinei Brzuska - Será que ele pode nos ajudar, melhor... será que consegue?! Não, não o brigadiano; esse daí, coitado, não tem nem como se ajudar... Tô falando do 'santo guerreiro'...
quinta-feira, 12 de julho de 2012
"R-A-P - A idéia de quem crê!"
O título do post, é uma frase da música Bem Nessa, do grupo de rappers gaúcho, Da Guedes.
O que é RAP? "Rap é um estilo musical raro em que o texto é mais importante que a linha melódica ou a parte harmônica." (Fonte Wikipédia) Mas, o que realmente é o rap? O senso comum, define rap, como a música da periferia ou, pejorativamente falando, música de cadeia.
Vou confessar que, também era preconceituosa. Para mim, rap começava e terminava com Racionais Mc's e seu 'negro drama, entre o sucesso e a lama'. Depois que meu esposo foi preso, e descobri que não se escuta somente rap dentro do presídio (sim, eles escutam até músicas românticas; atualmente, as modinhas são Luan Santana, pagodes diversos e, até Restart!). Mas, passei a olhar o rap com outros olhos. Concordo que seja a voz da periferia, afinal, qual membro da 'high society' que está preso para escutar Mozart e Chopin em seus aposentos carcerários?!
O rap fala por nós, por eles, pelos que calam. O rap é uma forma de expressão popular, encantadora. Acreditem-me, as letras, quando prestamos atenção, falam muito, falam tudo, falam o que as pessoas não têm coragem de dizer. O título do post, como supracitado, é uma frase de uma composição de rap. E, define muito bem o que é este estilo: "R-A-P - a idéia de quem crê!" - a idéia de escrever sobre tudo o que nos aflige, sempre crendo que dias melhores virão.
Como não poderia deixar de mencionar (mais uma vez), o Projeto Direito no Cárcere. Os apenados que encontram-se na galeria em que se desenvolve o projeto - E1 Luz no Cárcere, são expert's em rap. Suas vozes se elevam e conseguem passar para o ouvinte todo o vazio, toda a tristeza e a falta de oportunidade que proporcionamos a estes cidadãos que estão pagando pelos erros cometidos. O rap que é 'meu xodózinho', é de autoria de: Rafael Leandro Silva de Souza, entitulada "Jamais Vou Desistir", muito me emociona. Espero que gostem e curtam a vibe que esse som passa. Melodia super calma, letra muito esclarecedora.
Obs.: Mesmo presos, eles não esquecem do orgulho de serem gaúchos.
Direito no Cárcere do Facebook - http://www.facebook.com/DireitonoCarcere
O que é RAP? "Rap é um estilo musical raro em que o texto é mais importante que a linha melódica ou a parte harmônica." (Fonte Wikipédia) Mas, o que realmente é o rap? O senso comum, define rap, como a música da periferia ou, pejorativamente falando, música de cadeia.
Vou confessar que, também era preconceituosa. Para mim, rap começava e terminava com Racionais Mc's e seu 'negro drama, entre o sucesso e a lama'. Depois que meu esposo foi preso, e descobri que não se escuta somente rap dentro do presídio (sim, eles escutam até músicas românticas; atualmente, as modinhas são Luan Santana, pagodes diversos e, até Restart!). Mas, passei a olhar o rap com outros olhos. Concordo que seja a voz da periferia, afinal, qual membro da 'high society' que está preso para escutar Mozart e Chopin em seus aposentos carcerários?!
O rap fala por nós, por eles, pelos que calam. O rap é uma forma de expressão popular, encantadora. Acreditem-me, as letras, quando prestamos atenção, falam muito, falam tudo, falam o que as pessoas não têm coragem de dizer. O título do post, como supracitado, é uma frase de uma composição de rap. E, define muito bem o que é este estilo: "R-A-P - a idéia de quem crê!" - a idéia de escrever sobre tudo o que nos aflige, sempre crendo que dias melhores virão.
Como não poderia deixar de mencionar (mais uma vez), o Projeto Direito no Cárcere. Os apenados que encontram-se na galeria em que se desenvolve o projeto - E1 Luz no Cárcere, são expert's em rap. Suas vozes se elevam e conseguem passar para o ouvinte todo o vazio, toda a tristeza e a falta de oportunidade que proporcionamos a estes cidadãos que estão pagando pelos erros cometidos. O rap que é 'meu xodózinho', é de autoria de: Rafael Leandro Silva de Souza, entitulada "Jamais Vou Desistir", muito me emociona. Espero que gostem e curtam a vibe que esse som passa. Melodia super calma, letra muito esclarecedora.
Obs.: Mesmo presos, eles não esquecem do orgulho de serem gaúchos.
"Podem me prender, podem me matar, mas aí a minha voz, ninguém pode calar!
Jamais, vou desistir, tenho fé, que vou sair."
Vídeo gravado no Projeto Direito no Cárcere - Galeria E1 - Coletivo Luz no Cárcere - PCPA
quarta-feira, 11 de julho de 2012
É tempo de votar...
Foi dada a largada. Há cerca de uma semana, os candidatos a prefeitura e a vereança das cidades de todo o Brasil, já estão nas ruas fazendo campanha. No primeiro debate da cidade de Porto Alegre, os sete canditatos a ocupar o cargo de prefeito da capital gaúcha - Adão Villaverde (PT), Érico Correa (PSTU), Jocelin Azambuja (PSL), José Fortunati (PDT), Manuela D'Ávila (PC do B), Roberto Robaina (PSOL) e Wambert Di Lorenzo (PSDB), foram apresentar suas propostas e seus blablablás para os temas: saúde, educação, segurança, mobilidade urbana e, pasmem!, sistema prisional. Depois da inserção do tema, fiquei pensando: será que o sistema prisional está incomodando tanto assim, a ponto de 'os deuses do Olimpo' dignarem-se a debater a respeito???
Porquê? Se os presos estão esquecidos e a mercê (mais uma vez), da marginalidade; já que seus governos, não desenvolvem políticas de ressocialização, de reinserção de um 'ex-presidiário' à sociedade, quiçá ao mercado de trabalho. Não conseguem nem cumprir com as obrigações básicas do Estado, como pagar a remuneração devida, ao preso que desenvolve trabalhos dentro dos presídios, (ex.: limpeza das áreas comuns, etc), direito do preso, dever do Estado, assegurado pelo art. 29 da LEP.
Podem dizer que estou escrevendo bobagens, que quem deve pagar essa remuneração é o governo estadual e, não o municipal; mas, veja bem: grandes partidos, representados por seus 'grandes' candidatos (deputados estaduais, federais, advogados, etc.), não fizeram nada a respeito em todos esses anos, porque farão agora?!
"Considerando que a segurança pública é responsabilidade de todos, o Sr.(a) doaria uma área da Capital para construção de um novo presídio, se assim fosse solicitado pelo Governo Estadual para desafogar o Presídio Central?" - esse era o teor da pergunta.
Quem respondeu (Erico Correa - PSTU), começa com um discurso razoável, o mesmo discurso que defendemos, dignidade, ressocialização, prioridade com a questão humana, etc. Depois, começam os ataques e, 'que deveriam ter celas reservadas para os corruptos, que são os grandes criminosos'. Não discordo de uma vírgula; mas, será que esse discursinho revolucionário, a lá Guevara, cola? Se o próprio Partido dos Trabalhadores que era a favor dessa posição política, largou de mão, porque, cá entre nós, não pega tão bem assim...
E a resposta aos argumentos de Erico Correa, veio de Jocelin Azambuja - PSL, (alguém conhece ele e o patido???); Jocelin fala do passado, fala da falta de educação, etc. Enfim, dois candidatos com boas falas, com 'boa vontade' como os outros (tive que rir agora!), mas, falando sério mesmo... Alguém aqui acha que eles é quem deveriam responder/comentar essa questão?!
E, que pergunta foi essa, meu Deus!!! Deveriam estar debatendo áreas para construir centros educacionais e/ou de atividades, para que os pais saíssem para trabalhar e os filhos não fossem aliciados pelos criminosos de fato. Deveriam estar falando, de maiores e melhores ofertas de emprego, para que os cidadãos não precisem se vender para a criminalidade.
EDUCAÇÃO - para que não percamos nossas crianças e, que elas não percam a infância;
SAÚDE - para que não percamos as estribeiras (por consequência, assassinem um médico);
CONSCIÊNCIA - na hora de votar, para que não percamos a nossa fé!
#Uma dica: chega de votar em palhaços, alegando "voto de protesto"; de 'Tiriricas' na política, já estamos cheios!
Porquê? Se os presos estão esquecidos e a mercê (mais uma vez), da marginalidade; já que seus governos, não desenvolvem políticas de ressocialização, de reinserção de um 'ex-presidiário' à sociedade, quiçá ao mercado de trabalho. Não conseguem nem cumprir com as obrigações básicas do Estado, como pagar a remuneração devida, ao preso que desenvolve trabalhos dentro dos presídios, (ex.: limpeza das áreas comuns, etc), direito do preso, dever do Estado, assegurado pelo art. 29 da LEP.
Podem dizer que estou escrevendo bobagens, que quem deve pagar essa remuneração é o governo estadual e, não o municipal; mas, veja bem: grandes partidos, representados por seus 'grandes' candidatos (deputados estaduais, federais, advogados, etc.), não fizeram nada a respeito em todos esses anos, porque farão agora?!
"Considerando que a segurança pública é responsabilidade de todos, o Sr.(a) doaria uma área da Capital para construção de um novo presídio, se assim fosse solicitado pelo Governo Estadual para desafogar o Presídio Central?" - esse era o teor da pergunta.
Quem respondeu (Erico Correa - PSTU), começa com um discurso razoável, o mesmo discurso que defendemos, dignidade, ressocialização, prioridade com a questão humana, etc. Depois, começam os ataques e, 'que deveriam ter celas reservadas para os corruptos, que são os grandes criminosos'. Não discordo de uma vírgula; mas, será que esse discursinho revolucionário, a lá Guevara, cola? Se o próprio Partido dos Trabalhadores que era a favor dessa posição política, largou de mão, porque, cá entre nós, não pega tão bem assim...
E a resposta aos argumentos de Erico Correa, veio de Jocelin Azambuja - PSL, (alguém conhece ele e o patido???); Jocelin fala do passado, fala da falta de educação, etc. Enfim, dois candidatos com boas falas, com 'boa vontade' como os outros (tive que rir agora!), mas, falando sério mesmo... Alguém aqui acha que eles é quem deveriam responder/comentar essa questão?!
E, que pergunta foi essa, meu Deus!!! Deveriam estar debatendo áreas para construir centros educacionais e/ou de atividades, para que os pais saíssem para trabalhar e os filhos não fossem aliciados pelos criminosos de fato. Deveriam estar falando, de maiores e melhores ofertas de emprego, para que os cidadãos não precisem se vender para a criminalidade.
EDUCAÇÃO - para que não percamos nossas crianças e, que elas não percam a infância;
SAÚDE - para que não percamos as estribeiras (por consequência, assassinem um médico);
CONSCIÊNCIA - na hora de votar, para que não percamos a nossa fé!
#Uma dica: chega de votar em palhaços, alegando "voto de protesto"; de 'Tiriricas' na política, já estamos cheios!
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Não é direito...
"Faz isso, faz aquilo, não faz tipo, não faz merda, não use drogas, não faça amor. Cometa um crime, contra a sociedade, contra a sanidade, contra o teu ser. Tira de dentro do peito essa mágoa, mas deixa, que vem alguém e logo te esmaga, com a enxurrada de Leis.
Estranho... os que aprovam, mandam e desmandam, são os mais cretinos, são os mais cruéis. São os mais 'desobedientes'. Só sabem lembrar dos nossos deveres, o resto, é direito que não é. É direito que sumiu, direito que fizeram errado, já não é direito, é torto.
Tenha o direito de votar, mas, lembre-se do dever de calar na hora da luta pra sobreviver. Não sussurre, é proibido. Não grite, apenas dê ouvidos. Visita íntima? Na penumbra. Se o povo descobre, tu é a 'vagabunda'. 'Já não fazem amor, fazem sexo animal', dizem os faladores. Enquanto nas filas de presídios, cultivam-se os amores.
Vote para desarmar, não desarme. Vote para mudar, mas cale. Me viu fazendo algo errado? Mentira, nem sei. Conte para alguém, tiro a 'telha' que te dei. Nos debates, falam em áreas pra presídios... Já pensaram em construir, um lugar pra nossos filhos?! Educação, saúde, segurança, só em campanha, depois ficam na lembrança.
Pronto, falei. Essa é a minha voz, única arma que usei."
Minha indignação hoje, é por causa de alguns comentários a respeito da visita íntima que os presos têm direito. Porque você, que está aqui, do lado de cá do portão, pode e eles não?! Sexo é bom pra ti, porque não para eles?! Vocês sabiam que a visita íntima é, apenas algumas horinhas na cela, a sós com a companheira?! Ah... e estão se esquecendo de uma coisa muito importante: nós - as companheiras - também temos desejos, sentimos saudades, sentimos tesão! Somos humanos e, o sexo, o prazer sexual, é intrínseco ao ser.
Não estão me atingindo ao dizerem que se deve proibir as visitas íntimas, mas, quero deixar bem claro, que não é apenas para 'descarregar o estresse' ou uma simples necessidade física. Tem química, tem a relação construída aqui, tem o AMOR.
"O que está preso é o corpo, e não a mente."- Carmela Grüne. A frase da Carmela, só reforça minha tese de que, é possível sim, pensar coisas boas naquele lugar, fazer coisas boas. Nada impede um apenado de amar, nada impede de que o sexo seja maravilhoso, que sejamos felizes, mesmo que por alguns segundos. Sexo é importante na relação, hipócrita aquele que diz que não.
Sinto uma alegria imensa, quando ele estende os lençóis, cheirosos, que ele lavou para me esperar; ver o ambiente limpo e organizado, porque ele sabia que eu iria estar lá, mesmo que o ato não seja consumado, os momentos que passamos juntos, são impagáveis.
#Ao contrário do que as pessoas pensam, não somos obrigadas a fazer sexo, fazemos amor. E, se vocês, meus caros, não podem/não conseguem/não gostam de sexo, não posso fazer nada. Mas, please!, deixem-nos em paz. Se o meu sexo te incomoda, não posso fazer nada; apenas, continuo amando e, emanando energias positivas ao universo!
SE NÃO É DIREITO MEU, TAMBÉM NÃO É DIREITO TEU!
Estranho... os que aprovam, mandam e desmandam, são os mais cretinos, são os mais cruéis. São os mais 'desobedientes'. Só sabem lembrar dos nossos deveres, o resto, é direito que não é. É direito que sumiu, direito que fizeram errado, já não é direito, é torto.
Tenha o direito de votar, mas, lembre-se do dever de calar na hora da luta pra sobreviver. Não sussurre, é proibido. Não grite, apenas dê ouvidos. Visita íntima? Na penumbra. Se o povo descobre, tu é a 'vagabunda'. 'Já não fazem amor, fazem sexo animal', dizem os faladores. Enquanto nas filas de presídios, cultivam-se os amores.
Vote para desarmar, não desarme. Vote para mudar, mas cale. Me viu fazendo algo errado? Mentira, nem sei. Conte para alguém, tiro a 'telha' que te dei. Nos debates, falam em áreas pra presídios... Já pensaram em construir, um lugar pra nossos filhos?! Educação, saúde, segurança, só em campanha, depois ficam na lembrança.
Pronto, falei. Essa é a minha voz, única arma que usei."
Minha indignação hoje, é por causa de alguns comentários a respeito da visita íntima que os presos têm direito. Porque você, que está aqui, do lado de cá do portão, pode e eles não?! Sexo é bom pra ti, porque não para eles?! Vocês sabiam que a visita íntima é, apenas algumas horinhas na cela, a sós com a companheira?! Ah... e estão se esquecendo de uma coisa muito importante: nós - as companheiras - também temos desejos, sentimos saudades, sentimos tesão! Somos humanos e, o sexo, o prazer sexual, é intrínseco ao ser.
Não estão me atingindo ao dizerem que se deve proibir as visitas íntimas, mas, quero deixar bem claro, que não é apenas para 'descarregar o estresse' ou uma simples necessidade física. Tem química, tem a relação construída aqui, tem o AMOR.
"O que está preso é o corpo, e não a mente."- Carmela Grüne. A frase da Carmela, só reforça minha tese de que, é possível sim, pensar coisas boas naquele lugar, fazer coisas boas. Nada impede um apenado de amar, nada impede de que o sexo seja maravilhoso, que sejamos felizes, mesmo que por alguns segundos. Sexo é importante na relação, hipócrita aquele que diz que não.
Sinto uma alegria imensa, quando ele estende os lençóis, cheirosos, que ele lavou para me esperar; ver o ambiente limpo e organizado, porque ele sabia que eu iria estar lá, mesmo que o ato não seja consumado, os momentos que passamos juntos, são impagáveis.
#Ao contrário do que as pessoas pensam, não somos obrigadas a fazer sexo, fazemos amor. E, se vocês, meus caros, não podem/não conseguem/não gostam de sexo, não posso fazer nada. Mas, please!, deixem-nos em paz. Se o meu sexo te incomoda, não posso fazer nada; apenas, continuo amando e, emanando energias positivas ao universo!
SE NÃO É DIREITO MEU, TAMBÉM NÃO É DIREITO TEU!
domingo, 8 de julho de 2012
Amém!
Esse texto, é da escritora gaúcha, Martha Medeiros; foi escrito em agosto de 1997, entitulado Pai Nosso, até hoje, tem muito a ver com a situação vivida pelo povo brasileiro.
Pai nosso que estais no céu, dê uma espiada aqui pra baixo e veja com seus próprios olhos, as coisas continuam bem para quem está bem e seguem um descalabro para quem sempre esteve mal, anda cada vez mais difícil acreditar que alguém um dia terá competância para acabar com a miséria, os homens andam desacreditados, as mulheres desenxabidas e as crianças sofrem jejum.
Santificado seja o vosso nome que tem sido usado em vão para nominar outros deuses que habitam a Bahia e o Planalto, que habitam palácios e manchetes, que nada mais fazem que transferir o poder de uns para os outros e inventar frases que serão reproduzidas nos jornais mas que só alteram para pior a trajetória de quem não sabe ler.
Venha a nós o vosso reino que parece um lugar clássico e de bom gosto, onde as harpas estão em primeiro lugar nas paradas em vez de Reginaldo Rossi, um lugar onde as pessoas não perdem a cabeça por causa de uma freada e nem matam a família por causa de uma enxaqueca, um lugar onde todos têm saúde e a previdência funciona, e o que é mehor, é cobertura.
Seja feita a vossa vontade assim na Terra como no Céu, mas principalmente na Terra, onde tem mãe vendendo o filho para pagar dívida de aluguel, pai dando sopa de capim para recém-nascido, a criança que não sabe juntar uma letra com a outra e que fica impossibilitada para sempre de trabalhar, viver e sonhar, essas coisas terrenas.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje, amanhã, terça, quarta e quinta, nos dai também leite, feijão, tomates e um pouco de fé, e se o Senhor não puder entregar pessoalmente, mande um de seus emissários, quem sabe o Fernando Henrique, que sabidamente não acredita no Senhor mas que deveria ao menos acreditar nele mesmo, ou no que ele foi um dia.
Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não são poucos: nos ofendem os diretores de hospitais que não conseguem manter seus médicos nos plantões, nos ofendem os ministros que fazem olho branco para a verba desviada, nos ofendem os que não querem mudar o país, e ofendo a mim mesma, iludida de que escrever ajuda, ajuda quase nada, e seu perdão ainda menos.
Não nos deixeis cair em tentação de fingir que nada acontece, que o país está progredindo e que temos muito o que comemorar nesses 500 anos de atraso, corrupção e excesso de malandragem, instituída e aceita como traço de personalidade, livrai-nos de perder o bom senso e a atenção, livrai-nos desse ceticismo que a cada dia se justifica e de todo mal que temos feito a nós mesmos, amém.
- Dedico o post de hoje, para o cineasta e amigo, Hélio Rodrigues. 'Em teu nome Hélio, desejo sorte e muita força pro Freixo e pro Yuka, afinal, parece (depois que lemos o texto), que praticamente nada mudou. A mudança de fato, precisa ser radical. A hora é agora, cidadão!'
Foto: Sidinei Brzuska
#Segunda-feira, retorno com os post's sobre o sistema prisional.
Pai Nosso
Pai nosso que estais no céu, dê uma espiada aqui pra baixo e veja com seus próprios olhos, as coisas continuam bem para quem está bem e seguem um descalabro para quem sempre esteve mal, anda cada vez mais difícil acreditar que alguém um dia terá competância para acabar com a miséria, os homens andam desacreditados, as mulheres desenxabidas e as crianças sofrem jejum.
Santificado seja o vosso nome que tem sido usado em vão para nominar outros deuses que habitam a Bahia e o Planalto, que habitam palácios e manchetes, que nada mais fazem que transferir o poder de uns para os outros e inventar frases que serão reproduzidas nos jornais mas que só alteram para pior a trajetória de quem não sabe ler.
Venha a nós o vosso reino que parece um lugar clássico e de bom gosto, onde as harpas estão em primeiro lugar nas paradas em vez de Reginaldo Rossi, um lugar onde as pessoas não perdem a cabeça por causa de uma freada e nem matam a família por causa de uma enxaqueca, um lugar onde todos têm saúde e a previdência funciona, e o que é mehor, é cobertura.
Seja feita a vossa vontade assim na Terra como no Céu, mas principalmente na Terra, onde tem mãe vendendo o filho para pagar dívida de aluguel, pai dando sopa de capim para recém-nascido, a criança que não sabe juntar uma letra com a outra e que fica impossibilitada para sempre de trabalhar, viver e sonhar, essas coisas terrenas.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje, amanhã, terça, quarta e quinta, nos dai também leite, feijão, tomates e um pouco de fé, e se o Senhor não puder entregar pessoalmente, mande um de seus emissários, quem sabe o Fernando Henrique, que sabidamente não acredita no Senhor mas que deveria ao menos acreditar nele mesmo, ou no que ele foi um dia.
Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não são poucos: nos ofendem os diretores de hospitais que não conseguem manter seus médicos nos plantões, nos ofendem os ministros que fazem olho branco para a verba desviada, nos ofendem os que não querem mudar o país, e ofendo a mim mesma, iludida de que escrever ajuda, ajuda quase nada, e seu perdão ainda menos.
Não nos deixeis cair em tentação de fingir que nada acontece, que o país está progredindo e que temos muito o que comemorar nesses 500 anos de atraso, corrupção e excesso de malandragem, instituída e aceita como traço de personalidade, livrai-nos de perder o bom senso e a atenção, livrai-nos desse ceticismo que a cada dia se justifica e de todo mal que temos feito a nós mesmos, amém.
- Dedico o post de hoje, para o cineasta e amigo, Hélio Rodrigues. 'Em teu nome Hélio, desejo sorte e muita força pro Freixo e pro Yuka, afinal, parece (depois que lemos o texto), que praticamente nada mudou. A mudança de fato, precisa ser radical. A hora é agora, cidadão!'
Foto: Sidinei Brzuska
#Segunda-feira, retorno com os post's sobre o sistema prisional.
sábado, 7 de julho de 2012
Família I
O post de hoje, foi uma contribuição de Taís Farias, esposa de um apenado que cumpre pena no PCPA, galeria 2ª do B. O esposo dela, escreveu um rap, demonstrando seu amor à família.
"Aqui é um prisioneiro do Central que só espera a liberdade,
E, de minha esposa e filhas, estou morrendo de saudades;
Por essa família maravilhosa agradeço a Deus,
Pois, esse foi o presente mais lindo que ele me deu;
Taís, minha esposa linda, você é tudo que sonhei,
Sempre esteve dando força, quando eu mais precisei;
É minha guerreira de fé, pra mim, melhor mulher do mundo,
A pessoa que eu amo, mulher que tenho orgulho;
Minhas filhas muito belas, aí! Maria Eduarda,
Saiba que o pai te ama, tu é uma filha abençoada.
Laura Luiza, Stefane Raquel amo vocês,
Vocês são o meu tesouro o presente que ganhei;
Quero que ouçam sua mãe e que vocês sejam unida,
Com carinho e amor, assim que age uma família;
E minha mãe, mulher que me pôs no mundo,
Ser seu filho é uma honra, ser seu filho é um orgulho;
Meu irmão nêgo Felipe, ouça: aqui é o seu irmão!
Tenha orgulho em trabalhar, por que o crime é ilusão.
Não esquecendo nêgo Vladi, que tá junto no presídio,
Meu irmão gladiador, tá peleando aqui comigo;
Em breve vem a liberdade e nós iremos saltar,
Voltaremos lá pra rua, onde é nosso lugar!
E tudo ficará melhor, eu estarei com minha família,
Isso é tudo que eu desejo, penso nisso todo dia!
Logo estarei de volta, não desacreditarei,
Para minha esposa e filhas, sou o Facada amo vocês!"
Composição: Tiago Facada - o apelido 'Facada', se deve ao motivo pelo qual ele foi preso. Fazem cinco anos que ele está preso e, todo esse tempo, Taís nunca o abandonou. Por isso: "... Eu só sei que confio na moça e na moça eu ponho a força da fé...". Tudo isso, a música, a história deles (semelhante a muitas outras), e a foto logo abaixo, só reforçam a tese de que a família é a base; mesmo que tenhas cometido um erro, quando parar pra refletir, botar a mão na consciência, verás que tua família sempre esteve alí. Ao lado.
Foto: Sidinei Brzuska
# Estranho comentar isso... mas, a 'cadeia' serve também, para unir as famílias. Frente as adversidades, o ser humano procura se unir, formando uma corrente de força/energia, que resulta em amor; e o amor, por sua vez, provoca a união. As pessoas - sociedade em geral -, sempre criticam dizendo que, quando estavam soltos, 'eles' nem davam bola pra ninguém, antes de 'cometerem crimes' e irem presos, não lembravam da mãe, dos filhos, da esposa; enfim, quando mesmo é que o ser humano busca Deus?! Ah, pois é... Esperam uma enfermidade, uma desilusão, um problema, muitas vezes, sem solução. É como diz aquele velho ditado: "O macaco adora olhar para o rabo dos outros!" Para os comentaristas da vida alheia, um minuto de reflexão.
"Aqui é um prisioneiro do Central que só espera a liberdade,
E, de minha esposa e filhas, estou morrendo de saudades;
Por essa família maravilhosa agradeço a Deus,
Pois, esse foi o presente mais lindo que ele me deu;
Taís, minha esposa linda, você é tudo que sonhei,
Sempre esteve dando força, quando eu mais precisei;
É minha guerreira de fé, pra mim, melhor mulher do mundo,
A pessoa que eu amo, mulher que tenho orgulho;
Minhas filhas muito belas, aí! Maria Eduarda,
Saiba que o pai te ama, tu é uma filha abençoada.
Laura Luiza, Stefane Raquel amo vocês,
Vocês são o meu tesouro o presente que ganhei;
Quero que ouçam sua mãe e que vocês sejam unida,
Com carinho e amor, assim que age uma família;
E minha mãe, mulher que me pôs no mundo,
Ser seu filho é uma honra, ser seu filho é um orgulho;
Meu irmão nêgo Felipe, ouça: aqui é o seu irmão!
Tenha orgulho em trabalhar, por que o crime é ilusão.
Não esquecendo nêgo Vladi, que tá junto no presídio,
Meu irmão gladiador, tá peleando aqui comigo;
Em breve vem a liberdade e nós iremos saltar,
Voltaremos lá pra rua, onde é nosso lugar!
E tudo ficará melhor, eu estarei com minha família,
Isso é tudo que eu desejo, penso nisso todo dia!
Logo estarei de volta, não desacreditarei,
Para minha esposa e filhas, sou o Facada amo vocês!"
Composição: Tiago Facada - o apelido 'Facada', se deve ao motivo pelo qual ele foi preso. Fazem cinco anos que ele está preso e, todo esse tempo, Taís nunca o abandonou. Por isso: "... Eu só sei que confio na moça e na moça eu ponho a força da fé...". Tudo isso, a música, a história deles (semelhante a muitas outras), e a foto logo abaixo, só reforçam a tese de que a família é a base; mesmo que tenhas cometido um erro, quando parar pra refletir, botar a mão na consciência, verás que tua família sempre esteve alí. Ao lado.
Foto: Sidinei Brzuska
# Estranho comentar isso... mas, a 'cadeia' serve também, para unir as famílias. Frente as adversidades, o ser humano procura se unir, formando uma corrente de força/energia, que resulta em amor; e o amor, por sua vez, provoca a união. As pessoas - sociedade em geral -, sempre criticam dizendo que, quando estavam soltos, 'eles' nem davam bola pra ninguém, antes de 'cometerem crimes' e irem presos, não lembravam da mãe, dos filhos, da esposa; enfim, quando mesmo é que o ser humano busca Deus?! Ah, pois é... Esperam uma enfermidade, uma desilusão, um problema, muitas vezes, sem solução. É como diz aquele velho ditado: "O macaco adora olhar para o rabo dos outros!" Para os comentaristas da vida alheia, um minuto de reflexão.
"É a vida, é bonita e é bonita!"
Para muitos, apenas uma música; para mim, uma verdade. Quem nunca se pegou cantando um trecho de "O que é, o que é?", de Gonzaguinha?! Hoje, estava cheia de idéias e pouco tempo para escrever. Queria falar sobre as crianças, filhos de presos (as), que visitam seus pais nos presídios da vida, que desde pequenas sofrem o preconceito na pele. Mas, tudo isso junto, me levou a falar do amor. (Daí, vocês devem estar se perguntando, o porquê da música, o porquê de eu ter citado Gonzaguinha. Bora lá, então!)
A exemplo de Carmela Grüne, (já citei ela no primeiro post do Blog e, já deixo avisado que ela servirá de exemplo, muitas e muitas vezes por aqui), que através do projeto Samba no Pé & Direito na Cabeça (http://www.facebook.com/SambaNoPeDireitoNaCabeca), 'que tem como objetivo demonstrar a existência de métodos alternativos ao ensino do direito e promover a cidadania por meio da música', vou falar um pouco da condição de familiar/esposa de um preso, através da música também.
A exemplo de Carmela Grüne, (já citei ela no primeiro post do Blog e, já deixo avisado que ela servirá de exemplo, muitas e muitas vezes por aqui), que através do projeto Samba no Pé & Direito na Cabeça (http://www.facebook.com/SambaNoPeDireitoNaCabeca), 'que tem como objetivo demonstrar a existência de métodos alternativos ao ensino do direito e promover a cidadania por meio da música', vou falar um pouco da condição de familiar/esposa de um preso, através da música também.
Viver! E não ter a vergonha de ser feliz...
Porque me envergonhar? Não sei, não teria motivos. Isso mesmo. Não teria, verbo ter, conjugado no passado. Vergonha de quê, por quê? Não é do meu esposo, nem do amor que cultivo em meu peito, tão louco, irracional, incondicional. A vergonha que tenho, é do povo e seu 'senso comum', (tantas vezes incomum), que julga. E no tribunal das ruas, a lei é mais severa: o júri, sempre bem popular, julga a revelia e, se pudesse (Deus-que-me-livre!), voltava ao tempo da inquisição e queimaria "bandido", como filósofo hermético, em praça pública. Triste isso, mas muito me envergonha o meu povo, que já nem sei mais se é "meu", se me aceita, por eu ser mulher de "bandido".
Ah meu Deus! Eu sei, eu sei... Que a vida devia ser bem melhor, e será!
Será sim, dias melhores virão e, como não poderia deixar de citar Quintana: 'Eles passarão e eu passarinho.', eu, meu companheiro e nosso filho. Esperando o dia do grito de liberdade, para sermos passarinhos livres. Nosso ninho, o mundo. Nossas asas, a imaginação. Eu acredito e, enquanto estiver acreditando, estou vivendo.
E a vida! E a vida, o que é? Diga lá, meu irmão...
Ela é a batida, de um coração, Ela é uma doce ilusão... Hê! Hô!...
Ela é a batida, de um coração, Ela é uma doce ilusão... Hê! Hô!...
A vida, sofrimento, desilusão, descontentamento, chuva, frio, dias nublados, grades, barras de ferros, cadeados, fardas, cães farejadores, solidão, muros, sol quadrado, penumbra, choro, tristezas, pensamentos perdidos. Tudo do lado de lá do muro, é mais duro. Mas, enquanto houver o lado de cá, com amor no peito, calor humano, sol raiando, e almas transbordando esperança, tá tudo certo.
E a vida, ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é? Meu irmão...
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é? Meu irmão...
A vida é um pouco de tudo, um misto quente. Céu e inferno na terra, amor - muito amor! -, e ódio. Embora, muitas vezes pareça haver muito mais ódio. Mas, enquanto houver pessoas que acreditem umas nas outras, que olhem pelo próximo, eu saberei responder o que é a vida. E, não se enganem, a vida é muito mais! Mesmo para quem está lá; porque - pasmem! -, eles sonham.
Eu só sei que confio na moça, e na moça eu ponho a força da fé...
Somos nós que fazemos a vida, como der, ou puder, ou quiser...
Somos nós que fazemos a vida, como der, ou puder, ou quiser...
E as "moças", todos sabem... são as únicas pessoas dem que eles confiam. Sou uma dessas tantas "moças", cheias de fé, que amanhecem na porta de um presídio, porque amanhã ou depois, até mesmo bem depois, tudo vai dar certo. E a gente sabe, a gente sente. Somos nós, que seguramos a onda, a barra, o choro. Somos nós que amamos.
E a pergunta roda, e a cabeça agita...
E, mais um dia. mais uma noite longe da gente, longe da vida de verdade. E a gente, mais uma noite vazia, cheia de pensamentos e incertezas, cheia de esperanças; dias, cheios de dificuldades, cheios de trabalho e suor. Cheios de carinho, amor e dedicação, toda vez que se cruza o portão. E, mesmo depois de toda essa mistura, de todos esses sentimentos espalhados, prefiro assim:
Eu fico com a pureza, da resposta das crianças...
É a vida, é bonita e é bonita...
É a vida, é bonita e é bonita...
Foto: Sidinei Brzuska - uma noiva entrando no PCPA. Jéssica N. Mileski, foi ao encontro do amor, no lugar mais inusitado. Parabéns Vinícius Mileski, ela te ama muito e, prova mais uma vez, para todos, que o amor não tem barreiras.
Como não repetir: "É BONITA E É BONITA!"
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Do ócio, a arte!
Segundo o art. 41 da LEP (Lei de Execuções Penais), todo preso tem o direito ao trabalho e, com ele, a remissão. Sendo assim, se o Estado, em virtude de sua incapacidade administrativa não puder proporcionar trabalho ao preso, ele não deveria ser prejudicado, tendo o direito da remissão garantido. Não concordam? Mas, enquanto essa questão não é respondida, vou dissertar um pouco sobre os trabalhos que os presos desenvolvem nos respectivos locais em que cumprem suas penas.
No Central, diversos apenados cumprem funções, tais como: serviços gerais (cuidam da manutenção e das obras; essa semana mesmo, estão reformando a entrada das visitas!), alguns cuidam do canil, muitos são cozinheiros (trabalham na cozinha geral do presídio), etc. Mas, a função mais curiosa é: Plantão da Chave. Isso mesmo que você está pensando: "Como pode, o próprio preso cuidar das chaves dos portões do presídio?". Não se engane... Eles cuidam somente dos cadeados dos portões das galerias, a chave do portão de entrada e saída, é única e exclusivamente da BM. E, cuidar da chave, não deve ser 'tão boa coisa', afinal, são os primeiros a se darem mal no caso de uma rebelião. Pois, a maioria dos demais apenados, não aceitam muito bem, o fato de outros presos trabalharem para/com a Brigada Militar; ainda mais, neste ofício! Mas, muitos nem se preocupam com nada, afinal a remissão e a possibilidade de sair do ócio, já compensam. E muito.
Foto: Sidinei Brzuska - vale ressaltar, que todo apenado que trabalha no Central, usa um colete laranja como este, com a identificação do setor em que exerce sua função.
Uma pena, que essas oportunidades não chegam a todos os presos, afinal, são quase cinco mil homens, não tem trabalho para todos. Coloquei a frase desta forma, ainda que receberei críticas a respeito da mesma. Não quis dizer que não há serviço, quis dizer que não há como organizar trabalho para todos naquele local; visto que, também não é a intenção do governo, senão, eles estariam "virando concreto" para as Secretarias de Obras e Viação espalhadas pelo RS.
Contudo, muitos dos presos, buscam algo para fazer, ocupar a mente e o tempo ocioso. Alguns criam cantinas clandestinas (me aprofundarei no assunto em outra oportunidade), outros montam oficinas, alguns cortam cabelos, montam chaveiros/costuram bolas/montam bijouterias para empresas privadas em troca de uns tostões e dias de remissão de pena;
Foto: Sidinei Brzuska - presas pintam bonecos Bob Sponja.
Mas, com toda a certeza, posso afirmar que a atividade que mais exercem é o artesanato. Criam móbiles com linhas e fitas, confeccionam peças de crochê, fazem esculturas com cartolina, outros esculpem em sabonetes, tenho a informação que em alguns presídios eles bordam chinelos (Havainas) com miçangas, tudo muito lindo e os trabalhos são bem caprichados.
Sabemos que o artesanato não os levará muito longe, uma empresa não contrata experts em dobraduras, nem escultores de banho; porém, nos equivocamos em dizer que estas atividades não os ajuda. Muitos tiram o sustento 'da cadeia', dos trabalhos artesanais que vendem para os outros presos, presentearem seus familiares e, ajuda muito a passar o tempo.
Foto: Tais Farias - flores e vaso, feitos de cartolina. Galeria B do PCPA, comandada pela Facção Os Manos.
Foto: Tais Farias - móbile de corações. Artesanato no PCPA.
Não podemos falar em trabalho prisional, sem falar no depois, sem falar em ressocialização (aliás, quem acompanha o Blog, verá que utilizo muito desta importante expressão), por fim, sem comentar uma iniciativa que muito me emocionou e fez ter mais um pouco de... como é mesmo o nome (?!)... ah! sim... Esperança!
"Empresa que atua na área da construção civil de Porto Alegre, cujo nome não é divulgado atendendo a política de privacidade da instituição, vem empregando vários presos do regime semiaberto, com carteira assinada e encargos sociais. Os resultados têm sido ótimos, para todos os envolvidos. A empresa tem alcançado os seus objetivos, rendendo elogios aos trabalhadores. E os presos, muitos deles, pela primeira vez estão tendo contas bancárias, contracheques, podendo comprar a crédito. Enfim, resgatando a sua cidadania."
Foto e comentário: Sidinei Brzuska (em breve, farei um post sobre ele)
Agora, compartilho com vocês, algumas peças de minha 'coleção particular' de esculturas em sabonete*¹. Uma pena, que não seja o meu esposo o escultor, ele apenas comprou para me presentear. Mas, o que vale é a intenção, não é mesmo?!
Casal de coelhinhos brancos, meus xodózinhos.
O cupido e a mensagem entregue ao destinatário correto.
O fusca conversível, é a peça preferida do meu esposo. Se vocês pudessem ver os detalhes, entenderiam.
A moto amarela, lembra uma moto que tivemos, todas as peças têm um significado para nós.
E, por fim, a manifestação da FÉ! Muito importante na vida de todos eles, para que, além de depósito de gente, aquele lugar não seja conhecido também, por 'crematório de cérebros' - como diria o amigo Hélio Rodrigues.
*¹ - O rapaz que fazia as esculturas que recebi de presente, foi assassinado, quando saiu do regime fechado, para o semi-aberto.
#Gostaria de lembrar, que em meus textos, sempre comento e posto fotos a respeito do Presídio Central, porque é o único que tenho contato e posso falar com propriedade.
No Central, diversos apenados cumprem funções, tais como: serviços gerais (cuidam da manutenção e das obras; essa semana mesmo, estão reformando a entrada das visitas!), alguns cuidam do canil, muitos são cozinheiros (trabalham na cozinha geral do presídio), etc. Mas, a função mais curiosa é: Plantão da Chave. Isso mesmo que você está pensando: "Como pode, o próprio preso cuidar das chaves dos portões do presídio?". Não se engane... Eles cuidam somente dos cadeados dos portões das galerias, a chave do portão de entrada e saída, é única e exclusivamente da BM. E, cuidar da chave, não deve ser 'tão boa coisa', afinal, são os primeiros a se darem mal no caso de uma rebelião. Pois, a maioria dos demais apenados, não aceitam muito bem, o fato de outros presos trabalharem para/com a Brigada Militar; ainda mais, neste ofício! Mas, muitos nem se preocupam com nada, afinal a remissão e a possibilidade de sair do ócio, já compensam. E muito.
Foto: Sidinei Brzuska - vale ressaltar, que todo apenado que trabalha no Central, usa um colete laranja como este, com a identificação do setor em que exerce sua função.
Uma pena, que essas oportunidades não chegam a todos os presos, afinal, são quase cinco mil homens, não tem trabalho para todos. Coloquei a frase desta forma, ainda que receberei críticas a respeito da mesma. Não quis dizer que não há serviço, quis dizer que não há como organizar trabalho para todos naquele local; visto que, também não é a intenção do governo, senão, eles estariam "virando concreto" para as Secretarias de Obras e Viação espalhadas pelo RS.
Foto: Sidinei Brzuska - preso fabricando chaveiros. Não tenho a informação de qual estabelecimento prisional foi feito este registro.
Contudo, muitos dos presos, buscam algo para fazer, ocupar a mente e o tempo ocioso. Alguns criam cantinas clandestinas (me aprofundarei no assunto em outra oportunidade), outros montam oficinas, alguns cortam cabelos, montam chaveiros/costuram bolas/montam bijouterias para empresas privadas em troca de uns tostões e dias de remissão de pena;
Foto: Sidinei Brzuska - presas pintam bonecos Bob Sponja.
Mas, com toda a certeza, posso afirmar que a atividade que mais exercem é o artesanato. Criam móbiles com linhas e fitas, confeccionam peças de crochê, fazem esculturas com cartolina, outros esculpem em sabonetes, tenho a informação que em alguns presídios eles bordam chinelos (Havainas) com miçangas, tudo muito lindo e os trabalhos são bem caprichados.
Sabemos que o artesanato não os levará muito longe, uma empresa não contrata experts em dobraduras, nem escultores de banho; porém, nos equivocamos em dizer que estas atividades não os ajuda. Muitos tiram o sustento 'da cadeia', dos trabalhos artesanais que vendem para os outros presos, presentearem seus familiares e, ajuda muito a passar o tempo.
Foto: Tais Farias - flores e vaso, feitos de cartolina. Galeria B do PCPA, comandada pela Facção Os Manos.
Foto: Tais Farias - móbile de corações. Artesanato no PCPA.
Não podemos falar em trabalho prisional, sem falar no depois, sem falar em ressocialização (aliás, quem acompanha o Blog, verá que utilizo muito desta importante expressão), por fim, sem comentar uma iniciativa que muito me emocionou e fez ter mais um pouco de... como é mesmo o nome (?!)... ah! sim... Esperança!
"Empresa que atua na área da construção civil de Porto Alegre, cujo nome não é divulgado atendendo a política de privacidade da instituição, vem empregando vários presos do regime semiaberto, com carteira assinada e encargos sociais. Os resultados têm sido ótimos, para todos os envolvidos. A empresa tem alcançado os seus objetivos, rendendo elogios aos trabalhadores. E os presos, muitos deles, pela primeira vez estão tendo contas bancárias, contracheques, podendo comprar a crédito. Enfim, resgatando a sua cidadania."
Foto e comentário: Sidinei Brzuska (em breve, farei um post sobre ele)
Agora, compartilho com vocês, algumas peças de minha 'coleção particular' de esculturas em sabonete*¹. Uma pena, que não seja o meu esposo o escultor, ele apenas comprou para me presentear. Mas, o que vale é a intenção, não é mesmo?!
Casal de coelhinhos brancos, meus xodózinhos.
O cupido e a mensagem entregue ao destinatário correto.
O fusca conversível, é a peça preferida do meu esposo. Se vocês pudessem ver os detalhes, entenderiam.
A moto amarela, lembra uma moto que tivemos, todas as peças têm um significado para nós.
E, por fim, a manifestação da FÉ! Muito importante na vida de todos eles, para que, além de depósito de gente, aquele lugar não seja conhecido também, por 'crematório de cérebros' - como diria o amigo Hélio Rodrigues.
"... cuida do meu coração, da minha vida, do meu destino, do meu caminho, cuida de mim!"Cuida de mim, dele e de todos que lá se encontram; seja a trabalho ou, por cumprimento de suas penas. Cuida daqueles que têm compaixão e o mínimo de consciência de que, todos merecemos uma segunda chance e, aqueles que sorriem ao ver a desgraça alheia, perdoe. Amém.
*¹ - O rapaz que fazia as esculturas que recebi de presente, foi assassinado, quando saiu do regime fechado, para o semi-aberto.
#Gostaria de lembrar, que em meus textos, sempre comento e posto fotos a respeito do Presídio Central, porque é o único que tenho contato e posso falar com propriedade.
quarta-feira, 4 de julho de 2012
E a dignidade?!
Sempre quando o assunto é 'cadeia', ouvimos os moralistas de plantão falando: menos visitas, menos regalias, menos sacolas, menos celulares, menos drogas, menos tênis caro, menos colchão, menos comida. É tanta redução, que é de se pensar que os presos vivem num spa.
Quem, das pessoas que lêem o Blog, já entraram em um Presídio? Já puderam ver de perto a realidade; homens com os pés no chão, em pleno inverno gaúcho, usando somente uma camiseta, chinelos feitos de garrafas pet e muitas outras cenas chocantes.
Não são todos os presos que recebem visitas e, os que não recebem, são chamados de 'caídos'. São eles que limpam as áreas comuns das galerias, em troca de cigarros, um pacote de bolachas, uma camiseta, um cobertor. Logo que meu esposo foi preso, levei um cobertor de casal enorme, para ele. Na outra visita, reclamei, dizendo que o cobertor estava pela metade, que era sacanagem e tal. Quando olhei para o lado e vi uma senhora sentada num colchão com seu filho, cobertos com a metade que faltava no 'nosso' cobertor, senti vergonha, por ter sido mesquinha. Daquele dia em diante, sempre levei as coisas em maior quantidade (sempre dentro das quantidades estipuladas), se antes eu levava um sabonete por semana, passei a levar dois, para que ele pudesse dividir com os outros que tinham menos que nós.
Não posso dizer que passei necessidades, porque nossa situação financeira sempre foi estável, ele trabalhava e eu sempre tive ótimos empregos. Quando ele foi preso, eu era gerente de vendas em uma loja e, os meus patrões (antigos e os atuais), souberam desde o início que ele tinha sido preso e me deram todo o apoio possível. Mas, e se eu não tivesse uma estrutura para bancar essa 'segunda casa'? Sim, é praticamente uma segunda casa, pois temos que ter um orçamento todo especial para comprarmos os materiais e para o transporte dos dias de visita.
Já expliquei como funciona o esquema de sacolas, já expliquei como funciona a revista corporal dos visitantes, mas, não expliquei como são as coisas lá, como dormem, como é o banheiro, como é o pátio; enfim, são tantas coisas que precisam ser ditas. Vamos lá!
Foto: Sidinei Brzuska
Esse é o pátio de uma galeria do Central, não consigo confirmar se é da galeria D, mas parece ser. Debaixo da marquise, ficam os presos que têm visitas. Os que não tem, ficam no meio do pátio, caminhando, jogando cartas, etc., faça chuva ou faça sol. É verdade, eles respeitam mais as pessoas quando estão presos. Aqueles que não recebem visita, seja naquele dia ou nunca, não se misturam, só se são solicitados. Eles, sequer, podem olhar para a área em que se encontram as visitas. Quando passamos por eles, eles têm que virar de costas ou abaixar a cabeça, se precisarem de alguma coisa, são obrigados a pedir licença e, outras regras que eles tem que cumprir.
Foto: Sidinei Brzuska
Chocante? Só posso dar um conselho, pois tenho experiência no que digo: se forem sentar com o seu familiar preso, debaixo da marquise, sente bem ao fundo. Pois, se alguém no 'segundo ou terceiro andar', decidir dar a descarga da privada (?!), você corre o risco de ser premiado com uma brisa refrescante com odor nada agradável, ou objeto voador não identificado. Como podem ver, a rede de esgoto, está em estado deplorável, mais um problema para anotarem no caderninho de reformas...
Depois dos momentos agradáveis com seus familiares, os presos voltam para suas celas, onde tranquilamente, podem dormir com mais 15 em suas celas luxo. Sim! Eles dormem de valete (expressão usada para explicar o modo como dormem), em seus maravilhosos vectras (expressão usada para designar os colchões), com travesseiros de pena de ganso. Ah!, e para quem não quer dividir seu vectra, existe a opção, cama aérea, para que o preso durma 'confortavelmente' e sem problemas de 'roedores indesejáveis' atrapalhando o sono e, é claro, sem problemas com umidade, muito frequentes no Condomínio Central.
Foto: Sidinei Brzuska - ao fundo, as famosas jegas (expressão usada para designar as camas), e mais acima, a cama tramada, na qual me referi anteriormente 'cama aérea'.
No mais, acho que conseguiram "apreciar" um pouco do que o Condomínio Central pode oferecer de melhor, que é ensinar o real sentido do ditado "a dor ensina a gemer". E, para fechar o post de hoje com chave de ouro, veremos a fotografia de um projeto de engenharia, arquitetado por eles mesmos, para que as infiltrações não caiam nas celas e, escoem para o pátio.
Foto: Sidinei Brzuska - e, como diriam algumas pessoas: "além de tudo, ainda têm que ser engenheiros!"
Depois das fotos, e dos fatos, gostaria que alguém me respondesse: Cadê a ressocialização? Porque, para mim, isso parece mais uma regressão. E, a pergunta que não quer calar: Cadê a dignidade?!
Quem, das pessoas que lêem o Blog, já entraram em um Presídio? Já puderam ver de perto a realidade; homens com os pés no chão, em pleno inverno gaúcho, usando somente uma camiseta, chinelos feitos de garrafas pet e muitas outras cenas chocantes.
Não são todos os presos que recebem visitas e, os que não recebem, são chamados de 'caídos'. São eles que limpam as áreas comuns das galerias, em troca de cigarros, um pacote de bolachas, uma camiseta, um cobertor. Logo que meu esposo foi preso, levei um cobertor de casal enorme, para ele. Na outra visita, reclamei, dizendo que o cobertor estava pela metade, que era sacanagem e tal. Quando olhei para o lado e vi uma senhora sentada num colchão com seu filho, cobertos com a metade que faltava no 'nosso' cobertor, senti vergonha, por ter sido mesquinha. Daquele dia em diante, sempre levei as coisas em maior quantidade (sempre dentro das quantidades estipuladas), se antes eu levava um sabonete por semana, passei a levar dois, para que ele pudesse dividir com os outros que tinham menos que nós.
Não posso dizer que passei necessidades, porque nossa situação financeira sempre foi estável, ele trabalhava e eu sempre tive ótimos empregos. Quando ele foi preso, eu era gerente de vendas em uma loja e, os meus patrões (antigos e os atuais), souberam desde o início que ele tinha sido preso e me deram todo o apoio possível. Mas, e se eu não tivesse uma estrutura para bancar essa 'segunda casa'? Sim, é praticamente uma segunda casa, pois temos que ter um orçamento todo especial para comprarmos os materiais e para o transporte dos dias de visita.
Já expliquei como funciona o esquema de sacolas, já expliquei como funciona a revista corporal dos visitantes, mas, não expliquei como são as coisas lá, como dormem, como é o banheiro, como é o pátio; enfim, são tantas coisas que precisam ser ditas. Vamos lá!
Foto: Sidinei Brzuska
Esse é o pátio de uma galeria do Central, não consigo confirmar se é da galeria D, mas parece ser. Debaixo da marquise, ficam os presos que têm visitas. Os que não tem, ficam no meio do pátio, caminhando, jogando cartas, etc., faça chuva ou faça sol. É verdade, eles respeitam mais as pessoas quando estão presos. Aqueles que não recebem visita, seja naquele dia ou nunca, não se misturam, só se são solicitados. Eles, sequer, podem olhar para a área em que se encontram as visitas. Quando passamos por eles, eles têm que virar de costas ou abaixar a cabeça, se precisarem de alguma coisa, são obrigados a pedir licença e, outras regras que eles tem que cumprir.
Foto: Sidinei Brzuska
Chocante? Só posso dar um conselho, pois tenho experiência no que digo: se forem sentar com o seu familiar preso, debaixo da marquise, sente bem ao fundo. Pois, se alguém no 'segundo ou terceiro andar', decidir dar a descarga da privada (?!), você corre o risco de ser premiado com uma brisa refrescante com odor nada agradável, ou objeto voador não identificado. Como podem ver, a rede de esgoto, está em estado deplorável, mais um problema para anotarem no caderninho de reformas...
Depois dos momentos agradáveis com seus familiares, os presos voltam para suas celas, onde tranquilamente, podem dormir com mais 15 em suas celas luxo. Sim! Eles dormem de valete (expressão usada para explicar o modo como dormem), em seus maravilhosos vectras (expressão usada para designar os colchões), com travesseiros de pena de ganso. Ah!, e para quem não quer dividir seu vectra, existe a opção, cama aérea, para que o preso durma 'confortavelmente' e sem problemas de 'roedores indesejáveis' atrapalhando o sono e, é claro, sem problemas com umidade, muito frequentes no Condomínio Central.
Foto: Sidinei Brzuska - ao fundo, as famosas jegas (expressão usada para designar as camas), e mais acima, a cama tramada, na qual me referi anteriormente 'cama aérea'.
No mais, acho que conseguiram "apreciar" um pouco do que o Condomínio Central pode oferecer de melhor, que é ensinar o real sentido do ditado "a dor ensina a gemer". E, para fechar o post de hoje com chave de ouro, veremos a fotografia de um projeto de engenharia, arquitetado por eles mesmos, para que as infiltrações não caiam nas celas e, escoem para o pátio.
Foto: Sidinei Brzuska - e, como diriam algumas pessoas: "além de tudo, ainda têm que ser engenheiros!"
Depois das fotos, e dos fatos, gostaria que alguém me respondesse: Cadê a ressocialização? Porque, para mim, isso parece mais uma regressão. E, a pergunta que não quer calar: Cadê a dignidade?!
PRIVAR DA LIBERDADE SIM. DA DIGNIDADE, JAMAIS!
terça-feira, 3 de julho de 2012
O "peso da cadeia"...
Praticamente todos os dias, vemos/lemos/ouvimos, os meios de comunicação comentando a respeito das condições dos presídios, etc e todos os etc's possíveis. Mas, as pessoas só se revoltam, quando surge aquela notícia: "Governo gasta cerca 1.800 reais por mês com cada preso". Argumento falacioso dos governos que não sabem administrar suas casas prisionais e descarrega 'os encargos' nas costas do preso, que já cumpre sua pena em péssimas condições e além de ser visto como bandido pela sociedade, sai com fama de 'vagabundo que o povo sustenta e paga colchão'.
Agora, eu e mais centenas de pessoas que visitam presos por todo o Rio Grande do Sul, e carregam as sacolas, queremos saber, para onde (ou, para quem!), vai esse dinheiro. Sim, óbviamente queremos explicações; afinal, como a linguagem dos presos diz, "o peso da cadeia", quem sofre somos nós, os familiares.
Esse tal 'peso', está nas sacolas que levamos para eles e, gastamos nossos dinheiros suados, para oferecer o mínimo de dignidade ao cidadão, que era para estar passando por um processo de ressocialização e, não vivendo em condições subhumanas, como é na realidade.
Hoje, vou listar alguns itens, que podemos levar aos presos, para que assim, as pessoas parem de disseminar a velha mentirinha de que é o governo quem paga 'a estadia deles na cadeia'.
-Lista entregue ao familiar responsável pela sacola, no dia em que confecciona a carteirinha de acesso ao Presídio.
ATENÇÃO: Na sacola, deverão conter apenas 10 itens e todos, deverão vir acondicionados em embalagens transparentes.
Gêneros alimentícios: 1 óleo de soja, 1kg de tomate, 3 unid. de pimentão e 3 unid. de alho, 500gr de chuchu, 1kg de batata, 1kg de cebola, 1kg de arroz, 2kgs de açúcar cristal, 500gr de café em pó ou até 50gr. de Nescafé, 1 pote tamanho médio com comida pronta (sem maionese, sem molho, sem caldo, sem recheio), 1 sachê de maionese de 250gr., 500gr de lentilha,pão ou bolo (sem recheio ou cobertura), 500gr de bolacha (sem recheio), 500gr. de massa (exceto a massa canudo), 1 pote de 250gr. de margarina, 500gr de pastelina, 120gr. de suco em pó, até 2kgs de carne - salsicha, lingüiça, gado ou frango (não é permitida a entrada de carnes congeladas, com osso, porco e miúdos).
Obs.: Nos finais de semana, pode-se levar um tipo de doce, em um pote pequeno e transparente. (Barra de chocolate preto, sem castanhas ou flocos, até 250gr./ pudim sem calda/ pêssego sem calda/ salada de fruta, sem frutas cítricas e sem calda/ arroz de leite/ torta de bolacha de recheio simples/ flans ou mousses)
Itens diversos: 10 carteiras de cigarro e um isqueiro transparente, 1 prato + 1 colher + 1 copo - todos de material plástico, 10 fotografias de tamanho 15x10cm., 1 garrafa térmica de um litro sem pressão e desmontável, caderno sem aspiral e caneta transparente, 1 bomba de chimarrão chata e sem enfeites, 1 cortador de unhas pequeno e sem lixa, até 3 livros e/ou revistas com capa flexível ou jornal do dia sem as páginas dos classificados, 1 jogo de baralho, 1 caixa de coador de café ou 1 coador de café de tecido, 1 'rabo-quente', 1 espelho médio com armação de plástico, 5 peças de roupas, 1 toalha de rosto, 1 toalha de banho, 1 lençol sem elástico e 1 fronha, 1 par de tênis de solado baixo/flexível sem cadarços, 1 chinelo de solado baixo e flexível, 1 cobertor simples sem costuras laterais.
Material de higiene e limpeza: 1 shampoo de até 350ml e 1 pente plástico, 2 sabonetes e 2 rolos de papel higiênico, 1 aparelho de barbear descartável e 1 desodorante em creme, 1 gel dental - não pode ser branco nem vermelho- e uma escova dental simples, 1 litro de desinfetante, 500gr de sabão em pó, 500gr de sabão em barra - cortado ao meio e não pode ser de glicerina.
Outros materias como: ventilador, televisão, refrigerador e rádio, devem ser solicitados pelo apenado e, quando a solicitação estiver pronta e encaminhada ao setor de revista, o familiar deverá levá-los com a devida Nota Fiscal em nome do preso ou, munido de um Termo de Doação registrado em cartório.
Veja bem, como escolher apenas dez itens para levar, se todos eles são necessários?! Como posso levar apenas 1kg de arroz se ele vai dividir com quantas bocas estiverem com fome?! Como levar apenas dois rolos de papel higiênico, se eu visitá-lo somente uma vez por mês?! Não culpamos a BM, sabemos que as sacolas com 10 itens já são difíceis de revistar porque sempre falta efetivo e espaço físico e boa vontade dos governantes e todos os 'etecéteras' possíveis...
Foto: Sidinei Brzuska - revista das sacolas no Presídio Central de Porto Alegre.
Só quem já passou pela 'fila da sacola', sabe o peso que tem. Sabe o custo, sabe o suor e o sufoco que passamos para podermos comprar desde o material mais simples, até os alimentos, afinal, isso é sustentar 'duas casas'. Tudo que se leva para lá é especial, é diferente, chegam a indicar marcas de produtos que certamente não serão barrados na revista, por estarem dentro "das normas" estabelecidas. Esses dias, chegaram a estipular medidas para o pote que levamos alimentação.
Não sei se as pessoas conhecem a comida oferecida pelo governo maravilhoso, que gasta quase dois mil reais por mês com cada preso; mas, posso afirmar que ninguém teria coragem de comer se não estivesse com muita fome. Já provei. Não por estar necessitada e passando fome, Deus que me livre. Experimentei, para que meu companheiro não pensasse que tinha nojo daquele local, que eu era melhor que ele. Sempre fui muito companheira, no sentido literal e religioso da palavra - "... na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza...". Enfim, experimentei e, daquele dia em diante, dos dez itens que eu posso levar, sempre prezo a alimentação.
Foto: Sidinei Brzuska - comida destinada aos presos. Os presos que não têm visitas, recebem o alimento em sacos plásticos e comem com as mãos, já que o governo todo maravilhoso e intocável, não fornece recipientes e/ou utensílios.
Canso de ouvir as pessoas dizerem que os presos comem e bebem de graça. Isso mesmo, canso. Cansei. Será que alguém poderia falar-lhes que isto é uma grande falácia? Será que alguém poderia falar-lhes que nem a água está em condições de ser consumida?
Quisera eu, poder entrar na cabeça de cada homem que sorri, ao ver um semelhante, passando por uma situação dessas. Nem os animais tratamos com indiferença e, nem deveríamos mesmo. São vidas. Todos. Homens, animais, plantas. Se temos tanta compaixão com outras raças, porque não, com a nossa?!
Agora, eu e mais centenas de pessoas que visitam presos por todo o Rio Grande do Sul, e carregam as sacolas, queremos saber, para onde (ou, para quem!), vai esse dinheiro. Sim, óbviamente queremos explicações; afinal, como a linguagem dos presos diz, "o peso da cadeia", quem sofre somos nós, os familiares.
Esse tal 'peso', está nas sacolas que levamos para eles e, gastamos nossos dinheiros suados, para oferecer o mínimo de dignidade ao cidadão, que era para estar passando por um processo de ressocialização e, não vivendo em condições subhumanas, como é na realidade.
Hoje, vou listar alguns itens, que podemos levar aos presos, para que assim, as pessoas parem de disseminar a velha mentirinha de que é o governo quem paga 'a estadia deles na cadeia'.
-Lista entregue ao familiar responsável pela sacola, no dia em que confecciona a carteirinha de acesso ao Presídio.
ATENÇÃO: Na sacola, deverão conter apenas 10 itens e todos, deverão vir acondicionados em embalagens transparentes.
Gêneros alimentícios: 1 óleo de soja, 1kg de tomate, 3 unid. de pimentão e 3 unid. de alho, 500gr de chuchu, 1kg de batata, 1kg de cebola, 1kg de arroz, 2kgs de açúcar cristal, 500gr de café em pó ou até 50gr. de Nescafé, 1 pote tamanho médio com comida pronta (sem maionese, sem molho, sem caldo, sem recheio), 1 sachê de maionese de 250gr., 500gr de lentilha,pão ou bolo (sem recheio ou cobertura), 500gr de bolacha (sem recheio), 500gr. de massa (exceto a massa canudo), 1 pote de 250gr. de margarina, 500gr de pastelina, 120gr. de suco em pó, até 2kgs de carne - salsicha, lingüiça, gado ou frango (não é permitida a entrada de carnes congeladas, com osso, porco e miúdos).
Obs.: Nos finais de semana, pode-se levar um tipo de doce, em um pote pequeno e transparente. (Barra de chocolate preto, sem castanhas ou flocos, até 250gr./ pudim sem calda/ pêssego sem calda/ salada de fruta, sem frutas cítricas e sem calda/ arroz de leite/ torta de bolacha de recheio simples/ flans ou mousses)
Itens diversos: 10 carteiras de cigarro e um isqueiro transparente, 1 prato + 1 colher + 1 copo - todos de material plástico, 10 fotografias de tamanho 15x10cm., 1 garrafa térmica de um litro sem pressão e desmontável, caderno sem aspiral e caneta transparente, 1 bomba de chimarrão chata e sem enfeites, 1 cortador de unhas pequeno e sem lixa, até 3 livros e/ou revistas com capa flexível ou jornal do dia sem as páginas dos classificados, 1 jogo de baralho, 1 caixa de coador de café ou 1 coador de café de tecido, 1 'rabo-quente', 1 espelho médio com armação de plástico, 5 peças de roupas, 1 toalha de rosto, 1 toalha de banho, 1 lençol sem elástico e 1 fronha, 1 par de tênis de solado baixo/flexível sem cadarços, 1 chinelo de solado baixo e flexível, 1 cobertor simples sem costuras laterais.
Material de higiene e limpeza: 1 shampoo de até 350ml e 1 pente plástico, 2 sabonetes e 2 rolos de papel higiênico, 1 aparelho de barbear descartável e 1 desodorante em creme, 1 gel dental - não pode ser branco nem vermelho- e uma escova dental simples, 1 litro de desinfetante, 500gr de sabão em pó, 500gr de sabão em barra - cortado ao meio e não pode ser de glicerina.
Outros materias como: ventilador, televisão, refrigerador e rádio, devem ser solicitados pelo apenado e, quando a solicitação estiver pronta e encaminhada ao setor de revista, o familiar deverá levá-los com a devida Nota Fiscal em nome do preso ou, munido de um Termo de Doação registrado em cartório.
Veja bem, como escolher apenas dez itens para levar, se todos eles são necessários?! Como posso levar apenas 1kg de arroz se ele vai dividir com quantas bocas estiverem com fome?! Como levar apenas dois rolos de papel higiênico, se eu visitá-lo somente uma vez por mês?! Não culpamos a BM, sabemos que as sacolas com 10 itens já são difíceis de revistar porque sempre falta efetivo e espaço físico e boa vontade dos governantes e todos os 'etecéteras' possíveis...
Foto: Sidinei Brzuska - revista das sacolas no Presídio Central de Porto Alegre.
Só quem já passou pela 'fila da sacola', sabe o peso que tem. Sabe o custo, sabe o suor e o sufoco que passamos para podermos comprar desde o material mais simples, até os alimentos, afinal, isso é sustentar 'duas casas'. Tudo que se leva para lá é especial, é diferente, chegam a indicar marcas de produtos que certamente não serão barrados na revista, por estarem dentro "das normas" estabelecidas. Esses dias, chegaram a estipular medidas para o pote que levamos alimentação.
Não sei se as pessoas conhecem a comida oferecida pelo governo maravilhoso, que gasta quase dois mil reais por mês com cada preso; mas, posso afirmar que ninguém teria coragem de comer se não estivesse com muita fome. Já provei. Não por estar necessitada e passando fome, Deus que me livre. Experimentei, para que meu companheiro não pensasse que tinha nojo daquele local, que eu era melhor que ele. Sempre fui muito companheira, no sentido literal e religioso da palavra - "... na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza...". Enfim, experimentei e, daquele dia em diante, dos dez itens que eu posso levar, sempre prezo a alimentação.
Foto: Sidinei Brzuska - comida destinada aos presos. Os presos que não têm visitas, recebem o alimento em sacos plásticos e comem com as mãos, já que o governo todo maravilhoso e intocável, não fornece recipientes e/ou utensílios.
Canso de ouvir as pessoas dizerem que os presos comem e bebem de graça. Isso mesmo, canso. Cansei. Será que alguém poderia falar-lhes que isto é uma grande falácia? Será que alguém poderia falar-lhes que nem a água está em condições de ser consumida?
Quisera eu, poder entrar na cabeça de cada homem que sorri, ao ver um semelhante, passando por uma situação dessas. Nem os animais tratamos com indiferença e, nem deveríamos mesmo. São vidas. Todos. Homens, animais, plantas. Se temos tanta compaixão com outras raças, porque não, com a nossa?!
Além do preço alto de viver com o PRECONCEITO de ter um familiar preso, ainda temos que arcar com os custos que muitos têm a capacidade de dizer que O GOVERNO DÁ. Sabe o que o governo dá? Um tapa na cara da gente, que acredita na ressocialização, na superação e na capacidade de dar a volta por cima.
segunda-feira, 2 de julho de 2012
A Galeria D
Compartilho hoje, com vocês, um relato de como me sentia quando meu esposo encontrava-se na Galeria D do PCPA.
Terças e Sábados, os meus dias de visita. Nem preciso dizer que a primeira assistência foi uma choradeira só. (Primeira assistência, são quinze minutos que podemos conversar com o preso, em uma sala aberta, com mais pessoas e com a supervisão da Brigada Militar. Nesta mesma ocasião, podemos levar uma "sacola" contendo: pasta de dente, um rolo de papel higiênico, um sabonete, uma toalha de banho, um cobertor, 5 peças de roupa e um colchão. Posso ter esquecido de algum item, isso é detalhe.)
Depois do primeiro impacto, primeiro abalo emocional, primeira revista corporal, tudo tornou-se frio. Aquilo que assustava quando a gente via uma imagem nos jornais ou na televisão, passou a ser a realidade que eu teria que viver, por sei lá quanto tempo.
No início, queria sempre, ser a primeira a entrar, afinal, não queria deixar meu amor esperando um abraço. Dormia na fila, chegava em frente ao presídio por volta de 23hrs e sempre tinha gente lá, as chamadas veteranas; elas, eram mulheres que estavam 'enfrentando' a fila, há mais de 3 anos. Dormiam lá, para vender lugares. Dez reais por pessoa. Cada uma delas, umas 6 ou 7 mulheres, vendiam em média 8 lugares por dia, cada uma. Ou seja, mesmo madrugando, sempre tinha, quase 50 mulheres antes de mim na fila. (Hoje são distribuídas fichas individuais com identificação, não há mais venda de lugares).
Foto: Sidinei Brzuska - a fila em frente ao presídio.
Depois de passar frio ou calor, deitar no banco de concreto, uma noite em claro e a demora infinita, conseguia chegar até a sala de revista corporal. Uma sala com 12 cabines de concreto, abertas, uma bancada no centro, uma máquina detectora de metais e cerca de 4 soldadas da BM. Entram doze mulheres, largam seus calçados em uma bandeja que passará por uma máquina de raio-x, tiram suas roupas e as colocam em cima da bancada central, ficam apenas com a parte de baixo de suas roupas íntimas. Depois de passar por tudo isso, se não for selecionada para a revista corporal íntima - em que ficamos totalmente despidas, somos obrigadas a ficar de cócoras três vezes, para ver se não cai nada de nossa vagina e, se não estiverem contentes com a tua atuação, ainda colocam um espelho entre as tuas pernas e tu faz a "ginástica" novamente! -, como estava dizendo, depois de tudo isso, pegamos a nossa sacola (itens de alimentação, higiene e vestuário que podemos levar ao preso), na janela do empurra- empurra.
Foto: Sidinei Brzuska - revista das sacolas, e ao fundo, a "janela do empurra-empura".
"Respira fundo!" - pensava todas as vezes que estava entrando no PCPA. Inúmeras vezes, chorei todo o percurso percorrido até chegar ao portão da Galeria D. Pensava na vida, pensava em como eu poderia ter evitado a prisão dele, em tudo o que se possa imaginar.
Madrugada, fila, revista e, quando já estava próxima, o coração batia mais forte. Estremecia, será que iria aguentar? Cada passo naquele piso crú, úmido, cada braçada naquelas paredes frias, mofadas, cada barulho ou rangido estridente daquelas grades torturadoras, me faziam pensar duas vezes antes de chegar até ele. "N.R."*, gritava o rapaz. E, tudo o que ficou para trás, se perdia, quando via aquele sorriso, na esperança de me abraçar aqui. Do lado de cá.
Nem chegava a reparar na sujeira, na estrutura corroída pelo tempo, nem o tamanho das armas que os soldados da BM utilizavam. Só tinha olhos para ele. E, toda vez que "o portão gritava" que estava na hora das visitas se despedirem, voltava o aperto no coração. Parecia uma mãe, deixando o filho na creche e saindo apreensiva para o trabalho, querendo saber a todo instante, como ele está.
Foto: Sidinei Brzuska - esta, em especial, consigo enxergar todo o vazio que se aloja no Central, mesmo com 5.000 homens presos.
*N.R. são as iniciais do nome do meu esposo.
Terças e Sábados, os meus dias de visita. Nem preciso dizer que a primeira assistência foi uma choradeira só. (Primeira assistência, são quinze minutos que podemos conversar com o preso, em uma sala aberta, com mais pessoas e com a supervisão da Brigada Militar. Nesta mesma ocasião, podemos levar uma "sacola" contendo: pasta de dente, um rolo de papel higiênico, um sabonete, uma toalha de banho, um cobertor, 5 peças de roupa e um colchão. Posso ter esquecido de algum item, isso é detalhe.)
Depois do primeiro impacto, primeiro abalo emocional, primeira revista corporal, tudo tornou-se frio. Aquilo que assustava quando a gente via uma imagem nos jornais ou na televisão, passou a ser a realidade que eu teria que viver, por sei lá quanto tempo.
No início, queria sempre, ser a primeira a entrar, afinal, não queria deixar meu amor esperando um abraço. Dormia na fila, chegava em frente ao presídio por volta de 23hrs e sempre tinha gente lá, as chamadas veteranas; elas, eram mulheres que estavam 'enfrentando' a fila, há mais de 3 anos. Dormiam lá, para vender lugares. Dez reais por pessoa. Cada uma delas, umas 6 ou 7 mulheres, vendiam em média 8 lugares por dia, cada uma. Ou seja, mesmo madrugando, sempre tinha, quase 50 mulheres antes de mim na fila. (Hoje são distribuídas fichas individuais com identificação, não há mais venda de lugares).
Foto: Sidinei Brzuska - a fila em frente ao presídio.
Depois de passar frio ou calor, deitar no banco de concreto, uma noite em claro e a demora infinita, conseguia chegar até a sala de revista corporal. Uma sala com 12 cabines de concreto, abertas, uma bancada no centro, uma máquina detectora de metais e cerca de 4 soldadas da BM. Entram doze mulheres, largam seus calçados em uma bandeja que passará por uma máquina de raio-x, tiram suas roupas e as colocam em cima da bancada central, ficam apenas com a parte de baixo de suas roupas íntimas. Depois de passar por tudo isso, se não for selecionada para a revista corporal íntima - em que ficamos totalmente despidas, somos obrigadas a ficar de cócoras três vezes, para ver se não cai nada de nossa vagina e, se não estiverem contentes com a tua atuação, ainda colocam um espelho entre as tuas pernas e tu faz a "ginástica" novamente! -, como estava dizendo, depois de tudo isso, pegamos a nossa sacola (itens de alimentação, higiene e vestuário que podemos levar ao preso), na janela do empurra- empurra.
Foto: Sidinei Brzuska - revista das sacolas, e ao fundo, a "janela do empurra-empura".
"Respira fundo!" - pensava todas as vezes que estava entrando no PCPA. Inúmeras vezes, chorei todo o percurso percorrido até chegar ao portão da Galeria D. Pensava na vida, pensava em como eu poderia ter evitado a prisão dele, em tudo o que se possa imaginar.
Madrugada, fila, revista e, quando já estava próxima, o coração batia mais forte. Estremecia, será que iria aguentar? Cada passo naquele piso crú, úmido, cada braçada naquelas paredes frias, mofadas, cada barulho ou rangido estridente daquelas grades torturadoras, me faziam pensar duas vezes antes de chegar até ele. "N.R."*, gritava o rapaz. E, tudo o que ficou para trás, se perdia, quando via aquele sorriso, na esperança de me abraçar aqui. Do lado de cá.
Nem chegava a reparar na sujeira, na estrutura corroída pelo tempo, nem o tamanho das armas que os soldados da BM utilizavam. Só tinha olhos para ele. E, toda vez que "o portão gritava" que estava na hora das visitas se despedirem, voltava o aperto no coração. Parecia uma mãe, deixando o filho na creche e saindo apreensiva para o trabalho, querendo saber a todo instante, como ele está.
Foto: Sidinei Brzuska - esta, em especial, consigo enxergar todo o vazio que se aloja no Central, mesmo com 5.000 homens presos.
*N.R. são as iniciais do nome do meu esposo.
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